Barcos da Rolex SailGP na etapa de Cádiz, na Espanha: depois de duas largadas malsucedidas, a equipe Mubadala Brazil venceu a última regata nos momentos finais (Samo Vidic/SailGP/Divulgação)
Editor de Casual e Especiais
Publicado em 24 de outubro de 2025 às 06h00.
As duas primeiras corridas do segundo dia da etapa de Cádiz, na Espanha, foram decepcionantes para a Mubadala Brazil SailGP Team. Depois de largar mal, o time brasileiro amargou as últimas colocações. Na última regata do evento, porém, o vento virou a favor da equipe — literalmente.
O F50 brasileiro logo se posicionou em segundo lugar, atrás apenas do barco canadense. Na última boia, conseguiu a ultrapassagem. “Foi uma corrida muito tática, conseguimos largar bem e manter o barco voando na velocidade de que precisávamos para cruzar a linha em primeiro”, disse a capitã Martine Grael, bicampeã olímpica pelo Brasil.
A prova aconteceu no começo de outubro e faz parte do Rolex SailGP Championship, uma regata que está reinventando a modalidade da vela e trazendo um caráter de entretenimento a um esporte de nicho. Até o surgimento dessa categoria, em 2019, regatas eram acompanhadas quase só por aficionados.
As principais competições, como a America’s Cup e a Ocean Race, são off shore, ou seja, acontecem em alto-mar. Depois que os barcos largam, fica difícil acompanhar a disputa. O intervalo também é grande: os torneios acontecem a cada quatro anos.
Os fundadores do SailGP viram então uma oportunidade para um circuito que durasse o ano todo. As provas da competição são in shore, ou seja, próximas da costa, em um percurso delimitado e fácil de acompanhar pelos espectadores, pela TV ou mesmo ao vivo, em arquibancadas montadas na frente da regata. Na prova de Portsmouth, na Inglaterra, foram 10.000 torcedores. Na etapa de Genebra, em setembro, na qual a Casual EXAME esteve presente, os 5.000 ingressos esgotaram rapidamente.
As regras da competição são bastante simples — e essa é uma das razões de sua popularidade. São 12 equipes que disputam o Rolex SailGP, e o número vem crescendo a cada edição. Na primeira temporada foram seis. Para o ano que vem está previsto mais um, o Artemis, da Suécia. São times nacionais, com patrocínios de empresas. Em cada time, dos seis tripulantes, pelo menos metade precisa ser da nacionalidade do barco.
Acontecem 12 etapas por ano, cada uma em um país diferente. As provas são curtas, com duração de 12 minutos em média, e são realizadas em dois dias. Geralmente são três largadas no primeiro dia e três no segundo. Depois disso, os três primeiros colocados fazem uma última prova para ver quem fica em primeiro. O vencedor leva 10 pontos; o segundo colocado, 9; e assim por diante. Os dois últimos colocados não pontuam.
Todas as equipes competem com o mesmo barco, o F50, um catamarã que fica sobre a água, inspirado no AC50, usado na America’s Cup de 2017, mas com um novo design. “Não é o barco mais rápido que existe, mas é o barco mais rápido usado em competições”, explicou Andrew Thompson, diretor da disputa, durante a etapa de Genebra.
A maior parte do F50 é feita de fibra de carbono e titânio, materiais muito leves e resistentes. Três tamanhos de velas podem ser usados, de acordo com a intensidade dos ventos, de 18, 24 e 29 metros. No barco, os tripulantes precisam pensar rápido para fazer as manobras. Em alta velocidade, existe o risco de o barco perder estabilidade. “É um esporte extremo, perigoso, os tripulantes precisam ser muito experientes”, explica Thompson.
Os barcos podem atingir uma velocidade de até 100 quilômetros por hora. Mas existe um detalhe: o casco dos catamarãs nem sequer encosta na água. As embarcações estão equilibradas nas finas quilhas, suspensas no ar, como se voassem, o que torna o espetáculo ainda mais impressionante.
Cada prova é vista por cerca de 20 milhões de pessoas globalmente, graças a parcerias com emissoras como ZDF, na Alemanha; Blue Sport, na Suíça; Canal Plus, na França; TNT Sports e Sky, na Itália.
“Cerca de 20% da audiência já é de mulheres, e boa parte não acompanhava competições de vela antes”, disse Fiona Morgan, Chief Purpose Officer do Rolex SailGP. Nesse cargo, Morgan é responsável por promover a sustentabilidade e a inclusão no circuito. “Hoje é obrigatória a presença de pelo menos uma mulher em cada equipe. Meu objetivo é que seja metade.”
Para fazer parte do circuito, cada equipe precisa aportar 60 milhões de dólares, diz Thompson. O Rolex SailGP distribui, no total, 12,8 milhões de dólares. A equipe vencedora leva 2 milhões de dólares.
A Rolex está presente desde o início da modalidade, e desde o ano passado dá nome à competição. Com apenas uma etapa ainda para acontecer no ano, a de Abu Dhabi, no fim de novembro, a equipe brasileira, formada no ano passado, vem ganhando experiência. Por enquanto, está na penúltima colocação.
“Estamos em uma evolução constante, mas sempre queremos mais”, disse Martine Grael à Casual EXAME. “O que essa categoria tem de muito especial é a velocidade, os cruzamentos, muita coisa acontece ao mesmo tempo. O barco é muito tecnológico, as decisões são tomadas de forma muito rápida. Fora que os melhores velejadores do mundo estão aqui. É muito legal fazer parte disso.”
*O jornalista viajou a convite da Rolex