Revista Exame

Os retratos do Brasil real, do doleiro ao operário morto

A carona do deputado no jato particular pertencente a um doleiro. A morte de um operário por falta de segurança na obra do estádio. A intolerância com ideias contrárias. Eis três exemplos do país como ele é


	O “imprudente”: o deputado André Vargas, vice-presidente da Câmara, diz que se descuidou ao viajar de favor 
 (Laycer Tomaz/Câmara dos Deputados)

O “imprudente”: o deputado André Vargas, vice-presidente da Câmara, diz que se descuidou ao viajar de favor  (Laycer Tomaz/Câmara dos Deputados)

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Da Redação

Publicado em 14 de maio de 2014 às 09h21.

São Paulo - Alguns retratos do Brasil como ele realmente é hoje podem ser úteis para o leitor perceber com mais clareza onde foi amarrar seu burro, após 11 anos e meio de governo do ex-presidente Lula, da presidente Dilma Rousseff e do PT em geral. Vamos a eles.

1. O deputado federal André Vargas era até outro dia um dos gigantes do PT na Câmara. Conseguia, ao mesmo tempo, ser um executor de tarefas importantes para Dilma no Congresso, ajeitar-se no coro do “Volta, Lula” e representar o PT imaginário “das lutas” pela criação de um “regime popular” no Brasil — em algum momento no futuro, é claro, ainda sem data marcada.

Seu feito mais espetacular, nesse papel de revolucionário, foi levantar o punho esquerdo fechado para insultar o presidente do STF numa cerimônia na Câmara dos Deputados, da qual é vice-presidente. Hoje, o deputado Vargas é apenas uma ferida na testa de seu partido — e a mais nova estátua instalada no Panteão Nacional da Hipocrisia.

O santo homem, como se sabe após reportagem da jornalista Andreia Sadi na Folha de S.Paulo, foi pego em flagrante vivendo na intimidade de um doleiro preso pela Polícia Federal por lavagem de dinheiro. Como esse colosso da esquerda brasileira e o traficante de dinheiro podem estar no mesmo tacho? Vargas tentou sair dessa sinuca mentindo com as quatro turbinas em rotação máxima.

Começou dizendo que mal conhecia o homem. Mudou a história quando foi descoberto que se relacionava com ele há 20 anos. Disse, então, que, apesar desse longo convívio, jamais soube de qualquer ato ilegal do velho amigo. Também negou ter se beneficiado da amizade — até ficar provado que tinha usado o jatinho do doleiro para uma viagem pessoal com a família.

Fez isso, segundo explicou, porque as passagens aéreas estão muito caras, e ele tentou arranjar uma carona num avião particular — que, veja só a coincidência, pertence ao doleiro.

Disse que pagou “20 000 reais” pelo combustível — apenas para admitir, logo em seguida, que nunca tinha pagado um tostão furado pelo serviço que recebeu. Ultimamente, anda dizendo que talvez tenha sido “imprudente” ao voar no avião de um indivíduo que está no xadrez.

O grão-inquisidor petista, incansável inimigo da “moralidade burguesa”, é isso aí. O governo Dilma é isso aí.

2. Nossa presidente é também a imperatriz do “social”. Que prova maior disso do que o tratamento dado aos operários das obras da Copa? É verdade que, de tantos em tantos dias, morre alguém em acidentes de trabalho — mas não vamos perder de vista que não é possível fazer uma omelete sem quebrar uns ovos.

“Estamos fazendo de conta que não vemos as irregularidades”, admite o chefe do Ministério do Trabalho em São Paulo, onde morreu dias atrás mais um operário na obra de um estádio que o governo está dando de presente ao Corinthians.

A essa mesma altura, foi inaugurado outro estádio absurdo, o de Cuiabá. Aos trabalhadores foram reservados 1 000 lugares no jogo de estreia — sim, mas esses lugares eram no chão, e não nas cadeiras.

Nada como um governo do Partido dos Trabalhadores para cuidar bem dos trabalhadores.

3. O PT está se comportando no Congresso como a tropa de choque política de Hitler no Parlamento da Alemanha. Só nestes últimos dias, impediu a palavra do deputado Jair Bolsonaro, que elogiava os militares por sua ação em 1964; a sessão teve de ser encerrada, pois tinha se tornado inteiramente ilegal.

Tentou proibir que uma deputada de oposição na Venezuela fosse recebida na Câmara. E tem recorrido a todo tipo de violência regimental para impedir uma CPI destinada a investigar possíveis crimes cometidos na Petrobras — já que a empresa e o governo se recusam a apurá-los e se dispõem a tudo para não permitir que alguém apure. Por que, se garantem que está tudo 100% correto?

Uma mentira começa com a tentativa de fazer o que é falso parecer verdadeiro. Acaba no descrédito — quando mentira e verdade não podem mais ser diferenciadas uma da outra.

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