Revista Exame

“Unicornissauro”: L'Oréal coloca seu modelo à prova para fazer da Aesop uma marca bilionária

O CEO global da L’Oréal fala da estratégia de unir a força da tradição com a agilidade de uma startup

Cria da casa: desde 1987 na L’Oréal, Nicolas Hieronimus assumiu a liderança em maio de 2021 (Marcio Mercante/Exame)

Cria da casa: desde 1987 na L’Oréal, Nicolas Hieronimus assumiu a liderança em maio de 2021 (Marcio Mercante/Exame)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 25 de maio de 2023 às 05h59.

Última atualização em 25 de maio de 2023 às 07h18.

Presidente da L’Oréal desde maio de 2021, Nicolas Hieronimus fechou em abril deste ano a maior aquisição da companhia ao comprar a Aesop da Natura &Co. À EXAME, ele detalha os planos para o novo negócio.

As vendas da L’Oréal cresceram 13% no primeiro trimestre deste ano, mesmo com um ambiente macroeconômico global complexo. O que explica os bons números?

Crescemos 1,8 vez o mercado em 2022 e seguimos assim no começo deste ano. Isso comprova a força do nosso modelo. A receita do sucesso soma alguns fatores. Gastamos todos os anos 1 bilhão de euros em pesquisa e desenvolvimento. Criar produtos melhores nos ajuda a vender mais. Outro ponto é nossa frente digital. O e-commerce já representa 28% das vendas globais. Muito é herança das mudanças de hábitos na pandemia. Saímos na frente porque começamos a desenvolver nosso e-commerce e suas ferramentas há uma década.

E como é comandar a empresa em um momento como este?

Meu papel é garantir que a empresa vá na direção correta e saiba aproveitar. Precisamos ser cuidadosos, como fomos na pandemia, mas também rápidos para identificar para onde ir ou em que países investir mais. Costumo dizer que a L’Oréal é um “unicornissauro”: uma mistura de tiranossauro rex, com a força de seus 114 anos, com a agilidade de uma startup.

Vocês foram ágeis e aproveitaram a oportunidade de comprar a Aesop, que tinha outras interessadas. Quais são os planos para a marca?

Nossa estratégia é sempre comprar alguma marca que seja complementar ao portfólio. Com a força global de distribuição, tornamos a marca mundial. A última aquisição tinha sido a CeraVe, excelente em cuidados com a pele. Em cinco anos nós multiplicamos suas vendas por 10. A Aesop é uma bela marca de luxo e pioneira em várias demandas de beleza que estão em ascensão. É unissex, por exemplo, o que dobra seu público-alvo. Ela é luxuosa, trabalha o bem-estar e as sensações. Suas lojas são referência na experiência do consumidor. É uma marca de 500 milhões de dólares, mas queremos que se torne uma marca bilionária, seja em dólares, seja em euros.

Um aposta com a Aesop é o mercado chinês, certo?

Há um potencial enorme. Hoje são duas lojas por lá, mas elas são superbem-sucedidas e o público chinês ama a marca. Estamos no país há 25 anos e temos muitas marcas de luxo, somando 15% do mercado, o dobro do segundo maior concorrente. Mas também vejo outras engrenagens de crescimento, como o segmento de travel retail [vendas em duty free], além de muito potencial na América do Norte e, talvez, no Brasil, onde só há uma loja. O e-commerce também pode melhorar.

É sua primeira viagem ao Brasil como CEO da L’Oréal. Como o país está posicionado dentro da estratégia do grupo?

Os países emergentes contribuem cada vez mais para o resultado. Em 2022, 24% do aumento das vendas veio desses países. O Brasil, em especial, é o quarto maior mercado de beleza do mundo, então é importantíssimo,e ainda temos onde crescer aqui. Mas, mais do que tudo, o Brasil é um país muito diverso. Dos oito tipos de cabelo que identificamos mundialmente em pesquisas, o país tem todos. Dos 66 tons de pele, são 55 identificados. Então, além de ser um país de crescimento, é um mercado que estimula nossa capacidade de inovação.

Essa inovação passa também por investimentos socioambientais no país?

É como um combustível para o crescimento. Recentemente, o Fundo L’Oréal anunciou aporte para regenerar 2.000 hectares de floresta na Amazônia. Investimos na neutralização de carbono, na transformação de resíduos em biodegradáveis e na seleção de fornecedores de comunidades em vulnerabilidade, gerando empregos. Temos, por exemplo, as guardiãs do babaçu, no Norte do país, ingrediente para a máscara de tratamento da Kérastase. Também compramos carnaúba e temos as iniciativas do Fundo L’Oréal para mulheres indígenas, que hoje tem mais de 1.700 beneficiárias e 14 comunidades indígenas atendidas.

Acompanhe tudo sobre:L'Oréal

Mais de Revista Exame

Borgonha 2024: a safra mais desafiadora e inesquecível da década

Maior mercado do Brasil, São Paulo mostra resiliência com alta renda e vislumbra retomada do centro

Entre luxo e baixa renda, classe média perde espaço no mercado imobiliário

A super onda do imóvel popular: como o MCMV vem impulsionando as construtoras de baixa renda