Revista Exame

Se continuar assim, o Brasil até que pode dar certo

Quem diria? A continuar nessa toada, o governo do presidente Michel Temer pode gradualmente recolocar o Brasil na normalidade.


	Melhor, impossível: a eleição de Rodrigo Maia (ao centro) para a presidência da Câmara foi mais uma vitória para Temer
 (REUTERS/Ueslei Marcelino)

Melhor, impossível: a eleição de Rodrigo Maia (ao centro) para a presidência da Câmara foi mais uma vitória para Temer (REUTERS/Ueslei Marcelino)

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Da Redação

Publicado em 12 de setembro de 2016 às 13h32.

São Paulo — Parece ir se desfazendo, aos poucos, o segredo que tem cercado um fato possivelmente relevante para a política brasileira de hoje, e que vem sendo tratado até agora com extrema reserva por parte dos meios de comunicação e dos personagens centrais da vida pública: o governo do presidente Michel Temer, por mais improvável que tal possibilidade tivesse parecido em seu início, dois meses atrás, pode estar dando certo.

Naturalmente, é preciso esclarecer desde logo o que significa, no Brasil de hoje, a expressão “dar certo”. É coisa bem modesta: trata-se apenas de interromper um desastre em progressão desesperada, como o que a presidente da República vinha comandando até ser afastada do cargo. Há mais. Temer, até agora, não cometeu nenhum erro sério. Montou um ministério de primeira classe.

O “certo” mencionado acima talvez inclua a possibilidade de alguns avanços reais na governança do país. Enfim, há mais paz com o novo governo, uma baixa geral na temperatura e um alívio de bom tamanho para o cidadão comum, causado pela pura e simples saída da equipe que estava lá e o consequente desmanche de suas neuroses. 

Quem diria? A continuar assim, há o risco de o país ir caindo gradualmente na normalidade daqui para a frente — ou seja, que volte a viver apenas com sua ração habitual de problemas, em vez de continuar pendurado na beira do abismo.

Essas perspectivas de normalidade começaram a aparecer quando o clima político passou a ser regulado por uma característica muito específica do presidente Temer: sua capacidade de reduzir, em vez de aumentar, todas as crises ou confusões que entram em seu gabinete.

Nos primeiros momentos do governo surgia um tumulto novo por dia; cada um deles foi se desfazendo discretamente e dali a pouco não se falava mais no assunto. Denúncias em torno do ministro Romero Jucá que fariam o governo explodir? Sai o ministro Jucá. Denúncias contra o ministro Henrique Alves? Sai o ministro Alves. Terremoto com a extinção do Ministério da Cultura? Volta o Ministério da Cultura.

O governo, como todos se lembram, era refém das gangues partidárias do Congresso e não conseguia aprovar nada. Sem nenhum ruído, e sem cantar vitória, Temer foi aprovando praticamente todos os projetos que mandou para lá — alguns deles essenciais para que pudesse assinar qualquer ato de gestão. O deputado Eduardo Cunha, debaixo de artilharia pesada, afundaria o governo junto com a própria desgraça.

Não existe mais Cunha; o governo continua lá. Chegou-se a levar a sério, até mesmo, um impeachment de Temer. Ninguém fala mais nisso.
Os exemplos podem ir adiante. Para abreviar o assunto, basta constatar o desfecho do último embate político do presidente, e o mais importante de todos até agora: a eleição do novo presidente da Câmara dos Deputados.

Temer saiu com uma vitória notável: fez virar pó todas as imensas estratégias montadas para derrotá-lo, inclusive a que foi comandada pelo ex-presidente Lula, e no final os dois candidatos que sobraram para o segundo turno estavam a seu favor. Mais ainda, o que acabou ganhando é justamente o melhor para o governo.

Fora do jogo político do dia a dia em Brasília, tem a contabilizar em seu benefício uns primeiros sinais de respiração sem ajuda de aparelhos. A inflação, até os últimos registros, deixou de ameaçar uma subida que poderia tirá-la de controle. O dólar parece girar mais ou menos no ponto que interessa ao governo. Há uma discreta retomada, por parte da opinião pública, de expectativas melhores quanto à economia.

A recessão mortal que a presidente afastada já tinha contratado para o próximo ano perdeu o impulso; a última previsão internacional, ao contrário, é que o Brasil crescerá 1,5% em 2017, um triunfo em comparação com os 3% negativos, ou sabe lá Deus quanto, que vinham inevitavelmente por aí.

Para completar, 50% da população já está achando que Temer é preferível à sua antecessora. Não poderia, a esta altura, esperar nada tão bom.

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