Borelli, do Instituto Tênis: treinos diários e metas para todos (André Lessa/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 30 de agosto de 2013 às 16h24.
São Paulo - A cada seis semanas, um grupo liderado pelo empresário Jorge Paulo Lemann se encontra às 6 e meia da manhã. Os convidados são sempre os mesmos — Fernando Gentil, sócio e diretor da butique de investimento G5 Evercore, Hugo Scott, presidente da construtora Passarelli, Aloísio Wolff, presidente da empresa de saúde Intermédica, e Roberto Lage, diretor de finanças e relações com investidores da Comgás.
A primeira etapa do encontro acontece numa quadra de tênis — em geral na casa de algum deles em São Paulo. Terminado o jogo, 2 horas depois, começa a segunda parte — a reunião do conselho de administração do Instituto Tênis, criado em 2002 por Lemann e pelo ex-tenista gaúcho Nelson Aerts.
Em junho, o grupo traçou pela primeira vez um plano para os próximos 20 anos. Até 2033, eles pretendem formar 54 brasileiros entre os 500 melhores do mundo. Três deles deverão conquistar o título de número 1 do mundo, feito até agora obtido apenas por Gustavo Kuerten.
As metas nada triviais resultam de uma ampla revisão iniciada no fim de 2011. Após quase uma década de existência, mais de 100 atletas já tinham passado pelo instituto, mas sem objetivos definidos de desempenho.
O propósito era elevar o nível de atletas de alto potencial sem condições de pagar treinadores de primeira linha e os caros torneios mundiais. “Concluímos que para ter resultados expressivos era hora de mudar”, diz Gentil, um dos conselheiros do instituto.
A mudança ficou a cargo do paulistano Cristiano Borelli, contratado em novembro de 2011 como diretor do instituto. Sua missão é fazer valer as mesmas regras que orientam as empresas de Lemann, o 18º homem mais rico do mundo, com fortuna estimada em 17,8 bilhões de dólares e acionista da AB InBev, maior cervejaria do mundo, da rede de lanchonetes Burger King e da fabricante de alimentos Heinz (Lemann também tem o título de pentacampeão brasileiro de tênis).
Antes havia atletas de outros estados que apareciam uma vez por mês. Agora todos frequentam diariamente o instituto, em Alphaville, na Grande São Paulo, em treinos de até 8 horas. Os melhores têm direito a uma bolsa de 1 800 reais por mês. Hoje, 11 dos 17 atletas recebem o benefício. “Quem falta está fora”, diz Borelli, ex-executivo da Natura e do banco Merrill Lynch (e, claro, ex-tenista).
Todos têm metas de desempenho. Uma vez por mês os técnicos discutem estratégias para cada atleta. Para a tenista Maria Eduarda Ferreira, o objetivo traçado no começo do ano era estar entre as oito primeiras do país no final do ano — e já foi batido com folga. De janeiro para cá, ela saiu da 28ª para a sexta posição.
Com as novas exigências, seis atletas decidiram deixar a equipe. Ficou gente como o paranaense Marcelo Tebet, de 17 anos, terceiro melhor tenista juvenil do Brasil e 120º do ranking mundial nessa categoria. No Instituto Tênis há dois anos, Tebet participou da Gira Europeia, um dos principais torneios do mundo, neste ano.
“Saltei 542 posições desde que cheguei.” Para aumentar a frequência de participação em eventos como o US Open, em Nova York, que pode custar até 10 000 reais por atleta, a instituição partiu em busca de mais patrocinadores. Em 2013, o instituto arrecadou 3 milhões de reais, 75% mais do que no ano anterior.
Os efeitos já aparecem. Em 2012, foram conquistados 41 títulos, mais que o dobro do ano anterior. Está em estudo a remuneração variável dos atletas e a seleção de tenistas mais jovens — hoje os mais novos têm 12 anos. “Temos um longo caminho pela frente”, diz Borelli. “Mas já começamos a avançar."