Christopher Podgorski: “Não vejo problema numa abertura do mercado” (Scania/Divulgação)
Filipe Serrano
Publicado em 14 de março de 2019 às 05h12.
Última atualização em 14 de março de 2019 às 05h12.
Nascido no Brasil em uma família polonesa, o executivo Christopher Podgorski lidera desde 2017 as operações na América Latina da montadora sueca Scania, uma das maiores no setor de caminhões e ônibus. Em entrevista a EXAME, ele falou sobre a retomada do mercado brasileiro, a decisão da Ford de fechar a fábrica em São Bernardo do Campo e as oportunidades para as exportações, que representam 60% das vendas da Scania.
Qual é sua expectativa para o setor de caminhões neste ano?
É positiva. O mercado interno está reagindo e começamos bem o ano. Lembrando que, em 2015 e 2016, tivemos talvez a pior crise no setor dos últimos 50 anos. No caso da Scania, a queda do mercado interno nos deu a oportunidade de exportar. A Scania talvez tenha sido a única montadora que não mandou ninguém embora. Mantivemos a competência. E, agora que o mercado volta a crescer, isso nos deixa numa posição de vantagem.
Qual é o crescimento esperado para 2019?
O mercado total de caminhões tem um potencial de crescer, no mínimo, 20%. E nós não queremos crescer menos do que isso.
O que está puxando a demanda no Brasil?
É a renovação das frotas. Para ter uma ideia, em 2013 nós vendemos 20 000 caminhões no Brasil. No ano seguinte, vendemos 4 000, com muito sacrifício. Desde então, a frota foi envelhecendo e foi mal mantida. Agora que a demanda por transporte volta, as empresas que ficaram no mercado precisam renovar as frotas para baixar os custos. Em 2018, foram 9 300 veículos vendidos no Brasil. Já é uma boa recuperação.
Como viu a decisão da Ford de fechar a fábrica de caminhões?
Falo do meu ponto de vista. Na área de caminhões, a Ford tem presença apenas na Turquia e no Brasil. O core business dela não são os caminhões. Como a legislação brasileira determinou a adoção do padrão de emissões de carbono Euro 6 a partir de 2022, isso obrigaria a Ford a fazer investimentos vultosos. Acredito, e isso é um pensamento meu, que os recursos necessários para a adaptação, dentro da visão da Ford, pudessem ser mais bem aplicados se usados na produção de automóveis.
A saída da Ford é uma oportunidade para os concorrentes?
Para nós, não muda muito. Porque a Ford nunca foi concorrente direta. Atuamos mais no segmento de caminhões extrapesados. E a Ford, no de veículos leves e médios. Agora, há outras montadoras que deverão ter uma oportunidade de produzir volumes maiores. Quando há um concorrente a menos, ajuda.
Quais são os maiores mercados externos da Scania?
Na América do Sul, lógico, é a Argentina. Ela é seguida, com números muito parecidos, pelo Chile e pelo Peru. A Colômbia também é um mercado muito forte em ônibus. Exportamos ainda para o Oriente Médio, a África do Sul, que também é muito forte, e a Ásia. Países como Tailândia, Malásia, Indonésia.
O governo Bolsonaro cogita uma agenda de maior abertura comercial. Qual é sua expectativa sobre esses planos?
Isso estava na agenda eleitoral, mas não vimos nada de concreto. Para nós, o protecionismo é ilusório. O país perde competitividade. E, como temos um sistema de produção global, não vemos problema em abrir o mercado. Já concorro com todo mundo lá na Europa. Posso continuar competindo aqui. A gente já age como se não tivesse imposto de importação. Porque sabemos que, mais cedo ou mais tarde, essas barreiras vão cair. Têm de cair, se o Brasil quiser se inserir na economia global.