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Novo plano diretor e revitalização do centro levam Rio à liderança de lançamentos em 2024

Com crescimento de lançamentos e valorização de imóveis, a capital fluminense vê revitalização do centro e começa a surfar a onda de imóveis compactos

Desaceleração do aumento dos preços de locação: índice passou de 20% para 8,5%, não por desinteresse, mas por maior oferta  (Rudschmi/Getty Images)

Desaceleração do aumento dos preços de locação: índice passou de 20% para 8,5%, não por desinteresse, mas por maior oferta (Rudschmi/Getty Images)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 21 de novembro de 2024 às 06h00.

Última atualização em 21 de novembro de 2024 às 14h58.

Bastante esperada pelas incorporadoras, a sanção do novo plano diretor em janeiro renovou o fôlego do setor de construção no Rio de Janeiro. A cidade lidera as capitais brasileiras em crescimento de lançamentos de imóveis. O aumento foi de 23% para novos imóveis nos primeiros nove meses deste ano, superando de longe os 5% de crescimento nacional, segundo dados do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Rio de Janeiro (Sinduscon-Rio). 

“As vendas cresceram 18%, deixando um estoque correspondente a apenas sete meses”, diz Claudio Hermolin, presidente do Sinduscon-Rio. Comumente aquecido, o mercado de São Paulo cresceu 13% em vendas de janeiro a setembro. Os dados do Índice FipeZap reforçam a percepção de recuperação no Rio. Os preços avançaram 2,7% em 12 meses encerrados em setembro de 2024, maior patamar desde 2021. Naquele ano, o cenário era ainda mais complexo, pois os períodos anteriores eram de queda de preços.

O grande destaque do último ano é a região central, que teve mais lançamentos do que os grandes canteiros de obras da cidade, como a Barra da Tijuca. Houve muito incentivo da prefeitura, não só com a aprovação do novo plano diretor, mas com mais medidas do programa Reviver Centro. Entre elas o bônus imobiliário, a isenção de ITBI e algumas isenções de IPTU, por exemplo. Com novos estímulos para projetos imobiliários, a região do Porto Maravilha chegou a 14 lançamentos neste ano, afirma Hermolin, destacando que a zona norte também é favorecida pelo novo plano diretor por ser bem servido de infraestrutura, com destaque para o transporte público. 

Com o metro quadrado mais caro, bairros da zona sul, como Lagoa, Leblon e Ipanema, têm vivido um momento de efervescência, com o mercado de alto padrão e de luxo mostrando resiliência e respondendo por mais de 60% do valor de vendas de janeiro a setembro de 2023. Ao mesmo tempo, o setor de imóveis corporativos também esbanja saúde, com vacância na casa de apenas 6%, conforme observa Hermolin. A visão é compartilhada por Leonardo Schneider, vice-presidente do Sindicato da Habitação do Rio de Janeiro (Secovi-Rio). “Há uma retomada dentro da zona sul. São poucos terrenos, onde não se ganha na escala, mas na qualidade.” 

Parte desse avanço tem a ver com o ainda aquecido mercado de locação. Depois de uma alta de 20% na variação dos preços de locação, o aumento nos últimos 12 meses foi de 8,5%, de acordo com os dados do Índice FipeZap. O bairro que mais valorizou nos últimos 12 meses, de acordo com levantamento do Secovi-Rio, foi Jacarepaguá, num salto de 21,8% para 46,98 reais por metro quadrado. Ainda assim, Ipanema e Leblon continuam na dianteira de preços, com 108,24 reais e 114,33 reais por metro quadrado, respectivamente. 

A desaceleração no crescimento consolidado dos preços de locação, no entanto, não decorre de desinteresse. Ainda há fila para alugar imóveis de três quartos em bairros valorizados. O que reduz o ímpeto dos preços agora é o excesso de oferta, diz Schneider. Cartão-postal e destino turístico famoso no país, o Rio de Janeiro entrou na rota dos eventos. Neste ano, recebeu mais uma edição do Rock in Rio e reuniu 1,6 milhão de pessoas na Praia de Copacabana para o show de 40 anos de carreira da cantora pop Madonna. Em novembro, a região central da cidade será palco da Cúpula de Líderes do G20, reunindo chefes de Estado e governo das principais economias globais.

Essa vocação da cidade tem despertado o interesse em imóveis para locação de curta temporada. Tradicionalmente, esses imóveis eram apartamentos familiares, dentro de condomínios residenciais, e não pensados para esse fim. “O que está acontecendo hoje é haver mais imóveis preparados para isso, empreendimentos só voltados para locação”, diz Schneider.

O Gate by Yoo, lançamento da Cyrela em frente ao Aeroporto Santos Dumont, exemplifica essa tendência. No empreendimento, serão 575 estúdios e área de lazer com piscina, academia, spa e espaço de coworking. Os proprietários podem colocar os imóveis numa plataforma para o sistema de reservas, até o marketing e limpeza do imóvel após o uso.   

“Há muito espaço para crescer. Dos 190.000 imóveis compactos lançados no último ano, 140.000 foram em São Paulo”, comenta Hermolin. O Rio ficou em quinto lugar, atrás de Curitiba, Salvador e Porto Alegre, mas, em dois anos, os lançamentos desse tipo cresceram 35%, enquanto a oferta de imóveis de quatro dormitórios recuou 40%, conforme dados do Secovi-Rio.

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