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Em MBA, tradição não basta para atrair alunos

Após um período de baixa, a busca pelos mais renomados MBAs do mundo volta a crescer. Mas a exceção — a centenária Wharton — mostra que só história não serve para manter a atração de alunos


	Wharton, na Filadélfia: em cinco anos, queda de 17% nas inscrições do MBA
 (Divulgação)

Wharton, na Filadélfia: em cinco anos, queda de 17% nas inscrições do MBA (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 7 de novembro de 2013 às 07h33.

São Paulo - Pela primeira vez em quatro anos, a busca pelos principais programas de MBA do mundo voltou a crescer. Mais da metade dos cursos registrou crescimento nas inscrições, segundo um estudo do instituto GMAC com 328 escolas de negócios em 42 países.

Nos Estados Unidos, onde se concentram os mais renomados, o volume de candidatos nos cursos de dois anos de duração aumentou 5% em 2013. A notícia traz certo alívio para as universidades, que recentemente viraram alvo de pesadas críticas. Os ataques se concentravam sobretudo aos currículos, tidos como teóricos demais.

A crise de 2008 atingiu duramente os cursos de MBA, que chegam a custar 90 000 dólares por ano. De 2010 a 2012, o número de candidatos inscritos no centenário MBA da Universidade Harvard — o mais prestigiado, de acordo com o ranking do jornal britânico Financial Times — caiu 10%.

Na última temporada de inscrições, encerrada em setembro, a demanda voltou a aumentar, com alta de 3,9%. O mesmo aconteceu nas universidades Stanford e Colúmbia. A única a não acompanhar o ritmo foi a mais antiga escola de administração dos Estados Unidos, Wharton, na Filadélfia, fundada em 1881, que teve uma queda de 5,8% nas inscrições em 2013. O tombo acumulado nos últimos cinco anos foi de 17%. 

Segundo os críticos, a escola sofreu com o que um dia foi seu maior atrativo — ter formado os principais figurões do centro financeiro Wall Street. Com a debacle financeira de 2008, os banqueiros viraram vilões. Além do arranhão na imagem da escola, há uma questão objetiva: nos últimos cinco anos, 344 000 postos de trabalho na área financeira foram fechados nos Estados Unidos.

Wharton teria mudado pouco para conseguir se adaptar ao novo perfil de candidato à educação executiva. “Hoje o aluno busca uma bagagem maior para o empreendedorismo e mais exposição a diferentes culturas”, diz David Garvin, professor de Harvard e autor do livro Rethinking the MBA (“Repensando o MBA”, sem versão para o português).

As que se deram melhor fizeram uma mudança radical em seus currículos. Stanford foi uma das primeiras. Desde 2007, apenas no primeiro trimestre há aulas obrigatórias. No restante do curso, cada estudante monta o próprio currículo. Em Yale, o currículo foi ­reestruturado de modo multidisciplinar.


Em vez de ter curso de finanças, por exemplo, o aluno assiste a aulas sobre o investidor e o consumidor — e aprende princípios de finanças em cada aula sob perspectivas diferentes. Nenhum currículo sofreu uma reviravolta tão grande como o da tradicional Harvard.

Há dois anos os alunos têm de criar um produto ou serviço para uma empresa de um país emergente. Para se formar é preciso até lançar uma empresa que possa gerar receita antes do fim do curso. Wharton não ficou parada. Mas está longe de ter acompanhado o ritmo das concorrentes.

Desde 2012, o aluno pode escolher aulas com abordagem em pequenas ou grandes empresas. As oportunidades internacionais foram ampliadas com módulos que estimulam viagens e imersão em empresas estrangeiras. Além disso, ex-alunos de MBA podem reciclar o conhecimento a cada sete anos em aulas gratuitas pela escola.

“No novo modelo, a grade é flexível, e as disciplinas, personalizadas”, diz Alberto Duran, presidente do conselho de Wharton para a América Latina. Mas só a partir deste ano a escola passou a permitir que seus estudantes cursem um semestre na base em São Francisco, na Califórnia, próxima a ambientes empreendedores, como o Vale do Silício. Inaugurada em 2001, a base foi transferida para um prédio maior no ano passado. Antes, só oferecia cursos de MBA para executivos e promovia encontros e cursos para ex-alunos.

A concorrência de escolas menos tradicionais também atrapalhou o caminho de Wharton. “Universidades como Colúmbia e Chicago Booth melhoraram nos últimos dez anos e agora concorrem com as mais tradicionais”, diz Jeremy Shinewald, presidente da consultoria mbaMission, especializada em educação executiva.

Os currículos de Colúmbia e Chicago Booth, que ocupam a quinta e a décima posição do ranking mundial do jornal Financial Times, passaram por uma renovação em 2008. As duas tiveram crescimento de, respectivamente, 6,6% e 10% nas inscrições neste ano. Mais uma prova de que só tradição não basta para atrair os alunos.

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