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Só restaram os problemas para a família Stédile

Acuada por dívidas, a família Stédile vende a Fras-Le. E fica com uma Agrale reduzida à metade

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Da Redação

Publicado em 9 de julho de 2012 às 16h00.

Por décadas, a família gaúcha Stédile, de Caxias do Sul, teve sob seu domínio um dos principais grupos empresariais do Rio Grande do Sul. Como donos da Agrale, fabricante de tratores, caminhões e motocicletas, e da Fras-Le, de autopeças, os Stédile chegaram a faturar, em seus tempos de fausto, 250 milhões de reais. Hoje, o grupo é uma sombra do que foi no passado.

A maior demonstração do declínio aconteceu este mês, quando a família Stédile entregou o controle da Fras-Le, um dos maiores fabricantes de lonas e pastilhas de freio do país. O comprador foi o grupo Randon, do setor de autopeças, dono de um faturamento de 480 milhões de reais.

A Fras-Le era a maior e a melhor parte dos negócios da família. Sozinha, foi responsável por mais de 60% do faturamento do grupo, de 190 milhões de reais em 1995. Após a venda, o que restou aos Stédile foi a Agrale, uma empresa vergada por prejuízos que, nos últimos quatro anos, somaram cerca de 80 milhões de reais. Em 1995, a Agrale faturou 75 milhões de reais, metade das cifras alcançadas no ano anterior.

A família tentou durante meses vender a Agrale. Ninguém a quis. Óbvio: enquanto a Agrale encolhia, a Fras-Le crescia. As vendas desta passaram de 92 milhões de reais em 1994 para 115 milhões no ano passado. Os Stédile decidiram então vender a Fras-Le, na esperança de salvar o que lhes restava dos negócios.

Os problemas da família começaram no início da década, quando a crise da agricultura fez a clientela da Agrale minguar. Para fechar os buracos do caixa, os Stédile foram aos bancos. Mas os altos juros acabaram prejudicando ainda mais a saúde da empresa.

Acuados pelas dívidas, os Stédile recorreram à Justiça. Em 1992, entraram com uma ação que questionava a constitucionalidade dos juros cobrados por bancos como o Itaú e o Lloyds. "A empresa ficou com péssima imagem perante os bancos", diz um consultor. No ano seguinte, mais um tropeço. A família decidiu que a Fras-Le compraria o controle da Agrale por 24 milhões de dólares. Não adiantou. A crise na Agrale não foi resolvida e a saúde financeira da Fras-Le sofreu abalos.


BRIGA DOMÉSTICA - Não bastassem as agruras financeiras, o grupo passou a sofrer com disputas internas. Há cerca de três anos, Francisco Stédile, patriarca e fundador do grupo, tentou pôr fim à briga pelo poder entre seus cinco filhos. O primogênito, Alfredo, ficou em seu lugar como principal executivo do grupo. Carlos, o filho do meio, assumiu a presidência da Agrale. O caçula Franco acabou deixando seu posto na empresa para abrir uma malharia. Mas as disputas domésticas não terminaram.

Alguns analistas apontam um outro erro da família. Os Stédile não teriam apelado para a concordata no início de 1995, quando a dívida com os bancos já girava em torno de 30 milhões de reais. Em vez disso, os Stédile saíram à caça de um sócio para a Agrale. Mas a extensa linha de produtos da empresa inviabilizou a empreitada. "Em 1995 só pegamos recursos para a renovação dos empréstimos", diz Alfredo Stédile. "No final do ano, devido aos juros, nossa dívida tinha dobrado."

A negociação para a venda da Fras-Le durou três meses e foi intermediada pelo Bradesco. Nos próximos dias, o banco deve emitir debêntures conversíveis em ações no valor de 60 milhões de reais. Os papéis serão subscritos pela Randon e por um grupo de bancos. A Randon ficará com 51% das ações da Fras-Le.

Francisco Stédile ocupará uma cadeira do conselho de administração da Fras-Le e manterá uma participação de pelo menos 5% na empresa. A Agrale, praticamente paralisada, deverá ser comandada por um profissional a partir de março. Até lá, Alfredo e Carlos ficarão no comando da companhia.

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