CULTURA 1
Guilherme Dearo
Publicado em 21 de maio de 2020 às 05h15.
Última atualização em 12 de fevereiro de 2021 às 13h01.
Depois de publicar em 2006 o premiado O Vulto das Torres, livro-reportagem sobre os atentados de 11 de setembro, o escritor americano Lawrence Wright pensou sobre o colapso da humanidade: o que levaria nossa sociedade a ruir? Essa ideia o instigou a escrever um roteiro de filme apocalíptico a pedido do diretor Ridley Scott, mas o projeto nunca saiu do papel. Três anos atrás, Wright decidiu retomar a ideia, dessa vez como romance. Assim, criou a história do microbiologista e epidemiologista Henry Parsons, que embarca em uma corrida contra o tempo para buscar as origens e a cura de um misterioso vírus letal de origem asiática que coloca a humanidade de joelhos. A história parece familiar?
A narrativa de The End of October, lançado em abril pela Knopf e sem previsão ainda para lançamento no Brasil, alia pesquisa científica com muito suspense. O médico viaja com a Organização Mundial da Saúde em busca de respostas para a doença, em um mundo de escolas fechadas, falta de respiradores e bolsas de valores quebradas. Ao mesmo tempo, o epidemiologista se envolve numa trama política ao descobrir que um homem infectado está prestes a quebrar a quarentena e a se unir a 3 milhões de peregrinos em Meca, local sagrado dos muçulmanos. No livro, os Estados Unidos são um dos países mais afetados pelo chamado “Kongoli virus” e sua doença hemorrágica que ataca os pulmões.
O livro, que terminou de ser escrito em meados de 2019, ganhou espaço entre os críticos na medida em que foge da ficção científica barata e mergulha num registro que aproxima a ficção da reportagem — herança da carreira jornalística do autor, com passagem pela revista The New Yorker e com um Prêmio Pulitzer na estante. The End of October traz detalhes do mundo da medicina e das vacinas, tornando cenas e fatos descritos verossímeis e assustadoramente próximos do noticiário contemporâneo.
O respeito por esse romance e sua acuidade ao imaginar de que forma uma pandemia nos moldes da gripe de 1918 aconteceria no século 21 vai no sentido oposto dos casos de fabricação de previsões, como as fake news que se espalharam pela internet nas últimas semanas em torno do livro The Eyes of Darkness, romance de 1981 do americano Dean Koontz. No contexto da Guerra Fria, Koontz escreveu sobre uma arma biológica criada em laboratório russo chamada Gorki-400. Anos depois, com o fim da União Soviética, a editora responsável mudou o nome da arma para Wuhan-400. Especialistas em teorias da conspiração se aproveitaram dessa mudança de nome para dizer que o livro previra que a covid-19 era uma criação do governo chinês para destruir o Ocidente. The End of October dificilmente será acusado de algo parecido. Mas a coincidência com o cenário atual não deixa de ser assustadora.
SÉRIE
Em dose dupla
Na nova série da HBO, I Know This Much Is True, Mark Ruffalo interpreta dois gêmeos envolvidos em um mistério familiar | Guilherme Dearo
Após uma maratona de cinco filmes da Marvel Studios no papel de Hulk, Mark Ruffalo volta à televisão para interpretar outro papel de dupla face, assim como o gigante verde dos quadrinhos. Em I Know This Much Is True, o ator encarna os gêmeos Thomas e Dominick Birdsey. Na cidade fictícia de Three Rivers, em Connecticut, Dominick precisa cuidar de seu irmão, esquizofrênico. Ao mesmo tempo, verdades do passado de sua família começam a vir à tona, como a relação dos irmãos com o padrasto Ray (John Procaccino).
Baseada no best-seller do The New York Times do escritor Wally Lamb, a minissérie foi criada, escrita e dirigida por Derek Cianfrance, diretor da nova geração que tem se especializado em dramas que exploram relações familiares e a realidade marginalizada e de pouca esperança da classe média branca americana, como em filmes como Namorados para Sempre e O Lugar Onde Tudo Termina. A ganhadora do Oscar Melissa Leo completa o elenco no papel da mãe da família Birdsey.
I Know This Much Is True | Seriado de Derek Cianfrance | Episódio inédito a cada domingo, até 14 de junho, na HBO