(Arte/Exame)
Publicado em 20 de abril de 2023 às 06h00.
Última atualização em 20 de abril de 2023 às 17h06.
A quebra do banco americano Silicon Valley Bank, em março, com empreendedores correndo para sacar recursos de uma instituição conhecida dentro e fora do Vale do Silício, foi a ponta do iceberg de uma crise fermentada havia meses em startups ao redor do planeta. O crédito para elas ficou caro demais em meio à escalada de juros promovida por bancos centrais para dar conta de uma inflação no patamar mais alto em 40 anos.
O cenário macro prejudicou quase todas as métricas de investidores e empreendedores — uma crise já apelidada de “inverno das startups”. Depois de bater recordes entre 2021 e 2022, o número de novos aportes em startups no mundo caiu para patamares entre os mais baixos da história. O tíquete médio dos aportes em startups late stage, quando a empresa já tem um porte considerável, é hoje 30% inferior à média de 2019. Tudo isso derrubou o ritmo de criação de unicórnios, empresas de tecnologia com avaliação acima de 1 bilhão de dólares. Em 2022, só duas empresas brasileiras viraram unicórnios — o banco Neon e a empresa de infraestrutura Dock. No ano anterior, foram dez. Em 2023, nenhuma startup chegou lá.
Há quem veja no “inverno” o momento ideal para investir. Em abril, o fundo Kaszek, cujo portfólio tem empresas como Creditas e Gympass, anunciou a captação de quase 1 bilhão de dólares para dois novos fundos para negócios da América Latina. “Queríamos garantir que não ficaríamos sem capital para atender o apetite de quem quer alocar recursos no potencial da região”, diz Hernan Kazah, um dos fundadores da Kaszek, à EXAME. Para quem atua por aqui e está acostumado às intempéries da macroeconomia do Brasil, a crise global deve respingar menos aqui do que em mercados desenvolvidos, como Estados Unidos e Europa. “Os principais investidores da Kaszek já têm familiaridade com os cenários de turbulências da região e do Brasil, já que a realidade aqui nunca foi linear, então para eles não é nenhuma surpresa”, diz.
É um momento de mudança que pode transformar para sempre a própria indústria de venture capital, que nos últimos anos mirou muito empresas com capacidade de crescer, deixando a sustentabilidade em segundo plano. Agora há menos brecha para erros na execução da estratégia com potencial de jogar no lixo o dinheiro aplicado. A consequência disso está na formação de um seleto grupo de empresas que, hábeis na gestão de processos e de times, estão conseguindo triunfar, mesmo num momento difícil para o mercado. Elas têm conseguido atravessar o período sem promover demissões em massa e, em alguns casos, até levantando mais recursos. Leia as histórias — e as lições — de cinco delas nas próximas páginas.
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