Revista Exame

Sem governança nenhum grande negócio funciona bem

O especialistas em gestão Vicente Falconi responde a perguntas dos leitores de EXAME sobre governança e metas


	Governança acima de tudo: sem ela nada funciona bem
 (Ilustração: Maurício Pierro)

Governança acima de tudo: sem ela nada funciona bem (Ilustração: Maurício Pierro)

DR

Da Redação

Publicado em 2 de dezembro de 2015 às 17h00.

São Paulo — Vicente Falconi, um dos mais renomados especialistas em gestão no Brasil e cofundador da consultoria Falconi, responde a perguntas de leitores da revista EXAME. Nesta edição, os temas são governança e metas.

1. Sou sócio de uma empresa muito rentável, com 25% de lucro líquido. Mas, por falta de administração e retirada de lucros, está muito endividada. Ou seja, o negócio pode dar muito lucro, mas está no buraco. Eu e meu sócio temos visões muito diferentes e queremos acabar com a sociedade. A criação de um conselho de administração com reuniões mensais foi a saída apontada por uma consultoria. Daria certo?
Anônimo

No curto prazo, talvez sim. No longo prazo, certamente não. É uma pena que vocês não possam entrar em acordo, já que um negócio com margem líquida de 25% é raríssimo (eu gostaria de ter um negócio assim...). Para ser sólido para o futuro, um negócio deve ter um caixa forte. E, para isso, não tem outro jeito a não ser manter a empresa sem dívidas, sobretudo em épocas de juros mais altos como a atual, além de garantir uma taxa de crescimento contínua, mesmo que moderada, quando não for possível acelerar.

No seu caso, manter o caixa forte depende essencialmente de um problema de governança. A governança está acima de tudo. Sem governança nada funciona bem. Você menciona que o negócio vai mal por “falta de administração e retirada de lucros”. Muito provavelmente a origem de seu impasse é uma sociedade com 50% para cada um, na qual cada sócio tem direito a veto.

O resultado é que todo mundo manda e ninguém pode resolver nada. Para que a empresa funcione melhor, opte por um modelo em que um dos dois tenha o controle do negócio. Ou então no qual o controle seja tão diluído que a delegação de poder dentro de certas alçadas fica mais fácil e as decisões podem ser mais racionais e menos emocionais.

Daí voltamos ao ponto inicial, a respeito da importância da criação de um conselho de administração neste momento. Minha primeira resposta foi que essa solução talvez resolvesse sua questão no curto prazo. Digo talvez porque esse conselho proposto, no modelo de sociedade em que cada sócio tem 50% de participação, não terá nenhuma autoridade na prática — a menos que vocês acrescentem essa questão num acordo de acionistas. Ainda assim, se as divergências são inconciliáveis, no longo prazo a sociedade não vai funcionar.

Sugiro resolver logo a questão, de maneira definitiva. Como diz o ditado: “É melhor ficar vermelho uma vez que amarelo sempre”. O negócio é bom, compre a parte de seu sócio ou a venda a sua para ele. Colocar panos quentes agora só vai postergar o problema e trazer mais angústia.

2. Trabalho numa usina de etanol, como responsável pela segurança patrimonial e de suprimentos, entre outras atividades burocráticas. É possível estabelecer metas para qualquer tipo de atividade? Como avaliar e estabelecer metas que não sejam apenas para ser cumpridas, mas que de fato estimulem a equipe?
Anônimo

vamos supor que uma empresa hipotética tenha hoje como resultado, para um indicador qualquer, um valor de 70. Em determinado momento, decide-se que a meta será elevar o patamar para 90. Aí eu pergunto: por que os funcionários responsáveis por aquele indicador já não entregavam o resultado de 90 há muito tempo?

Só existe, em meu entendimento, uma resposta: é porque o time não sabia o que fazer para chegar lá. Se soubesse, já teriam entregado aquele resultado proposto. É isso mesmo. Atingir metas significa, antes de qualquer coisa, adquirir o conhecimento necessário para que se saiba o que tem de ser feito para evoluir.

O processo de buscar atingir metas é também um processo de aquisição de conhecimento. Não pode haver nada mais estimulante e motivador do que isso dentro de uma organização. Todo ser humano gosta de aprender e sentir que está crescendo como profissional.
Sim, é possível estabelecer metas para qualquer atividade.

O primeiro passo, antes de estabelecer uma meta, é descobrir quais são seus indicadores mais importantes. Os indicadores devem ser estabelecidos com base nas funções de seu trabalho, num esforço coletivo. Pergunte a seu time: “Quais são nossas responsabilidades? O que temos de entregar e a quem? Em que prazo? Em qual nível de qualidade?” Recomendo dar uma olhada em meu livro Gerenciamento da Rotina do Trabalho do Dia a Dia. Lá explico como determinar seus indicadores e, assim, suas metas.

Finalmente, quero ressaltar que o trabalho de atingir metas deve ser sempre executado em grupo. Faça planos de ação que envolvam funcionários de vários níveis hierárquicos, seguindo as orientações de meu livro indicado acima. Você vai perceber que nós, seres humanos, somos gregários e gostamos muito de sentir que pertencemos ao grupo e que somos queridos por todos.

Faça tudo o que puder com a participação de todos e você logo verá que tudo vai mudar. Suas metas serão atingidas por funcionários realmente engajados com os resultados propostos e a alegria estará presente no local de trabalho.

Acompanhe tudo sobre:Conselhos de administraçãoEdição 1103gestao-de-negociosGurusMetasVicente Falconi

Mais de Revista Exame

Borgonha 2024: a safra mais desafiadora e inesquecível da década

Maior mercado do Brasil, São Paulo mostra resiliência com alta renda e vislumbra retomada do centro

Entre luxo e baixa renda, classe média perde espaço no mercado imobiliário

A super onda do imóvel popular: como o MCMV vem impulsionando as construtoras de baixa renda