Revista Exame

"Saí do Google por razoes profissionais", diz Hugo Barra

O brasileiro Hugo Barra, que ocupava até o fim de agosto o cargo de vice-presidente da divisão de Android, conta, com exclusividade, os bastidores de sua polêmica saída da gigante da internet

Hugo Barra, vice-presidente de produtos e operações da fabricante de eletrônicos chinesa Xiaomi (Divulgação)

Hugo Barra, vice-presidente de produtos e operações da fabricante de eletrônicos chinesa Xiaomi (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2013 às 19h22.

São Paulo - Hugo Barra é um dos principais responsáveis por ter levado o Android, software do Google para celulares e tablets, a atingir neste ano a marca de 1 bilhão de usuá­rios no mundo. Nos cinco anos em que trabalhou no Google, o brasileiro não pôde se queixar de falta de reconhe­ci­mento. Ao todo, foram três promoções.

Na última, no fim de 2012, assumiu a vice-presidência da divisão de Android. Essa é uma das razões pelas quais sua saída repentina, anunciada em agosto, deu margem a especulações. Segundo a imprensa internacional, a decisão teria sido tomada por causa do envolvimento de sua ex-namorada, Aman­da Rossberg, funcionária do ­Google, com Sergey Brin, fundador da empresa.

Em agosto, Brin anunciou sua separação da mulher com quem esteve casado por seis anos. Barra assumirá em outubro o cargo de vice-presidente da fabricante de eletrônicos Xiaomi, conhecida como a “Apple da China”. A empresa é vista por analistas como uma forte competidora no cenário internacional em alguns anos — expansão que estará sob a responsabilidade do executivo brasileiro. De Pequim, Barra falou a EXAME.

EXAME - O senhor estava no auge da carreira no Google. Decidiu ir para a empresa chinesa Xiaomi, ainda uma promessa. O que pesou na decisão? 

Hugo Barra - Que fique claro que eu saí do Google por razões profissionais. O que sempre me atraiu no Google não eram só as condições de trabalho e as regalias, mas a carreira que tinha pela frente. Acabei evoluindo muito rápido. Tive três promoções consecutivas e começou a ficar claro que a próxima etapa da minha carreira não estava no Google.

EXAME - Qual etapa?

Hugo Barra - Tinha como objetivo tocar um grande negócio, responder por uma área global. Esse desafio não existia, pelo menos no curto prazo, dentro do Google. Lá, cuidava da parte de engenharia, não do negócio como um todo. 

EXAME - Em abril, seu então chefe, Andy Rubin, deixou o cargo de vice-presidente sênior. O substituto escolhido foi o indiano Sundar Pichai, que veio de outra área. O senhor esperava ser promovido?

Hugo Barra - Não estava com essa expectativa porque se trata de uma posição mais sênior. Talvez um ano mais tarde teria sido um candidato à vaga. Pensar em assumir essa posição, quando tinha acabado de ser promovido, não era uma aspiração realista. 

EXAME - Quando o senhor falou para o Google que estava saindo? 

Hugo Barra - Foi em maio, durante o I/O, um evento para desenvolvedores do Google que ocorre todos os anos na cidade de São Francisco. Tinha tomado a decisão e queria ser totalmente transparente com o Google. No início, eles não queriam que eu saísse, mas depois enxergaram em mim um aliado. O Google tem tido dificuldades de fazer negócios na China por causa de sua relação complexa com o governo local.


EXAME - O que o senhor sentiu quando leu as notícias de que sua saída estava ligada a razões pessoais? 

Hugo Barra - Fiquei com raiva, claro. As pessoas confundiram tudo. O Google anunciaria minha saída apenas em meados de setembro. Mas aí saiu a notícia do caso que os dois (Brin e Amanda) tiveram, e a informação de que eu estava saindo vazou. Foi uma coincidência infeliz. Mas, pelo menos do meu ponto de vista, estava tudo resolvido. Já não namorava a Amanda havia alguns meses.

EXAME - Como ficou sua relação com Brin? 

Hugo Barra - Nos cinco anos que trabalhei no ­Google, devo ter cruzado com o Sergey umas seis vezes. Ele nunca esteve envolvido no dia a dia da divisão de Android. Em qualquer outro momento, uma notícia como essa não faria a menor diferença para mim. Mas, do jeito que foi, acabou abreviando minha permanência em algumas semanas.

EXAME - Como foi que ocorreu sua aproximação com a Xiaomi­? 

Hugo Barra - Conheci um dos fundadores da empresa, Bin Lin, quando ele trabalhava na área de mobilidade do ­Google. Ele liderava uma equipe grande, com cerca de 300 engenheiros, que desenvolveu funções bastante importantes para o Android.

Depois que ele saiu para fundar a Xiaomi, continua­mos a manter contato, porque a empresa fabrica aparelhos com Android. Em abril de 2012, começamos a conversar sobre a possibilidade de eu assumir um cargo lá. A empresa está se preparando para o processo de internacionalização.

EXAME - O que mais chamou sua atenção na Xiaomi? 

Hugo Barra - A empresa conseguiu replicar a fórmula que o Google usa para inovar. É a única companhia chinesa hoje com chance de se tornar uma referência global, como Apple e Samsung. Para colocar isso em prática, contratou engenheiros que já passaram por empresas americanas, como Microsoft, Google e Motorola. Ajudou o fato de os fundadores da companhia — são oito no total — terem vindo dessas empresas. 

EXAME - O presidente da Xiaomi, Lei Jun, diz se inspirar em Steve Jobs e até usa as mesmas roupas que o fundador da Apple nas apresentações. Como será trabalhar com ele? 

Hugo Barra - Foi Lei Jun quem teve a ideia do negócio e convenceu os cofundadores a criar a Xiaomi. Ele é quem fala diretamente com os consumidores, que são chamados de “fãs”. Mas o mais importante é que partem dele as inovações da empresa, como a nova linha de smartTVs, anunciada na primeira semana de setembro. É o que o mundo esperava ver saindo de Cupertino (sede da Apple), mas saiu da China.

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