Daniela Manique: entre a herança familiar e cursos em escolas da França (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de Casual
Publicado em 22 de julho de 2022 às 06h00.
Última atualização em 23 de agosto de 2024 às 17h17.
Para Daniela Manique, presidente do Grupo Solvay na América Latina, a química vai além de sua profissão. Em suas memórias afetivas a ciência sempre esteve presente, mesmo que em uma configuração diferente de sua formação como engenheira química. Era na cozinha de suas bisavós e avós que aconteciam os encontros da família e onde hoje ela brinca com a filha de “laboratório de experiências”. “Afinal, culinária é química. Quer algo mais atual do que um pão de fermentação natural?”, compara a executiva.
As matriarcas moravam em Atibaia, no interior de São Paulo, e as memórias mais marcantes da casa aconteciam na frente do fogão. “Minha bisavó paterna era italiana e costumava fazer o prato preferido de cada um. Ela fazia cordeiro para um, macarrão para outro, bife à milanesa. Ela vivia na cozinha.” Era lá que, além de saírem pratos memoráveis, aconteciam as reuniões familiares. “A comida para mim sempre teve esse lado afetivo e de união da família, que põe todo mundo junto na mesa”, comenta.
Do interior de São Paulo para Moema, na zona sul paulistana, bairro onde Manique vive hoje com a família, a gastronomia ainda se perpetua como um hobby. Com a filha de 11 anos, ela costuma cozinhar bolos, cookies, pães e massa fresca. Porém, além das receitas especiais, diariamente Manique começa o dia na cozinha, preparando o café da manhã e adiantando as refeições do dia da família. “Às 6 horas da manhã coloco o molho de tomate para começar a apurar para o almoço”, diz.
Como trabalha no modelo home office desde o início da pandemia, ela costuma fazer as refeições em casa e em família. Alguns pratos são fixos no cardápio. Às quintas-feiras, por exemplo, são preparadas panquecas de carne gratinadas e doces com creme de avelã. Dessa forma, Manique consegue equilibrar o trabalho com reuniões internacionais, seu hobby e uma alimentação mais saudável.
As preparações seguem um caderno de receitas adaptado, “com letras da minha mãe, da minha avó e minhas. Fomos juntando as receitas para poder nos conectar um pouco”. As receitas tradicionais da avó são as mais complicadas, revela Manique. “Porque às vezes as medidas são difíceis de adaptar, como meia casca de ovo ou um cálice de cachaça. Eu não sei que cálice é esse, muito menos onde está”, conta rindo.
Além dos cadernos antigos, ela também recorre à televisão para ter novas ideias para os cardápios do dia a dia. Entre seus programas preferidos estão Cozinha Prática, da chef e apresentadora Rita Lobo, e Jantar o quê?, da chef Larissa Januário. “Elas dão ideias com poucos ingredientes, mas que dá para variar nas preparações. Em vez de só comer cenoura refogada, faço um suflê e um rocambole, por exemplo.”
Ainda que não tenham faltado referências para aprender a cozinhar, Manique também fez cursos na área. Quando se mudou em 2009 para Lyon, na França, para gerenciar as equipes globais de compras da Rhodia, morava ao lado de uma escola chamada Comme un Chef. “Nós fazíamos aulas em que aprendíamos a cozinhar e depois jantávamos o que havíamos preparado. Virou o programa de sexta-feira à noite para mim e meu marido.”
Na França ela também fez cursos de foie gras no instituto de Paul Bocuse e de macarons na famosa confeitaria Ladurée. Porém, segundo a empresária, os pratos requerem muita habilidade e não entram no cardápio de casa. “Para fazer o macaron é preciso um supercontrole dos processos, o forno precisa estar na temperatura exata, é preciso usar o termômetro o tempo todo para ver o ponto exato da junção dos caramelos com a clara. Foi legal fazer o curso e comer no final, mas, se perguntarem se eu faria em casa, acho difícil”, diz.
Viagens gastronômicas também marcaram a temporada na Europa. Alguns dos pratos marcantes que a executiva provou foi no restaurante La Pyramide, no Vale de Isère, como as lagostas servidas em três preparações diferentes. Mas o prato que realmente marcou Manique foi a sobremesa, quando chegou à mesa um piano de cauda de chocolate. “O instrumento tinha muitos detalhes, com pés e teclas, e era recheado com uma mousse”, lembra. “Fiquei até sem coragem de comer, mas estava tão lindo e depois estava delicioso. É o tipo de refeição que não sai da mente e marca muito profundamente.”
Ao retornar ao Brasil, Manique ficou inspirada pela culinária e decidiu prestar vestibular para gastronomia. O plano era se graduar para no futuro, ao se aposentar, abrir o próprio restaurante. Hoje ela lidera 2.100 pessoas na América Latina. “Mas subdimensionei o que é o trabalho de um restaurante. Acho que isso não é um plano de aposentadoria, mas de um começo de carreira.”
Cinco pratos que Manique domina na cozinha
→ Lasanha: “É um prato prático, pois já deixo montado de manhã e depois é só assar para o almoço ou o jantar”.
→ Salmão no papilote: “Já encomendo os filés limpos e porcionados”.
→ Panquecas: “São feitas semanalmente em uma panquequeira comprada em Nova York”.
→ Bolo de chocolate: “Não falta em casa; as amigas da minha filha entram em casa atrás do doce”.
→ Tiramissu: “Uso um mascarpone de uma marca específica e não uso biscoitos industrializados”.