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Startup busca lucro vendendo alimentos em favelas

Uma empresa chilena criou uma máquina de venda que promete mudar a distribuição de comida em áreas pobres — com a tecnologia, o preço chegou a cair 40%

José Manuel Moller: “Queremos uma mudança em escala global” (Divulgação)

José Manuel Moller: “Queremos uma mudança em escala global” (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 8 de abril de 2015 às 18h08.

São Paulo -- Em 2011, o chileno José Manuel Moller, então com 22 anos, estudava administração em uma universi­dade de Santiago, capital do Chile, quando decidiu, junto com quatro amigos, mudar-se para La Granja, um bairro pobre na região metropolitana da cidade. Não foram só alguns colegas que estranharam. “Quando chegamos, os vizinhos pensaram que éramos policiais”, lembra Moller.

O objetivo era “compreender a realidade que estudava em números na faculdade”. Começava ali a experiência que levaria Moller a ser o único latino-americano a entrar para a lista dos empreendedores mais inovadores da revista americana Fast Company.

Dos cinco jovens, Moller era o responsável por comprar os alimentos da casa. E não demorou para que ele percebesse que estava gastando muito mais do que de costume. Nos bairros mais pobres de Santiago, a população costuma fazer as compras em armazéns. Os motivos para essa predileção variam.

Em muitas comunidades não há supermercados por perto, e nem todos têm carro para ir até eles. “Na base da pirâmide social, muita gente recebe o salário por dia ou semana. Por isso, as compras são feitas também diariamente”, diz Luis Saez, professor de economia da Universidade de Santiago de Chile.

Diante dessa realidade, Moller decidiu criar a Algramo, startup que se propõe a baixar o preço de produtos alimentícios, como arroz, feijão, lentilha e grão-de-bico.

Os pequenos comércios não têm espaço para estocar? A Algramo tem. Não têm escala? A Algramo tem. A empresa compra grandes quantidades diretamente de produtores, coloca a comida em máquinas de autosserviço, similares às usadas para latas de refrigerante, faz parceria com os donos de armazéns e consegue vender a um preço menor.

“De modo geral, o valor dos produtos da Algramo é 40% mais baixo”, diz Rosa Miranda, dona do armazém Primavera, no bairro Recoleta, em Santiago. Ao todo, a Algramo está em 200 armazéns de Santiago. “Somos uma empresa com uma missão social, mas estamos longe de ser uma fundação. Queremos o lucro”, avisa Moller.

À primeira vista, a experiência chilena parece contradizer a lógica eco­nômi­ca. O Walmart tornou-se o maior varejista do mundo porque seu fundador, Sam Walton, soube usar sua força na mesa de negociação com os pro­duto­res. A competição por preço baixo nos grandes varejistas americanos é tida como uma das causas da manutenção da infla­ção em níveis baixos desde os anos 90.

Mas, por estarem longe dos hipermercados, os moradores dos bairros mais pobres não se beneficiam desse fe­nômeno. Isso é verdade na capital chilena e também nas grandes metrópoles brasileiras. Segundo estimativa da empresa de pesquisa Nielsen, os preços cobrados em pequenos comércios no Brasil são, em geral, 10% mais altos.

“Os donos de armazém não negociam com grandes fa­bricantes. Eles costumam comprar suas mercadorias em atacadistas”, afirma André Braz, coordenador adjunto do Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro.

Ciente disso, Moller planeja desembarcar com a Algramo por aqui. Neste ano, o plano é ex­pandir para outras cidades do Chile, além de Colômbia e Peru. Para 2016, as metas são Brasil e México.

O modelo de negócios é interessante. O dono do armazém paga o equivalente a 90 reais mensais de aluguel pela máquina e fica com 30% do valor da venda. “Hoje, a Algramo opera com o dinheiro dos investimentos, mas, a partir do momento em que tivermos 350 máquinas, conseguiremos operar no azul”, promete Moller. Atualmente, a empresa tem 200.

Em setembro, a Algramo passou pela primeira rodada de investimentos e recebeu 180 000 dólares. Para continuar a expansão, o objetivo é conseguir 1 milhão de dólares numa nova rodada, ainda em 2015.

Como todo empreendedor de start­up, Moller quer ir longe. “Vamos mudar o mercado tradicional de produtos básicos em escala global”, afirma. As barreiras no caminho da empresa não são nada singelas. A primeira é conseguir o dinheiro para a expansão.

Se o crescimento em países maiores se materializar, os custos de distribuição deverão aumentar. Isso sem contar que grandes varejistas podem começar a explorar esse mercado. Mas nada tem tirado o sono de Moller. Há quatro anos, ele chegou a La Granja sem nada. Hoje, tem um grande sonho.

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