A empresa do ano: Fábio Barbosa, presidente da Abril S.A., e Frederico Curado, presidente da fabricante de aviões Embraer (Flávio Santana)
Da Redação
Publicado em 15 de agosto de 2013 às 22h31.
São Paulo - Na noite de 1º de julho, cerca de 1 200 empresários e executivos estiveram na Sala São Paulo — o espaço de eventos que funciona no majestoso edifício da Estação Júlio Prestes, no centro da capital paulista — para participar da cerimônia de premiação das melhores empresas do ano e do lançamento da 40a edição de MELHORES E MAIORES, de EXAME.
O clima era festivo. Afinal, muitas pessoas estavam ali porque suas empresas haviam sido escolhidas entre as que mais se destacaram em 2012. Mas havia também um certo desconforto com relação aos rumos do país. Não era para menos.
Um mês antes, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgara que o produto interno bruto do país crescera mísero 0,6% no primeiro trimestre deste ano em relação aos três últimos meses de 2012, um índice abaixo do esperado pelo mercado — a previsão, já magra, era de um crescimento em torno de 0,9%.
O desempenho frustrante levou a maioria dos economistas a rever para baixo suas previsões de crescimento para 2013 — muitos já temem uma expansão da economia abaixo de 2% neste ano. Além do PIB fraco, outro motivo de preocupação entre os convidados era a inflação.
No dia 5, o IBGE divulgaria que o IPCA, índice usado pelo governo para medir a inflação, acumulou nos últimos 12 meses uma alta de 6,7%, a maior taxa desde outubro de 2011 e acima do teto da meta do governo, que é de 6,5%. Configura-se, em suma, um quadro nada alentador para o Brasil neste ano: baixo crescimento econômico e inflação em alta.
O desânimo dos empresários e executivos aumenta quando se constata que eles já viram esse filme no ano passado. No início de 2012, o governo projetava um crescimento de 4,5%. Mas as medidas adotadas para estimular a economia, como a redução da taxa de juro e a desoneração fiscal em alguns setores, não surtiram efeito.
O consumo interno fraquejou, a produção industrial caiu, os investimentos encolheram. O resultado — crescimento de apenas 0,9% do PIB em 2012 — se refletiu no mundo dos negócios. De acordo com o levantamento de MELHORES E MAIORES, as 500 maiores empresas do país tiveram no ano passado uma receita líquida de 1,047 trilhão de dólares, modesto crescimento de 1,8% em relação a 2011. Juntas, essas companhias lucraram 34,4 bilhões de dólares em 2012, queda de 48% em relação ao ano anterior.
Felizmente, houve exceções. Muitas empresas conseguiram se destacar com um desempenho excepcional em meio à pasmaceira econômica de 2012. Entre elas estão as 19 companhias escolhidas como as melhores em seus setores. Em média, a receita líquida dessas companhias cresceu 9% no ano — o equivalente a dez vezes a taxa de expansão do PIB.
E o melhor: seus esforços foram recompensados com um lucro 29% maior que o obtido no ano anterior. Campeãs em eficiência, essas empresas foram homenageadas na cerimônia realizada na Sala São Paulo.
Durante o evento, coube uma menção especial à cervejaria Ambev, eleita a melhor empresa dos últimos 40 anos no Brasil, de acordo com os votos dos presidentes das maiores empresas do país — nessa eleição, concorreram todas as companhias que ganharam o prêmio de Empresa do Ano ao longo de quatro décadas de história de MELHORES E MAIORES.
O grande destaque da noite, porém, foi a Embraer, escolhida como a Empresa do Ano. Sua receita líquida cresceu 15% em 2012, atingindo os 5,2 bilhões de dólares. A ex-estatal recebe o prêmio pela segunda vez. Na primeira, em 1999, a empresa foi escolhida pelo salto de gestão dado nos anos que se seguiram à privatização, em 1995, e à transformação da empresa numa estrela mundial da aviação comercial.
O prêmio dado em julho se deve ao sucesso da segunda etapa dessa transformação. Nos últimos anos, a Embraer colocou em prática um ousado programa de diversificação de receitas — que aumentou a importância, por exemplo, da divisão de defesa. Os ganhos de produtividade da Embraer têm sido notáveis.
O tempo que a empresa leva para montar um avião caiu de 22 dias, em 2007, para sete dias, atualmente. Em seu discurso ao receber o prêmio de Empresa do Ano, o presidente da Embraer, Frederico Curado, destacou os produtos lançados nos últimos anos com sucesso, como a nova linha de jatos comerciais Embraer 170/190 e o avião militar Super Tucano.
As aeronaves da Embraer estão presentes em mais de 60 países. “É sempre marcante ver que o Brasil pode competir em escala global com produtos de alta tecnologia”, disse Curado.
Como transformar as exceções que tanto brilharam em 2012 em regra? O atual pessimismo em torno da economia ajuda a lembrar que, para criar um ambiente de negócios favorável a todos, o governo precisa fazer a sua parte: não baixar a guarda na luta contra a inflação, reduzir a carga tributária de forma ampla — e não apenas para alguns setores —, controlar as contas públicas, ser mais transparente.
Só assim o Brasil terá mais empresas fortes, como as que se destacaram num ano difícil como 2012. “A motivação inicial de MELHORES E MAIORES, lançada em 1974, virou um norte para EXAME desde então: acreditamos que não há país forte sem empresas fortes”, disse Fábio Barbosa, presidente da Abril S.A., durante a cerimônia de premiação.
Em seu discurso, ele afirmou que, ao longo dos últimos 40 anos, o Brasil mostrou uma invejável capacidade de se reinventar. “Deixamos para trás uma estrutura de país fechado, estatal e inflacionário para abraçar um modelo muito mais aberto, estável e calcado na iniciativa privada. É nosso dever não apenas proteger e consolidar esses avanços mas também preparar o próximo salto”, disse Barbosa. “Já contamos com o mais importante — um conjunto de empresas de padrão internacional, capaz de gerar e distribuir a riqueza do Brasil.”