Revista Exame

É tempo de arrumar a casa em algumas das maiores empresas do Brasil

Dados de MELHORES E MAIORES mostram que as maiores empresas do país perderam patrimônio nos últimos anos. Mas isso não é tão ruim quanto parece

Mina da Vale no Pará: a empresa busca uma estrutura mais enxuta para focar os negócios mais rentáveis | Paulo Fridman/Pulsar Imagens

Mina da Vale no Pará: a empresa busca uma estrutura mais enxuta para focar os negócios mais rentáveis | Paulo Fridman/Pulsar Imagens

DR

Da Redação

Publicado em 15 de agosto de 2019 às 05h46.

Última atualização em 15 de agosto de 2019 às 10h41.

Em termos contábeis, o patrimônio líquido é a diferença entre o ativo e o passivo de uma empresa, ou seja, entre os bens e direitos que ela possui e suas obrigações. Na prática, o patrimônio líquido representa a riqueza de uma organização — os recursos que ela detém, descontadas as contas a pagar. A lógica natural da maioria das empresas é trabalhar quase obsessivamente para fazer seu patrimônio crescer, mas nem sempre esse é o caminho mais saudável. Às vezes é necessário recuar, reduzir o patrimônio e ganhar fôlego para voltar a acumular riqueza mais à frente. É esse o movimento que se observa em algumas das maiores empresas por patrimônio líquido do Brasil.

Em conjunto, as dez maiores do país nesse indicador tiveram uma perda líquida de 67 bilhões de dólares em patrimônio desde o início da década. A fatia mais substancial desse montante refere-se à Petrobras, cujo patrimônio encolheu de 133 bilhões de dólares, em 2011, para 75 bilhões, no ano passado — redução de 44%. No mesmo período, o patrimônio da mineradora Vale diminuiu de 57 bilhões de dólares para 45 bilhões, ou 21% menos. Os dados são de MELHORES E MAIORES 2019, edição especial de EXAME que chegará às bancas na última semana de agosto.

Na Petrobras, a redução do patrimônio é um efeito de seu programa de desinvestimento, que prevê a venda de ativos não estratégicos e o direcionamento dos negócios para o que a gestão da estatal estabeleceu como prioritário, como a exploração e a produção de petróleo do pré-sal. Nos últimos anos, a Petrobras vinha sofrendo com o crescente endividamento. No terceiro trimestre de 2015, sua dívida bruta atingiu o recorde de 506 bilhões de reais, o que resultou na perda do grau de investimento. Aos poucos, a situação melhorou.

Neste ano, a venda de 30% da BR Distribuidora, em julho, por 8,6 bilhões de reais, e de 90% das ações da empresa de transporte de gás natural Tag, por 33 bilhões, reforçou a nova estratégia. No radar da estatal também está um programa de venda de oito refinarias e de 51% de participação na Gaspetro, uma companhia com rede distribuidora de gás natural e da qual a japonesa Mitsui já tem 49% do capital. Os recursos levantados nessas operações vão contribuir para reduzir a dívida e, consequentemente, liberar a Petrobras para investir em projetos de maior rentabilidade, garantindo um futuro mais sustentável. “Queremos uma empresa mais forte, com foco em ativos de alto retorno”, disse Roberto Castello Branco, presidente da Petrobras, na entrevista em que comentou os resultados do segundo trimestre.

Para o analista Luiz Caetano, da corretora Planner, a Petrobras está no caminho certo. “Se no passado recente os desinvestimentos foram necessários para pagar dívidas, hoje esse movimento tem um foco estratégico, para a companhia direcionar os investimentos ao negócio em que tem maior expertise e maior taxa de retorno, que é a exploração de petróleo”, diz Caetano. Ele observa que a mineradora Vale vem seguindo um caminho parecido.

A empresa iniciou um programa de desinvestimentos em 2018, após o desaquecimento do mercado de matérias-primas no mundo. “Depois de anos de forte alta dos preços das commodities, a Vale teve uma queda acentuada de rentabilidade e escolheu priorizar o minério de ferro, o níquel e o cobre”, diz Caetano. “A companhia se desfez de várias atividades não relacionadas a esses negócios e vendeu também grande parte da frota de navios.” Com tudo isso, a dívida líquida da mineradora, que passava de 25 bilhões de dólares em 2015, caiu para menos de 10 bilhões no ano passado. “A estrutura da Vale ficou mais enxuta e rentável, com uma situação financeira sólida para fazer frente a momentos mais delicados”, afirma Sabrina Cassiano, analista de investimentos da corretora Coinvalores.

Enquanto algumas empresas fazem o recuo estratégico, outras continuam avançando. A operadora espanhola Telefônica, dona do terceiro maior patrimônio líquido do Brasil, aumentou a riqueza em cerca de 2 bilhões de dólares desde o início da década. O crescimento, segundo a empresa, ocorreu em razão de um aumento de capital, realizado em 2015, com o objetivo de levantar recursos para a aquisição da operadora GVT. Para manter o crescimento sustentável, uma das apostas da Telefônica é o investimento em tecnologia e serviços, como a quinta geração de internet móvel, e em novas aquisições. As operadoras Copel Telecom e Sercomtel, ambas do Paraná, estão na mira da Telefônica. “Baseamos nosso planejamento na expansão orgânica da operação, mas estamos atentos a oportunidades que agreguem valor à nossa estratégia de negócio”, diz David Melcon, vice-presidente de finanças da Telefônica.

Acompanhe tudo sobre:economia-brasileiraMelhores e Maiores

Mais de Revista Exame

Borgonha 2024: a safra mais desafiadora e inesquecível da década

Maior mercado do Brasil, São Paulo mostra resiliência com alta renda e vislumbra retomada do centro

Entre luxo e baixa renda, classe média perde espaço no mercado imobiliário

A super onda do imóvel popular: como o MCMV vem impulsionando as construtoras de baixa renda