Revista Exame

Sucesso da “Netflix fitness” mostra o potencial da ginástica em casa

O crescimento da startup Peloton na pandemia é sinal de que queimar calorias sem pôr o pé na rua é novamente uma tendência

Peloton: a bike da marca virou referência para setor (Peloton/Divulgação)

Peloton: a bike da marca virou referência para setor (Peloton/Divulgação)

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Daniel Salles

Publicado em 22 de outubro de 2020 às 05h27.

O que os americanos mais compraram assim que a quarentena se mostrou inevitável? Papel higiênico, carnes e bikes da Peloton. É uma piada, claro. A brincadeira se deve à explosão das vendas, durante a pandemia, da startup criada em 2012 por John Foley, que foi CEO da livraria Barnes & Noble — e deve estar rindo à toa. Suas bicicletas são voltadas para a prática de spinning. Cansaço? Estafa? Burnout? Faça da pandemia uma oportunidade de reset mental.

Por 2.245 dólares cada uma, são equipadas com uma tela touch­screen de 21,5 polegadas com conexão Wi-Fi. É o que torna as pedaladas mais divertidas; e a startup, mais rentável. Para ter acesso à plataforma da Peloton, que lista uma infinidade de aulas gravadas por professores tanto de spinning quanto de corrida, musculação, alongamento, ioga e até meditação, é preciso desembolsar 12,99 dólares por mês.

Daí o apelido da startup — “Netflix fitness”. Por falar nisso, as telas da Peloton, que também fabrica esteiras de corrida, além de acessórios e vestimentas, são incompatíveis com outros apps (pelo menos oficialmente). Nada de seriado, portanto, enquanto as calorias vão embora.

Os compradores dos equipamentos parecem não ligar. No último trimestre, a companhia informou ter faturado 607 milhões de dólares, o que corresponde a um crescimento de 15% — ou de 172%, se considerado o mesmo período de 2019, quando ela estreou nas bolsas. Já o número de cadastrados no app cresceu 23%, totalizando 1,09 milhão — mais que o dobro do ano passado.

Os números foram divulgados em setembro, quando a Peloton encerrou seu ano fiscal. Tudo somado, ela fechou 2020 com um faturamento de 1,8 bilhão de dólares, o dobro do ano passado. Outros dados que impressionam: seu app tem uma taxa de abandono de 0,52% e suas aulas foram vistas 164 milhões de vezes neste ano, o triplo de 2019. Richard Branson, Jimmy Fallon e até os Obamas seriam alguns dos entusiastas.

Para ganhar ainda mais musculatura, a startup lançou em setembro mais uma bike, por 2.495 dólares, e baixou o preço da antiga para 1.895 dólares (por ora, a marca só tem representantes na América do Norte e na Europa). O novo modelo dispõe de uma tela de 24 polegadas e sistema de som mais potente.

Studio da Peloton em Nova York, fechado na quarentena (Divulgação/Divulgação)

Favorecido pela pandemia por motivos óbvios, o encorpado crescimento da Peloton sugere que queimar calorias sem sair de casa é novamente uma tendência — quem nunca viu um daqueles vídeos da atriz Jane Fonda ensinando ginástica, dos anos 1980? Trata-se de uma tendência à qual até as academias, fechadas durante longas semanas, precisaram se curvar.

Com 30 unidades, a Bio Ritmo alugou para os alunos 500 bikes de spinning — as mais em conta custam 399 reais por mês — e apostou em aulas virtuais, que custam 14,90 para não associados. Quinta maior rede do mundo em número de clientes, a Smart Fit, dona da Bio Ritmo, lançou na quarentena o site Treine em Casa, que agrupa aulas de mais de 20 modalidades.

Gratuita até para quem não é cliente do grupo, a plataforma registrou 23 milhões de visitantes únicos nos primeiros quatro meses. “A gente não poderia deixar nossos clientes desatendidos”, diz André Pezeta, vice-presidente da rede.

    Registre-se que nenhuma Smart Fit do país fechou as portas em definitivo e que a maioria já voltou à ativa — ao todo são 856 academias, espalhadas em 12 países da América Latina. Era de esperar, no entanto, alguma debandada. Se em julho eram 2,63 milhões de alunos, hoje são 2,57 milhões, uma queda de cerca de 60.000 só em dois meses.

    “A frequência está crescendo e já retomamos nosso plano de crescimento”, Pezeta se apressa em dizer. No novo normal, segundo ele, as pessoas não vão dar adeus à academia para suar a camisa exclusivamente em casa. “Acredito num cenário híbrido, no qual os treinos domésticos funcionarão apenas como um complemento”, emenda. E aproveita para dizer que as academias da Europa já registram uma frequência 95% similar à de antes da pandemia — o mesmo dado relacionado à Smart Fit é mantido em sigilo.

    (Divulgação/Divulgação)

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