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O outro lado do agro: estudo mostra descompasso entre riqueza e desenvolvimento de municípios

Pesquisa exclusiva mostra que a economia do agro não é distribuída de maneira equitativa, mas investimentos em gestão e infraestrutura podem ser a chave para impulsionar o desenvolvimento no campo

Sapezal, em Mato Grosso: o município mato-grossense é um dos principais polos de algodão do país e exemplifica que é possível alavancar o agro e o desenvolvimento local (Scheffer/Divulgação)

Sapezal, em Mato Grosso: o município mato-grossense é um dos principais polos de algodão do país e exemplifica que é possível alavancar o agro e o desenvolvimento local (Scheffer/Divulgação)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 26 de junho de 2025 às 06h00.

O Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do mundo, mas a riqueza e o desenvolvimento gerados pelo agro não se dividem de forma equitativa para todas as cidades.

Esse é o resultado de uma pesquisa inédita, realizada pela Agenda Pública, que mapeou os 50 municípios com maior produto interno bruto (PIB) agropecuário do Brasil, revelando um descompasso entre a riqueza gerada no campo e as condições de vida e infraestrutura desses locais.

O desempenho médio geral das cidades avaliadas ficou em 0,48, indican­do um nível de desenvolvimento médio, com ampla margem para melhorias em diversas áreas. Nenhum município alcançou a faixa “Alta” (≥ 0,60) no índice geral.

Segundo Sérgio Andrade, cientista político e diretor-executivo da Agenda Pública, o Índice Condições de Vida — Município Agro é composto de seis eixos temáticos: educação, saúde, infraestrutura, proteção social, desenvolvimento rural e gestão de qualidade.

Para garantir que as variáveis, que podem ter escalas e unidades diferentes, sejam comparáveis, todos os dados foram colocados em uma escala de zero a 1. O índice final de cada município foi calculado a partir da média dos seis indicadores.

O Índice de Desenvolvimento Rural (IDR) foi utilizado para avaliar a qualidade das condições de vida em diversos aspectos, como assistência técnica, infraestrutura, inclusão social e sustentabilidade ambiental.

O IDR dos 50 municípios ficou em 0,31 na média, número preocupante para um país com uma agropecuária tão robusta, diz o diretor.

A cidade de Sapezal, em Mato Grosso, um dos principais polos produtores de algodão do Brasil, com um índice de 0,43, se destaca no topo da lista, mostrando que é possível alavancar o desenvolvimento rural sem renunciar à sustentabilidade e à inclusão social.

Além da cidade mato-grossense, Tasso Fragoso, no Maranhão, e Sidrolândia, em Mato Grosso do Sul, também se destacaram no IDR, com 0,41 e 0,42, respectivamente.

Por sua vez, Correntina, na Bahia, com a menor pontuação do IDR, 0,20 , exemplifica os problemas estruturais enfrentados por muitos desses municípios.

Para superar esses desafios, a pesquisa aponta soluções que envolvem tanto a gestão pública quanto o engajamento do setor privado.

A qualidade da gestão, incluindo transparência, capacidade de atrair investimentos e execução de políticas públicas adequadas voltadas para o agro, é um dos principais motores para o desenvolvimento dessas regiões, afirma Andrade.

“Investir em infraestrutura rural, como conectividade e qualidade das estradas, além de fomentar o acesso à assistência técnica e à capacitação de jovens, são estratégias essenciais para transformar a realidade desses municípios”, diz.

Porém, a falta de recursos para investimentos públicos e a baixa capacidade tributária de muitos desses municípios são desafios adicionais.

Sapezal investiu na qualificação da assistência técnica e em políticas públicas que promovem a sustentabilidade ambiental e a inclusão de pequenos produtores nas cadeias produtivas.

O município, diz Andrade, serve como exemplo de que, com a combinação de boa gestão pública, infraestrutura de qualidade e assistência técnica eficiente, é possível transformar o agronegócio em um motor de desenvolvimento.

“O agro pode realizar um grande avanço ao apoiar projetos mais qualificados de desenvolvimento rural, que realmente ajudem o território a elevar seus indicadores”, diz o executivo.

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