(Leonardo Yorka/Exame)
Publicado em 14 de junho de 2023 às 06h00.
Com diferentes pontos de contato — colaboradores, corretores, clientes e prestadores de serviço —, a seguradora Porto Seguro tem buscado oportunidades para ter um negócio mais sustentável do ponto de vista socioambiental e ainda torná-lo atraente financeiramente.
É o caso da Renova Ecopeças, que consegue juntar o propósito ambiental ao financeiro. A empresa do grupo trabalha com a reciclagem de peças de carros segurados pela Porto Seguro que tiveram perda total. Se o veículo acidentado se torna irrecuperável, é desmontado, e suas peças são higienizadas e comercializadas — cada uma com um registro que permite o rastreio. Até os fluidos de óleos e combustíveis são retirados e comercializados. Segundo Roberto Santos, diretor-presidente e de relações com investidores, 30% dos veículos indenizados pela área de seguros são classificados como não recuperáveis, ou seja, são sucatas.
Parece um negócio de oportunidade, mas tem um apelo ambiental importante. Afinal, 85% de um carro pode ser reutilizado. Mas o que acontece na maioria das vezes é ter como destino as empresas especializadas em sucata. Com o modelo de negócios da Renova Ecopeças, as peças são reinseridas no mercado automotivo, ganhando uma sobrevida e evitando o consumo de itens novos.
No ano passado, 2.400 veículos passaram pelo processo de desmontagem, e agora o plano de Santos é ampliar o alcance do empreendimento, hoje disponível em São Paulo, para outras partes do Brasil.
Na sede da empresa, na região central de São Paulo, os funcionários são lembrados do papel da pauta ambiental diariamente. Sim, todos os dias, na hora do almoço, das 12 às 14 horas, as luzes do prédio, que conta com placas solares, são apagadas enquanto os colaboradores estão fora. É a chamada Hora da Terra. “Muito mais do que a economia de energia, o que queremos é valorizar a mensagem sobre a importância de reduzirmos o consumo de energia”, frisa o diretor-presidente.
No final do ano passado, Santos assinou o Pacto Global da ONU, um compromisso mundial de contribuição para o alcance dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030. O diretor-presidente percebeu uma reação positiva dos funcionários.
“Esse tipo de iniciativa traz um impacto grande para o negócio, agrega muita responsabilidade. Percebi um maior engajamento dentro da companhia. Da nossa parte, de prático, formamos um comitê de sustentabilidade ligado ao conselho de administração. Agora estamos criando indicadores de ESG para saber quais ações atendem aos ODS. Temos muito a evoluir, mas ter a ONU tão perto da gente, quase como uma mentora, ajuda muito”, garante o executivo.
Paula Pacheco
Empresas de serviços financeiros, como bancos, têm se preocupado cada vez mais em incluir temáticas ligadas à sustentabilidade nas agendas internas. E com o Santander Brasil não é diferente. Gabriela Bertol, head de sustentabilidade do Santander, explica que, desde 2002, a companhia realiza análises de risco socioambiental. Em 2009, aderiu aos Princípios do Equador, uma série de critérios socioambientais adotados por instituições financeiras para proteção de povos indígenas e da biodiversidade. No ano passado, o grupo adquiriu a WayCarbon, consultoria de crédito de carbono.
Em outra frente ESG, o banco apoia programas com foco socioambiental como o Sinapse, da Jornada Amazônia, que investirá em startups que trabalhem com bioeconomia. Serão distribuídos 70.000 reais às empresas preocupadas em gerar economia com a floresta em pé — o programa se enquadra no Plano Amazônia, parceria entre Bradesco, Santander e Itaú.
Além disso, em janeiro a instituição financeira lançou os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) verdes, pensando em financiamento de sistemas agroflorestais. O investimento funcionará como capital de giro para negócios comunitários, como cacau, castanhas e açaí nas regiões Norte e Nordeste do país. A empresa calcula que mais de 4.000 produtores rurais já foram beneficiados pelo programa. Gabriela Bertol afirma que em 2022 foram investidos mais de 32 bilhões de reais em negócios sustentáveis.
Fernanda Bastos
“Queremos ser o banco da transição para os nossos clientes”, afirma Luciana Nicola, diretora de relações institucionais e sustentabilidade do Itaú. Em 2019, o banco passou por um processo de transição no qual a área de sustentabilidade abraçou uma visão um pouco mais ampla, voltada a estratégias ESG. “Os parâmetros ESG vêm transformando o banco, eles são parte de uma agenda que pontua uma nova forma de fazer negócios, uma mudança”, observa. Além dos compromissos climáticos assumidos pela organização financeira, o Itaú apoia vários projetos no escopo social. Em 2022, por exemplo, o programa Potências teve um aporte inicial de 25 milhões de reais para o primeiro ciclo de mais de 370 bolsas em universidades federais. O apoio financeiro oferecido tem como objetivo ajudar os estudantes com seus gastos ao longo de toda a formação e diminuir a desistência do ensino superior ocasionado por fatores financeiros. Já o programa Itaú Mulher Empreendedora oferece carteiras de crédito. Segundo o banco, o investimento social privado foi de aproximadamente 700 milhões de reais por ano, nos dois últimos anos. O Itaú tem como meta ampliar a participação feminina em cargos de liderança de 35% a 40% — além de aumentar a representatividade de pessoas negras na organização de 27% a 30% até 2025.
Fernanda Bastos