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Proteja o negócio das brigas de família

1 - Sou diretor de uma empresa da qual minha irmã é sócia majoritária. A filha dela, também diretora, não entrega resultados e recebe uma remuneração incompatível. Minha irmã reconhece o problema, mas não faz nada. Alguma sugestão de como eu poderia ajudá-la? Anônimo É comum que os donos pensem e ajam como se a empresa fosse […]

Ilustração - Matrioscas (Francisco Martins/EXAME.com)

Ilustração - Matrioscas (Francisco Martins/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 15 de julho de 2014 às 20h09.

1 - Sou diretor de uma empresa da qual minha irmã é sócia majoritária. A filha dela, também diretora, não entrega resultados e recebe uma remuneração incompatível. Minha irmã reconhece o problema, mas não faz nada. Alguma sugestão de como eu poderia ajudá-la? Anônimo

É comum que os donos pensem e ajam como se a empresa fosse a extensão de sua casa ou família. Existe uma razão bem objetiva que mostra que esse é um erro. Uma empresa representa um bem público. É dali que muitas vezes centenas ou milhares de pessoas tiram seu sustento. Ser empresário implica uma tremenda responsabilidade social.

Dessa maneira, devemos tratar nossas empresas como fonte de trabalho e riqueza para a sociedade. O sócio tem sua remuneração por meio do dividendo e, a partir daí, faz o que bem entender com os recursos. Pela minha experiência, a vasta maioria dos empresários acaba por investir seus dividendos em mais empresas. 

O único privilégio do sócio deve ser o dividendo. Mais nada. Dito isso, devem trabalhar na empresa as pessoas que provem ter mérito para ocupar sua posição, mérito comprovado por resultados e avaliação do desempenho. Se as empresas forem tratadas assim, o Brasil será um país melhor e os sócios serão mais ricos.

Esse é o raciocínio que deve prevalecer. Para garantir essa maneira de pensar, sugiro avançar na governança da empresa. O primeiro passo é explicar a todos os sócios o que isso significa. Mostre que, para defender os interesses dos sócios e da família, o melhor é ter uma governança adequada e que dê segurança a todos de que o futuro será muito bom. 

Procure sua irmã e veja se é possível elaborar um acordo de acionistas que dê a todos clareza sobre as regras do jogo. Na maior parte dos casos, a melhor decisão é colocar a família num conselho sem remuneração e nomear uma diretoria só de profissionais. Os sócios teriam sua remuneração nos dividendos.

E nada os impediria de ajudar no dia a dia da empresa, orientando os diretores em suas ações. Mas sempre respeitando os limites e sem interferir diretamente em suas decisões. O trabalho deveria ser sempre no sentido de fazer os diretores e gerentes crescer como profissionais. Todos só têm a ganhar com essa decisão. 

2 - Sempre trabalhei em multinacionais e agora recebi uma proposta de uma empresa familiar. Em sua opinião, quais habilidades políticas são necessárias? Em quais ciladas posso me meter e como evitá-las? Anônimo

Pergunta difícil de resolver. há multinacionais horríveis e empresas familiares ótimas. O inverso também é verdadeiro. De maneira geral, sair de uma multinacional muito grande e trabalhar numa empresa menor pode ser a redenção para quem quer rea­lizar o trabalho de uma vida. 

Na multinacional, a construção já foi feita. Na empresa menor, está tudo por fazer — e o bom do trabalho é construir.  Numa empresa menor, você estará mais perto da ação e de onde as coisas acontecem. Você poderá também ter uma visão mais detalhada dos pontos importantes do negócio, de seus controles financeiros e de como estabelecer suas prioridades.

Suas ideias e suas ações terão maior impacto nos resultados e serão mais visíveis. Você terá relacionamento direto com o dono e com os operários, de ponta a ponta. Numa multinacional, isso nunca aconteceria. 

Seu crescimento profissional poderá ser maior numa empresa menor, por incrível que pareça. Tudo vai depender da governança. Mas aqui vale a mesma ressalva que fiz antes: também existem multinacionais com uma governança péssima. Se você encontrar uma empresa familiar em que existe uma boa gestão do papel dos acionistas, sua condição de trabalho poderá ser ideal. 

Em algumas empresas familiares, a entrada de parentes na execução do negócio é controlada, ficando somente aqueles que realmente somam para os resultados. A maioria das empresas familiares seguem esse caminho, mesmo porque aquelas que não o fazem não duram muito. Nem se tornam atraentes para fundos de investimento nem para o mercado.

Portanto, antes de aceitar a proposta, vá à empresa, converse com as pessoas e procure saber como funciona o relacionamento entre os donos e os executivos. Se tudo estiver bem, vá em frente e a transforme numa multinacional.

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