Rio de Janeiro: mercado de aluguel pode perder força, enquanto vendas esperam retomada (Cássia Roriz/Exame)
Repórter de Invest
Publicado em 26 de outubro de 2023 às 06h00.
O mercado de aluguel no Rio de Janeiro é um dos mais aquecidos entre as capitais brasileiras. Depois de um salto de 16,4% na variação dos preços de locação no ano passado, a alta dos últimos 12 meses foi de 20%, de acordo com os dados do Índice FipeZap+. O aquecimento ganhou tração nos últimos dois anos, acompanhando a alta dos juros, que reduziu o poder de compra e fez os recursos das vendas migrarem para os aluguéis.
O ambiente macroeconômico levou os preços dos aluguéis cariocas para uma nova máxima, na avaliação de Leonardo Schneider, vice-presidente do Sindicato da Habitação do Rio de Janeiro (Secovi-Rio). “Após o boom imobiliário da Olimpíada, muitos imóveis foram colocados para locação como investimento. O pós-pandemia foi um divisor de águas nessa tendência, que agora se aproxima de um pico histórico em termos de preço.”
O preço do metro quadrado para aluguel chegou a 40,23 reais em agosto, segundo dados do Secovi. Um apartamento de 60 metros quadrados é alugado, em média, por 2.410 reais. O valor fica mais salgado na zona sul, onde o metro quadrado médio vale 73,09 reais. Em bairros como Ipanema, Leblon e Copacabana, alugar um imóvel do mesmo tamanho envolve um desembolso maior, em torno de 4.380 reais. A tendência para os próximos meses, segundo Schneider, é que os preços dos aluguéis se estabilizem à medida que a taxa Selic mantenha o ritmo de queda.
Depois de uma alta mais expressiva em 2021, os dois anos seguintes não engataram nas vendas, que avançaram apenas 1,2% nos últimos 12 meses. Dados do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Rio de Janeiro (Sinduscon-Rio) mostram que o volume de lançamentos desacelerou 46% na capital do estado entre o primeiro semestre de 2022 e o mesmo período deste ano. Ou seja, o pouco que foi consumido em vendas veio dos imóveis já prontos, os chamados estoques.
“O primeiro motivo para essa queda acentuada de lançamentos é um movimento nacional de dificuldade em um cenário de juros acima dos dois dígitos. Agora, com a expectativa de queda, podemos visualizar uma melhora no cenário”, afirmou Claudio Hermolin, presidente do Sinduscon-Rio. Outro ponto que tem segurado os lançamentos no Rio é o novo plano diretor da cidade, que pode ser votado em novembro após dois anos de discussões. “O mercado fica em compasso de espera para entender como se adaptar às novas regras”, comentou.
Enquanto o Plano Diretor não vem, o foco fica com o Reviver Centro, projeto de revitalização que teve a segunda fase sancionada em outubro. A iniciativa visa mudar a vocação comercial do centro do Rio de Janeiro e transformá-lo em uma região residencial. A prefeitura concede benefícios fiscais incentivando a construção de empreendimentos e, principalmente, as modificações via retrofit — obras de atualização e modernização de construções antigas.
A Cury foi uma das construtoras que aderiram ao projeto, com o lançamento de um prédio de 360 unidades na Avenida Presidente Vargas, uma das mais centrais da cidade.. “É uma avenida que não via um lançamento residencial havia pelo menos 50 anos”, disse Leonardo Mesquita, vice-presidente comercial da Cury.
Mesquita comenta que o Reviver Centro deve seguir os passos do Projeto Porto Maravilha, que foi lançado em 2010 para revitalizar a região portuária do Rio – vizinha à área hoje abarcada no Reviver Centro. “São projetos complementares que, somados ao plano diretor, vão permitir o adensamento nas regiões com mais infraestrutura e transporte, trazendo mais moradores para a região central. É uma mudança de perspectiva, transformando em oportunidade áreas que hoje estão degradadas ”, disse. Para a segunda fase do Reviver Centro, o Sinduscon-Rio espera o lançamento de 2.100 unidades residenciais nos próximos 18 meses.
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