Mike Horn: apoio da Panerai para construir seu barco e realizar façanhas (Fabian Equey Photography/Divulgação)
Ivan Padilla
Publicado em 19 de maio de 2022 às 06h00.
Mike Horn gesticula muito enquanto fala. Quando mexe as mãos, é difícil não notar sua mão direita. O explorador teve de amputar a ponta do dedo médio em uma expedição ao Polo Norte no inverno, quando as temperaturas podem atingir 70 graus Celsius negativos. Horn já fez de tudo. Cruzou os 7.000 quilômetros do Rio Amazonas a nado, deu a volta ao mundo seguindo apenas a linha do Equador, fez um trajeto por todo o Círculo Polar Ártico.
“Quão entediante é para um explorador estar em uma sala fechada, dando uma entrevista chata para um jornalista chato?”, pergunto a Horn durante o Watches & Wonders, salão de alta relojoaria que aconteceu em Genebra no início de abril. O aventureiro tem apoio da manufatura Panerai há mais de 20 anos para realizar suas façanhas.
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“[risos] Na verdade eu gosto de encontrar as pessoas. Todo mundo tem uma história para contar. E só faço isso uma vez por ano”, responde. Ele conta que já esteve muitas vezes no Brasil. “A comunicação era difícil”, diz. “Precisei aprender um pouco de português; pouca gente falava inglês.” Aos 56 anos, Horn se prepara agora para voltar à Amazônia. A seguir os principais trechos da entrevista.
É muito chato para um explorador, como você, dar entrevistas?
[risos] Se você gosta da liberdade para explorar o mundo e quer o suporte de uma marca como a Panerai, precisar sacrificar um dia e ter os outros 364 dias do ano para fazer o que quiser é ok. Na verdade, são só 6 horas [risos]. A variedade é o prazer da vida. Quando cruzei o Amazonas, de Macapá ao Equador, por seis meses, passava quase todo o tempo sozinho.
Você não tinha uma bola Wilson, como no filme O Náufrago [risos]...
[risos] Não, não. Sempre aprendemos algo com uma pessoa nova, enriquecemos a vida. Faço expedições porque isso me deixa feliz, mas também para aprender. Por isso eu gosto de estar aqui. As pessoas perguntam coisas diferentes. E você foi o primeiro a me perguntar isso. Ontem eu estava “ah, vou ter de ir lá no Watches & Wonders...”. Eu estava na minha casa nas montanhas, perto de Lausanne, indo esquiar [risos].
Você mora perto de Lausanne, na Suíça. Por quê?
Quando eu saí da África do Sul havia por lá o apartheid, e o país sofria um boicote internacional. A Suíça sempre foi neutra, era um dos únicos três países que nos aceitavam, além de Israel e Inglaterra. Fui para Zurique sem saber nada do país, só que ficava na parte alemã.
Em quantos países você já esteve?
Olha, eu velejei 27 vezes pelo mundo. Meu barco foi construído em São Paulo. De lá fui para Argentina, Chile, Peru, Bolívia, Venezuela, Panamá, Costa Rica, Estados Unidos, Canadá, Groenlândia, Noruega, Suécia, Dinamarca, Polônia, Rússia, Holanda, França, Portugal, Espanha, França de novo, Mônaco, Croácia. Estive em todos os lugares do mundo. Só não ia a algum lugar quando havia guerra. Eu não me importaria se a natureza me matasse. Se estivesse em uma montanha, cometesse um erro e caísse, ok. Mas se alguém atirasse em mim, aí não seria ok.
Você fez de tudo, esteve em todos os lugares. Dá para destacar alguma aventura?
São sempre a primeira e a última. A primeira foi quando nadei no Rio Amazonas, do Peru a Belém do Pará. Eu sabia que era fisicamente forte, mas depois de seis meses é preciso estar forte mentalmente. Depois de uma aventura dessas você fica confiante, aprende a tomar decisões. Eu tenho 30 anos de decisões tomadas, sei aceitar as consequências. Na minha última expedição, quando cruzei o Polo Norte do Alasca à Groenlândia, fiquei correndo atrás de comida, as camadas de gelo se moviam. Foi mais difícil, talvez porque esteja mais velho ou porque meus sonhos são muito grandes.
Você diz que sempre quis ser um aventureiro. Em que momento percebeu que isso poderia ser uma profissão?
É uma evolução. No começo eu pagava para viajar de férias. Depois comecei a escalar, e a querer mais e mais. Precisava de mais dinheiro ou comercializar minhas viagens. Para um explorador, isso significa adicionar valor para uma marca. Se você faz o que ninguém mais fez, você adiciona valor. Então você chega a um estágio em que pode morrer na sua aventura. Então você é um profissional. Não é mais por diversão. É uma decisão entre a vida e a morte.
Como é o apoio que você tem da Panerai?
Nossa parceria tem 21 anos. A Panerai investiu em meu nome, me ajuda a sobreviver. Quando eu fui ao Polo Norte, eles fizeram um relógio que funciona a menos 70 graus Celsius. Quando eu construí meu barco em São Paulo, eu não tinha os 5 milhões de dólares que ele custava. Eles contribuem para eu realizar meus sonhos.
Qual é seu próximo projeto?
Vou visitar vocês no Brasil [risos]. Vou à Amazônia novamente, em dezembro, levar algumas pessoas para lugares remotos e pensar juntos como podemos conservar a natureza. É o lugar mais bonito que eu já vi. A vida, a diversidade, a borracha, a chuva, as pessoas. Tudo lindo!