Revista Exame

Rick Perry: do Texas para Washington?

Rick Perry, o governador do Texas que sonha em chegar à Casa Branca, diz ter a solução para o desemprego, a maior dor de cabeça dos eleitores. Franco-atirador ou uma ameaça a Obama?

O governador Rick Perry em ação: para  seus críticos, ele é pior do que Bush; para os defensores, ele tem a chave para reerguer o país (Chip Somodevilla/AFP Photo)

O governador Rick Perry em ação: para seus críticos, ele é pior do que Bush; para os defensores, ele tem a chave para reerguer o país (Chip Somodevilla/AFP Photo)

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Da Redação

Publicado em 13 de outubro de 2011 às 10h29.

São Paulo - Seus detratores não perdoam. Para eles, Rick Perry, governador do Texas desde 2000, é um “Bush sem cérebro” — e olhe que o ex-presidente não é exatamente um Einstein.

Dada a frequência com que usa frases sem sentido aparente, Perry não parece preocupado com as críticas. Seu sonho é seguir os passos de Bush, de quem foi braço direito quando ele governou o estado, e também chegar à Casa Branca. 

Um dos pré-candidatos republicanos mais populares para a eleição presidencial do ano que vem, o governador do Texas, um evangélico de 61 anos, tem mostrado suas credenciais com base no desempenho de seu estado.

Seu maior cartão de visita é o fato de que, desde 2009, o Texas foi responsável por cerca de 40% dos empregos gerados nos Estados Unidos.

Na última década, sob a  gestão de Perry, o setor privado texano criou quase 800 000 postos de trabalho, enquanto o país como um todo assistiu, incrédulo, ao desaparecimento de 1,4 milhão de empregos.

Perry, claro, atribui esse desempenho à sua política conservadora, segundo a qual “quanto menor o governo, melhor o governo”. Trata-se de um ataque endereçado ao presidente Barack Obama e seus pacotes para tentar reanimar a economia — o último foi anunciado no começo de setembro.

Dessa forma, Perry tenta vender o sonho de que é possível replicar o “milagre” texano em escala nacional. Coloca-se como o homem capaz de reverter o desemprego, que estancou acima de preocupantes 9%, sem aumentar o já elevado endividamento do país. 

Tanto barulho gerou um exame mais detalhado da situação do Texas. O governador adotou políticas corajosas que resultaram na criação de empregos ou foi empurrado por uma maré favorável?


Quando Perry sucedeu Bush no governo do estado, o barril do petróleo valia 25 dólares e o setor de petróleo e gás, um dos mais importantes da economia local, estava em declínio.

Ainda em seu primeiro mandato, a tendência mudou: movida pela sede asiática, o valor das commodities começou a decolar e, em 2008, o preço do barril batia em 147 dólares.

Mesmo após o estouro da crise econômica mundial, o barril tem se mantido, na maior parte do tempo, acima dos 80 dólares, o que garante, direta ou indiretamente, um terço dos empregos do Texas. Fora isso, o setor de petróleo e gás gera uma arrecadação que equivale a 20% do orçamento do governo estadual. 

Na mesma linha da maré favorável, Perry contou com a mão visível do governo federal. Como a Nasa e grandes bases militares têm operações no estado, o Texas viu os investimentos de Washington mais que dobrar na última década, para cerca de 200 bilhões de dólares por ano.

Tudo somado, chega-se à conclusão de que, desde 2007, quando a crise começou a bater à porta dos americanos, o ritmo de criação dos empregos públicos no Texas tem sido maior do que o dos privados — um sacrilégio para um republicano da gema.

“Perry se beneficiou de muitas vantagens circunstanciais. Seu maior mérito foi não ter atrapalhado. Ou seja, ele não adotou políticas que poderiam barrar a criação de postos de trabalho”, diz Mark Jones, professor de ciências políticas na Universidade Rice, em Houston.

Perry, até mesmo parte de seus críticos reconhece, teve seus acertos. Conse­guiu aprovar uma lei estadual que diminuiu o número de processos trabalhistas contra empresas. Isso impulsionou ainda mais a geração de empregos.


Ele também reduziu impostos sobre o mercado imobiliário, tornando as propriedades mais baratas tanto para empresas como para residências, e não mexeu em outras leis que fazem do Texas um dos estados mais atraentes para investidores. Não existe imposto de renda para pessoa física nem para empresas.

Falta de transparência

Em seus dois mandatos, a polêmica ficou por conta dos fundos que começou a lançar em 2003. Com dinheiro público, esses fundos investem em empresas que escolhem o Texas como base ou ampliam suas instalações já existentes — o estado tem uma posição estratégica para projetos voltados para o comércio entre os Estados Unidos e o México.

O governo subsidia parte dos investimentos de companhias de setores que considera estratégicos. Pelas contas do governo texano, esses fundos investiram cerca de 1 bilhão de dólares nos últimos oito anos, contribuindo para a geração de empregos. 

O problema, dizem os críticos, é a falta de transparência no processo de escolha de quem recebe o dinheiro estatal. De acordo com o jornal The Dallas Morning News, pelo menos 16 milhões de dólares foram aplicados em empresas com fortes ligações com os maiores doadores de campanha do governador.

Mesmo uma parte dos conservadores faz restrições à política de Perry. Uma avaliação recente do programa de incentivos do Texas feita pelo Club for Growth, ONG conservadora com sede em Washington, diz que “o governador Perry parece ser mais pró-empresas do que pró-livre mercado”. 

Como disse a EXAME o economista Joel Kotkin, professor da Universidade Chapman, o que vale para os eleitores, no fim das contas, é que o Texas tem gerado empregos para uma população crescente, enquanto a maioria dos estados está sofrendo para manter os postos existentes ou perdendo vagas.

Para os 14,5 milhões de americanos desempregados, a pergunta é se Perry conseguiria replicar nacionalmente o fenômeno texano. Ninguém tem a resposta, mas o fato é que elementos centrais da receita texana, calcada no petróleo, na proximidade com o México e nos incentivos fiscais, não valem para o país como um todo.

De todo modo, antes de convencer os desempregados de que tem as respostas, Perry precisa ganhar corações e mentes de seu próprio partido, ainda indeciso em meio a 11 pré-candidatos. Para ser um novo Bush, ele ainda vai ter de suar a camisa.

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