Revista Exame

Rio de Janeiro já vive a olimpíada do aluguel

O Rio de Janeiro é a quarta cidade com a maior oferta de imóveis do Airbnb — uma ótima notícia para quem vai receber 1 milhão de visitantes em agosto

Lucas Herdy, anfitrião do site Airbnb: o aluguel de apartamento rende até 5 000 reais por mês (Eduardo Zappa/Exame)

Lucas Herdy, anfitrião do site Airbnb: o aluguel de apartamento rende até 5 000 reais por mês (Eduardo Zappa/Exame)

DR

Da Redação

Publicado em 14 de março de 2016 às 05h56.

São Paulo — Há três anos, o carioca Lucas Herdy, de 27 anos, decidiu investir na reforma de um apartamento que a família tem em Copacabana. Trocou o piso de madeira e caprichou na decoração. Tudo para agradar a um novo tipo de inquilino: o turista.

Herdy cadastrou o apartamento no site americano Airbnb, maior plataforma online de aluguel para temporada, e hoje cobra diárias que chegam a 800 reais nos feriados mais concorridos. Nos melhores meses, diz fazer mais de 5 000 reais, quase três vezes o valor de um aluguel na região. Mas é em agosto que Herdy pretende bater todos os recordes.

Diferentemente do que aconteceu na Copa do Mundo, nos Jogos Olímpicos quase todas as disputas esportivas estarão concentradas no Rio de Janeiro, cidade com um número de leitos insuficiente para receber o volume esperado de turistas.

De acordo com o Comitê Olímpico Internacional, o Rio de Janeiro deve receber ao longo de duas semanas até 1 milhão de visitantes para os Jogos Olímpicos — dos quais, 380.000 estrangeiros. Uma parte é formada pelas delegações de 206 países e por jornalistas.

Para acomodar os atletas e os treinadores, o comitê organizador construiu 8.000 apartamentos no Parque Olímpico e contratou um navio de cruzeiro com capacidade para 3.700 pessoas. Como essas acomodações ainda não serão suficientes, o comitê reservou 25 000 quartos de hotéis, deixando menos de 40.000 vagas para quem vai ao Rio de Janeiro como turista.

É essa conta que faz Herdy e milhares de cariocas ver no evento esportivo uma chance de ganhar muito dinheiro. Atualmente há cerca de 20.000 unidades disponíveis para aluguel no Rio de Janeiro pelo Airbnb — entre apartamentos, casas e quartos. Isso coloca a cidade na quarta po­si­ção do mundo, atrás apenas de Pa­ris, Nova York e Londres. Desse total, cerca de 8.500 unidades já estão reservadas ­para a Olimpíada.

A demanda também é alta nos principais concorrentes do Airbnb, como Alugue Temporada, ­Voltem.com e TripAdvisor. “Tivemos um crescimento grande no período da Copa do Mundo, quando um a cada cinco visitantes do Rio de Janeiro se hospedou pelo nosso site”, diz Joe Gebbia, cofundador do Airbnb. Graças à tecnologia, o hábito de alugar uma casa nas férias se disseminou.

Para os viajantes, é uma forma de viver a experiência local. Para quem aluga, é a chance de ganhar um dinheiro. Para os sites, um negócio bilionário. No setor de turismo, nenhuma empresa cresce tão rápido quanto o Airbnb. As transações no site mais do que quadruplicaram entre 2012 e 2014 e hoje estão em 3,7 bilhões de dólares.

“Não é um exagero dizer que esse modelo de aluguel representa uma ruptura nos negócios de hotelaria”, afirma Wouter ­Geerts, analista do setor de turismo da Euromonitor. O sucesso do site tem gerado em várias partes do mundo uma saraivada de críticas do setor hoteleiro, o mais afetado pelas plataformas online de hospedagem. 

Em algumas cidades da Europa e dos Estados Unidos, o lobby dos hotéis resultou em leis e impostos. Por considerar que os sites de aluguel por temporada representam uma competição desleal com os hotéis, Amsterdã impôs um imposto de hospedagem. Em 2015, a cobrança sobre o Airbnb rendeu 5,5 milhões de euros, 12% do que a cidade arrecada com o imposto de hotéis.

Nos últimos dois anos, outras cidades seguiram o mesmo caminho. A lista inclui Paris, Washington, Chicago e São Francisco, onde fica a sede do Airbnb. Nova York não criou uma taxa, mas tem promovido um debate sobre os excessos que esse modelo pode causar. Um dos efeitos indesejados é o surgimento de investidores que compram vários apartamentos para alugar por temporada.

Ao fazer isso, acabam diminuindo a oferta de imóveis, elevando o valor dos aluguéis de longa duração e expulsando quem trabalha em Manhattan para regiões mais distantes.

Para a britânica Rachel Botsman, uma das maiores especialistas em economia colaborativa, práticas assim acabam com a ideia de compartilhamento, quando as pessoas abrem parte de sua casa para receber hóspedes que conheceram com a ajuda de sites. “Se alguém oferece várias propriedades para alugar, passa a ser dono de um pequeno negócio”, diz.

No Brasil, a discussão ainda é tímida, mas promete esquentar. Até agora, os proprietários têm se baseado na Lei do Inquilinato, que libera o aluguel por temporada. Mas um projeto de lei atualmente em discussão no Senado quer mudar as regras.

Apoiado pelo setor hoteleiro, o projeto propõe que os donos de imóveis sejam obrigados a obter um registro no Ministério do Turismo — uma tentativa de usar a burocracia para barrar o avanço das plataformas. Mais à frente, espera-se uma nova investida do setor hoteleiro.

“Ganhamos um novo concorrente que não paga tributo nenhum”, diz Dilson Fonseca Júnior, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis. A apenas cinco meses do início da Olimpíada, é pouco provável que um novo imposto seja criado a tempo de valer durante os Jogos. Ou seja, Herdy e os outros proprietários de imóveis do Rio de Janeiro registrados no Airbnb já podem contar com o ouro.

Acompanhe tudo sobre:Airbnbaluguel-de-imoveisApartamentoscidades-brasileirasEdição 1109EmpresasImóveisMetrópoles globaisOlimpíada 2016OlimpíadasRio de JaneiroTripAdvisorTurismo

Mais de Revista Exame

Borgonha 2024: a safra mais desafiadora e inesquecível da década

Maior mercado do Brasil, São Paulo mostra resiliência com alta renda e vislumbra retomada do centro

Entre luxo e baixa renda, classe média perde espaço no mercado imobiliário

A super onda do imóvel popular: como o MCMV vem impulsionando as construtoras de baixa renda