Ademir Ferreira de Mello, cliente do Rabobank: o banco sugeriu mudanças para que ele consumisse menos combustível (Roberto Chacur)
Da Redação
Publicado em 14 de abril de 2011 às 12h21.
O agricultor Ademir Ferreira de Mello, dono de 6 000 hectares de lavouras e pastos em Campo Florido, no Triângulo Mineiro, vem se esforçando para cumprir à risca a legislação ambiental brasileira. No início de 2010, Mello centralizou em um único posto de combustível o abastecimento de seus tratores e colheitadeiras, e um pequeno veículo passou a ser responsável por levar o diesel até as lavouras. Até então, havia três postos, e eram as máquinas que se deslocavam freneticamente até eles para ser abastecidas. Com a mudança, no último ano o ir e vir cessou e o consumo de diesel diminuiu, assim como as emissões de gases causadores do efeito estufa. Além disso, Mello fez melhorias nas instalações do posto para proteger o solo das contaminações que podem ocorrer devido ao vazamento de combustível. As mudanças não foram fruto do relacionamento do fazendeiro com uma ONG ambientalista ou com um órgão regulador. Quem mais o influenciou e o orientou nessa área foi um banco — o Rabobank, instituição financeira da qual ele é cliente há quatro anos. “Enquanto os bancos de varejo apenas nos pedem documentos, o Rabobank se preocupa em nos ajudar a entender a legislação ambiental”, diz Mello.
Fundado na Holanda no final do século 19 como uma cooperativa de crédito agrícola, o Rabobank está no Brasil desde a década de 90. Foi só em 2004, porém, que a instituição começou a oferecer crédito para produtores rurais. Dois anos depois, conseguiu aprovar uma política socioambiental e começou a considerá-la nas análises de risco para a concessão de empréstimos. Até aí, pelo menos na teoria, o que o Rabobank passou a fazer não é algo do outro mundo. Não há hoje sequer uma instituição financeira no Brasil — seja ela privada ou pública — que não alardeie fazer o mesmo. O que diferencia a operação brasileira do Rabobank é o fato de que ele transforma esse discurso em prática, e de uma maneira peculiar. Além de pedir a documentação necessária ao agricultor ou pecuarista, como a de outorga da água e a licença ambiental, agrônomos do banco visitam anualmente as propriedades. Eles checam in loco o estado das áreas de preservação permanente às margens de rios ou nascentes, a gestão do lixo, o conforto dos banheiros destinados aos funcionários e as condições do solo dos pastos e das lavouras, entre outros aspectos.
Avaliação de risco
A visita do agrônomo dá origem a um perfil socioambiental do cliente, que também responde a um questionário com cerca de 30 perguntas. Essas informações, associadas àquelas que são inerentes à atividade agrícola, são usadas para determinar o risco do produtor rural para o banco, que pode ser classificado como muito bom, bom, regular ou inaceitável. Atualmente, 66,5% dos clientes da carteira rural do Rabobank têm desempenho socioambiental considerado muito bom e, como recompensa, ganham 0,5% de desconto nos juros dos empréstimos, cujas taxas o banco não revela. O percentual de produtores com acesso ao desconto já foi maior no passado. Em 2007, chegou a 76,8%. A redução desse percentual está associada à entrada de novos clientes e ao aumento no rigor das visitas às fazendas. “No início, os agrônomos ainda não tinham olho clínico para identificar os problemas ambientais nem certeza de que o banco iria mesmo apoiá-los em suas decisões”, diz Daniela Mariuzzo, gerente de responsabilidade socioambiental do Rabobank. “Mas isso mudou.” O banco não revela a classificação individual de seus clientes, mas Mello, o produtor de Minas Gerais, afirma que ainda não recebe o desconto — um sinal de que mais mudanças devem ser feitas em sua fazenda.
Para motivar os produtores rurais a adotar suas premissas ambientais, o Rabobank promove os chamados “dias de campo”. Neles, cerca de 60 agricultores e pecuaristas — entre clientes e não clientes — são convidados a passar uma manhã em uma fazenda discutindo boas práticas socioambientais com Daniela e com gerentes comerciais. De 2008 para cá foram realizados dez desses encontros. Neste ano, a prática será levada, com as devidas adaptações, para outros países onde o banco atua, como Estados Unidos, Austrália e Chile. Essa será apenas mais uma iniciativa que deverá chamar a atenção das ONGs ambientalistas globais para o banco. Aqui e no exterior, os executivos do Rabobank estão entre os mais ativos participantes do mercado financeiro nas mesas-redondas que tentam estabelecer padrões responsáveis de produção na pecuária e nas culturas de soja, palma, cana, algodão e cacau. Graças a essas posturas, o Rabobank costuma ser poupado durante os protestos da combativa BankTrack, rede internacional de entidades que monitora a coerência das estratégias de sustentabilidade dos bancos no mundo todo. “Digamos que o Rabobank é responsável”, diz Johan Frinjs, coordenador da rede. “Melhor que a maioria de seus concorrentes.”