Cais das Artes, em Vitória: a obra começou em parceria com Paulo Mendes da Rocha (Divulgação/Divulgação)
Jonalista colaboradora
Publicado em 24 de abril de 2025 às 06h00.
A inauguração do anexo do Masp, no fim de março, é um dos grandes acontecimentos neste ano no mundo das artes. Por trás da obra está o Metro, o escritório de arquitetura dos sócios Martin Corullon e Gustavo Cedroni, com 25 anos de atuação. O novo edifício, que mudará a vida do mais importante acervo de arte da América Latina, é uma notícia a ser destacada. Mas há mais história para ser contada.
Além do anexo do Masp, que o Metro tocou em parceria com o arquiteto Júlio Neves, o escritório está à frente do Cais das Artes, em Vitória, no Espírito Santo. O museu e o teatro foram projetados em parceria com Paulo Mendes da Rocha há mais de 20 anos — o Metro foi um dos últimos escritórios a trabalhar com o mestre. Depois de dez anos no limbo, a obra foi retomada, e é muito provável que, por essa mesma época no próximo ano, vejamos o Metro ocupar novamente a mídia com a inauguração desse espaço, que eles mesmos chamam de “extraordinário, radical e planejado exclusivamente para o bem da cidade”.
Os 30.000 metros quadrados, localizados em uma área nobre da cidade e de frente para o mar, foram motivo de muita especulação, mas acabaram nas mãos do Estado e da cultura. Se for bem administrado, o Cais das Artes deverá colocar Vitória e o Espírito Santo na rota cultural brasileira. Também promete mexer na dinâmica da população capixaba, que terá acesso a mais programas educativos. “É uma obra pública plena, pensada para o bem-estar da cidade. Foi muito bacana reviver esse ideal”, diz Corullon.
Cedroni e Corullon: foco em prédios históricos (Bob Wolfenson/Divulgação)
Outro destaque do escritório é a especialização em retrofits, técnica com a qual eles têm transformado prédios antigos e subutilizados em edificações modernizadas — mas sem perder a ternura jamais. Além do edifício Renata, reinaugurado no final de 2023, o Metro está com 18 projetos do tipo em andamento, vários deles no centro de São Paulo. “Muitos desses prédios são legados arquitetônicos da cidade, tanto pela qualidade de materiais que não vemos mais quanto pela localização e integração com o entorno”, diz Cedroni. Em breve, o centro estará povoado por novos edifícios residenciais, sem varanda gourmet ou pilastras greco-romanas. Haverá vida onde havia abandono, sem cair na estratégia simplista, e altamente criticada pela dupla, de demolir o passado e a memória da cidade.
O Metro é um escritório que tem os dois pés fincados na valorização do espaço público e na história da cidade. O melhor de tudo? Eles garantem que não estão sozinhos. “Tem toda uma geração nova muito boa e disposta a mexer no status quo das coisas, gente que está disposta a olhar de verdade para a cidade”, diz Martin.