Paulo de Camargo, consultor de gestão educacional: "Pensar bem requer gosto pelo bem pensar, experiência de vida e, sim, conhecimento. Não se constrói competência sobre o vazio: é preciso haver conteúdo, fundamento" (Arquivo pessoal/Divulgação)
Redação Exame
Publicado em 25 de setembro de 2025 às 21h59.
Quais são as principais competências demandadas no mundo do trabalho em 2025? O último relatório do Fórum Econômico Global aponta as cinco principais: pensamento crítico; em seguida, resiliência combinada com flexibilidade e agilidade; no meio, sentido de liderança e influência social; em quarto, pensamento criativo; e, em quinto, motivação e autoconsciência.
É uma lista que desafia os adultos a buscar em si mesmos aspectos pessoais nem sempre cultivados. Quando deveriam ter aprendido? Todos lembrarão da escola básica — mas poucos, da universidade.
A Base Nacional Comum Curricular coincide com a relação do Fórum ao elencar dez competências centrais: lá estão, por exemplo, pensamento crítico, criatividade, autoconhecimento. Nos sistemas educacionais mundo afora, há mais de 300 nomenclaturas para as chamadas soft skills.
O tema se tornou central na educação, embora ainda engatinhe nas formas pelas quais se materializa. Por muitos anos, as universidades deram de ombros para o tema, mas agora sofrem exatamente os efeitos dessa miopia, formando jovens que não se adequam às reais demandas do mundo do trabalho.
Mas, o que vêm a ser as tais soft skills? A ideia não nasceu agora. Na década de 1960, surgiram os primeiros registros do termo, em manuais militares americanos, em contraposição às hard skills.
Por hard skills entendiam-se as habilidades técnicas, ligadas ao conteúdo aplicável. Por soft skills, aquelas vinculadas ao desenvolvimento emocional. Saber fazer contas, hard skills. Ter o controle emocional para passar por uma prova de matemática sem se perder no pânico, soft skills.
A maior parte das competências não foi inventada agora, mas sua relevância varia conforme o contexto. Na sociedade industrial, por exemplo, ser criativo não era tão importante assim. Era melhor saber fazer bem aquilo que estava no manual.
Hoje, a criatividade está na ordem do dia. Algumas competências, no entanto, surgem como invariantes, e é nessas que devemos prestar mais atenção. No topo de toda listagem, sempre estará o pensamento crítico, que acompanha a humanidade pelo menos desde a Grécia Antiga.
Pensar criticamente não é um dom inato. Demanda repertório, capacidade de entender onde estão os paradoxos e as incongruências, estabelecer cadeias lógicas extensas, entender pontos de vista, saber ouvir. Pensar bem requer gosto pelo bem pensar, experiência de vida e, sim, conhecimento. Não se constrói competência sobre o vazio: é preciso haver conteúdo, fundamento.
É no tema das soft skills que se encontram educação e mundo produtivo. Escolas de educação básica não devem se tornar um preparatório para profissões que talvez nem venham mais a existir. Mas, sim, devem preparar jovens para a existência de verdade, dotados de capacidades que tornam as pessoas melhores na vida real, seja lá o que vierem a fazer.
Da mesma forma, o ensino superior deve dar total centralidade ao desafio: pegar o bastão e levá-lo mais longe, pois a sociedade do século 21 requer o que a Unesco já definiu como os quatro saberes fundamentais: saber conhecer, fazer, conviver, ser.
Só assim será possível produzir uma formação que não se encerra nunca. Em um mundo em que as pessoas estão, para o bem ou para o mal, destinadas a aprender por quanto tempo viverem, precisamos estar prontos para transformações que hoje não somos nem sequer capazes de imaginar.