Revista Exame

Um escritor sem medo das máquinas

Para Kevin Kelly, um dos mais influentes pensadores do mundo digital, as pessoas vão aprender a lidar com os robôs e com a inteligência artificial

Kevin Kelly: “O anonimato na internet deveria ser desencorajado” | /Ap Images /

Kevin Kelly: “O anonimato na internet deveria ser desencorajado” | /Ap Images /

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Da Redação

Publicado em 2 de novembro de 2017 às 05h07.

Última atualização em 14 de novembro de 2017 às 12h14.

O escritor americano Kevin Kelly é um dos mais influentes pensadores sobre as transformações provocadas pela tecnologia. Nos anos 90, ele foi um dos fundadores da revista Wired nos Estados Unidos, principal publicação que trata do impacto da tecnologia na cultura e na sociedade. Aos 65 anos, Kelly diz que mudou sua visão sobre o mundo digital — como a questão do anonimato na internet —, mas está otimista em relação ao futuro. “Vamos viver num mundo em que robôs e inteligência artificial convivem com os seres humanos”, diz Kelly, que virá ao Brasil neste mês para participar da conferência HSM Expo 2017.

O que mudou na sua visão sobre o impacto do mundo digital na sociedade nos últimos 30 anos?

Nos anos 90, costumava pensar que ser anônimo era algo bom. Hoje acho péssimo. O anonimato deveria ser desencorajado. As pessoas deveriam ter de usar nomes verdadeiros na internet e,  em especial, nas redes sociais. Muitas notícias falsas são produzidas por pessoas que estão fingindo ser alguém que não são.

Esta é uma declaração forte vindo do senhor. O que o fez mudar de ideia? A eleição de Donald Trump?

Não, foi antes disso. Mudei de ideia no fim dos anos 2000. Antes, costumava pensar que era necessário dar poder ao indivíduo, que  o conteúdo na internet poderia ser todo produzido de baixo para cima, sem uma curadoria, sem o trabalho de profissionais. Aprendi que não é sempre assim.

Pode dar um exemplo?

A Wikipédia é um exemplo. É incrível quanto ela conseguiu realizar apenas com escritores voluntários. Mas, para fazer com que o conteúdo melhore, é necessário algum controle. Isso vale também para a disseminação de notícias no Facebook, no -Twitter. É preciso algum tipo de intervenção humana ou de inteligência artificial para fazer a curadoria.

O senhor diria que se tornou mais cético? Ou menos otimista?

Não é que estou mais pessimista em relação às redes sociais. Estou mais otimista. Acho que o mundo está apenas começando a entender o que a tecnologia pode fazer e quais os seus limites. Isso não é pessimismo. É realismo. É entender que há limites e restrições, e que é preciso fazer ajustes constantes. Estamos constantemente aprendendo a lidar com a tecnologia e melhorando.

Qual é o impacto mais significativo da tecnologia hoje?

O ponto mais importante tem a ver com a maior capacidade de cognição dos computadores. As máquinas estão se tornando inteligentes. É uma mudança que desafia a concepção do ser humano. Estamos descobrindo que elas podem fazer coisas que achávamos que só as pessoas podiam fazer. Veja os carros autônomos. É uma ideia desafiadora. Alguns acham até assustadora.

O senhor não acha assustador?

Não acho. Acredito que vamos viver num mundo em que robôs, realidade virtual, inteligência artificial, big data vão conviver com os seres humanos. Acho importante pintar um quadro positivo e é disso que trato em meu livro, Inevitável.

Como essas mudanças afetam um país como o Brasil?

É importante lembrar que a transformação está apenas no início. Não existem especialistas nesses novos campos, comparado ao que teremos em 30 anos. Isso significa que qualquer um pode  participar. O Brasil não está atrasado. Um empreendedor no Brasil tem uma chance igual de inventar e criar coisas tão incríveis quanto qualquer outro empreendedor no mundo. 

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