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Revolução nos balcões

O sucesso dos coquetéis sem álcool obriga os bartenders a se reinventar

Drinque Tampico, do bar Tan Tan, em São Paulo: dill e maracujá entre os ingredientes  (Tan Tan/Divulgação)

Drinque Tampico, do bar Tan Tan, em São Paulo: dill e maracujá entre os ingredientes (Tan Tan/Divulgação)

Daniel Salles
Daniel Salles

Repórter

Publicado em 6 de novembro de 2024 às 06h00.

Última atualização em 6 de novembro de 2024 às 12h23.

Foi-se o tempo em que os abstêmios eram obrigados a se contentar com água, suco ou refrigerante. A busca cada vez maior por opções sem álcool motivou tanto a indústria de bebidas quanto restaurantes e bares a ofertar alternativas bem mais atraentes para esse público.

Nos estabelecimentos que dão a devida atenção para a coquetelaria, o resultado desse esforço salta aos olhos. “Os coquetéis sem álcool viraram uma tendência que obriga os bartenders a quebrar a cabeça para criar opções que saem do óbvio”, observa o mixologista Alex Mesquita, do Elena, no Rio de Janeiro.

Drinques do tipo ainda estão longe de ameaçar o reinado das versões etílicas. Mas ganharam espaço cativo em boa parte dos bares. É o caso do Santana Bar, em Pinheiros, comandado pelo bartender Gabriel Santana. Em agosto, por exemplo, o endereço serviu 2.590 coquetéis alcoólicos — e 197 sem uma única gota de álcool.

Em resumo, o estabelecimento prepara versões não etílicas de praticamente todos os drinques listados no cardápio. O Ativista, por exemplo, leva Tanqueray London Dry, tônico caseiro de laranja, chá verde, capim-cidreira e hortelã (45 reais). Já a versão para abstêmios combina hortelã, cidreira, chá verde e laranja (30 reais).

No bar Cordial, outro empreendimento do mesmo bartender — este fica no Centro paulistano, perto do Copan —, um dos drinques não alcoólicos de maior sucesso é o Mai Mai (18 reais). Leva rum caseiro sem álcool, cordial de laranja, amêndoas e limão-taiti. Outro hit é o Gin Ger, união de gim caseiro sem álcool, uva, hortelã, flor de sabugueiro e chá verde com gengibre (18 reais).

Os bares do chef Thiago Bañares também se esforçam para cair nas graças da turma que prefere não se alcoolizar. O balcão do Tan Tan expede, por exemplo, o Lady B (38 reais) e o Tampico (35 reais). O primeiro combina cacau, mate, caju e tônica, enquanto o outro mistura cordial de acerola, dill, maracujá e elixir de priprioca. No The Liquor Store, outro empreendimento de Bañares, tem boa saída o Outsider, que leva tônica, figo e carambola (35 reais).

Banana daiquiri, do Santana Bar: coquetéis sem álcool ganham espaço no balcão da casa (Tales Hidequi/Divulgação)

Outro entusiasta dos coquetéis sem álcool é o bartender Tai Barbin. Em seu bar, o Liz Cocktail & Co, no Leblon, ele costuma vender cerca de 100 drinques do tipo a cada mês — e mais de 2.600 dos tradicionais. Um dos não alcoólicos de maior sucesso é o Like a Real Virgin (21 reais). Leva Ginger Ale, shrub de morango, abacaxi e laranja.

Sinal inequívoco de que algo está mudando é a presença cada vez maior das cervejas sem álcool em bares e supermercados. No Brasil, a marca que lidera o segmento é a Heineken. A variedade 0.0, que foi lançada em 2019, já representa 5% do volume de vendas e 10% do faturamento local da marca (esses números não levam em conta outros produtos do grupo, como Eisenbahn e Amstel). Por enquanto, variedades do tipo representam só 1% do mercado de cervejas no Brasil.

Até a indústria de vinhos está inclinada a suprir esse nicho. A Henkell Freixenet, por exemplo, já lançou um vinho branco, um rosé e um tinto sem álcool, além de espumantes. Produtos do tipo são elaborados da mesma maneira que as variedades etílicas. A diferença é uma etapa extra, responsável pela desalcoolização. Consiste em aquecer a bebida para que o álcool evapore — tudo é feito a vácuo, para preservar ao máximo as características aromáticas.

A Wine Intelligence afirma que 48% dos consumidores de vinho em todo o mundo estão moderando a ingestão de ­álcool, o que se deve, principalmente, à preocupação com a saúde. Já a International Wines and Spirits Record (IWSR) diz que as variedades não alcoólicas vão representar 4% do mercado de bebidas até 2027.

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