Revista Exame

Procura-se comprador para negócios da Petrobras

Com dificuldade de vender ativos no exterior, a Petrobras tenta se desfazer de negócios também no Brasil. EXAME teve acesso aos planos em discussão na maior empresa do país


	Refinaria da Petrobras: o plano é criar uma subsidiária de refino e vender até 30% do negócio
 (EXAME/Arquivo)

Refinaria da Petrobras: o plano é criar uma subsidiária de refino e vender até 30% do negócio (EXAME/Arquivo)

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Da Redação

Publicado em 15 de março de 2013 às 06h00.

São Paulo - Com produção e lucro em baixa, custos e dívida em alta, a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, tem dedicado boa parte de sua agenda à negociação de ativos da companhia. Sua meta é levantar 14,8 bilhões de dólares para reforçar o caixa da estatal, cujo lucro encolheu 36% em 2012. A tarefa não está sendo fácil. Lançado há dois anos, na gestão de José Sérgio Gabrielli, o chamado plano de desinvestimento não saiu do lugar.

A intenção inicial era arrecadar a maior parte dos recursos com a venda de negócios no exterior. Até agora, porém, a companhia só se desfez de sua participação em uma distribuidora de energia na Argentina, por 35 milhões de dólares. Com a morosidade das negociações internacionais, Graça, como é chamada a presidente da empresa, decidiu pôr à venda negócios também no Brasil.

Como EXAME antecipou na edição anterior, o banco Santander foi escalado para repassar participações da estatal em usinas de energia elétrica. Agora, EXAME teve acesso a mais detalhes dos planos em discussão na Petrobras. Segundo executivos envolvidos nas negociações, a lista de vendas inclui também blocos de exploração de petróleo — a exemplo do vendido no fim do ano passado para a petroleira OGX, do empresário Eike Batista, por 270 milhões de dólares.

A parte mais ousada do plano está na área de refino. A ideia é reunir as 11 refinarias brasileiras em uma nova subsidiária da estatal e vender um percentual da empresa. Fala-se em 30%. Pelo menos três bancos — Santander, Morgan Stanley e Citibank — já participam das negociações em diferentes áreas.

A Petrobras vem tentando manter o plano em segredo. Nem seu conselho de administração conhece a lista completa de ativos que poderão ser vendidos. Mas Graça enfrentará resistência. Sindicalistas já começaram a bombardear o pouco que sabem do plano. O Sindicato dos Petroleiros da Bahia publicou em seu boletim um recado: “Presidente Graça, privatizar o refino não tem graça”.

Já o Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro questionou a legalidade dos negócios conduzidos em sigilo pelos bancos. “Esse plano de desinvestimento é, na verdade, uma privatização decidida só pela dona Graça”, diz Emanuel Cancella, diretor da entidade. “As privatizações do PSDB ao menos eram feitas com editais e audiências públicas.”

Apesar de não haver impedimento legal para o tipo de operação pretendido pela Petrobras, Graça sabe que o barulho dos sindicatos pode atrapalhar. A palavra privatização arrepia o PT, sobretudo em temporada pré-eleitoral. Prova disso é a reaproximação da presidente Dilma Rous­seff com as centrais sindicais, com o objetivo de conseguir apoio para a reeleição. Em 27 de fevereiro, ela recebeu líderes da Central Única dos Trabalhadores, à qual é ligada a maioria dos sindicatos de petroleiros.

As negociações de ativos internacionais foram frustradas justamente no principal alvo da Petrobras: os Estados Unidos. Estima-se que o valor de seus ativos americanos some 10 bilhões de dólares. O banco Morgan Stanley foi contratado para vender blocos exploratórios no golfo do México.


A primeira tentativa — de passar os blocos a um só comprador — falhou. A avaliação é que esse tipo de ativo geralmente atrai interessados em áreas específicas, próximas de blocos que o comprador já tenha, para aproveitar sinergias na operação. Agora, as vendas devem ser fatiadas. Procurados, nem Petrobras nem os bancos envolvidos aceitaram falar do assunto.

A Petrobras enfrenta outra dificuldade: quanto mais seus indicadores financeiros pioram, mais os potenciais compradores baixam o valor das ofertas. Resultado: os negócios não saem. A lista de ativos à venda mostra que a Petrobras praticamente sairá do setor de energias renováveis, com a venda de parques eólicos e pequenas centrais hidrelétricas. A empresa também tem a intenção de se desfazer de uma petroquímica, no Rio Grande do Sul, e de fatias que possui em três termelétricas.

Graça não deve encontrar problemas para passar adiante esses ativos. A venda de uma parcela das refinarias, porém, deve ser mais complicada. A área de refino é hoje um ponto nevrálgico da Petrobras. Como produz menos combustíveis do que o consumido no país, a estatal tem de importar cada vez mais derivados. Em períodos de barril em alta, a empresa sofre, pois compra gasolina e diesel a preços internacionais e vende no Brasil a valores mais baixos para ajudar no controle da inflação.

Só em 2012, a Petrobras perdeu 23 bilhões de reais por esse motivo. Apesar de precisar como nunca de mais capacidade de refino, a empresa esbarra em atrasos nas obras de refinarias em construção e na falta de dinheiro para tirar novos projetos do papel. Em fevereiro, ao divulgar os resultados negativos de 2012, Graça reafirmou que os projetos de refinarias no Maranhão e no Ceará estavam sendo reavaliados. No Maranhão, o canteiro de obras começou a ser desmontado. Os governadores dos dois estados chiaram com a presidente Dilma, que mandou Graça garantir a ambos que as refinarias serão erguidas.

Mas quem entraria de sócio da Petrobras no refino, área que hoje dá prejuí­zo? “Ninguém, claro. A menos que a empresa libere seu sócio para vender derivados fora do Brasil”, afirma Adriano Pires, sócio da consultoria Centro Brasileiro de Infraestrutura. Vender mais lá fora, porém, só faria sentido com o aumento da capacidade de refino — hoje insuficiente para atender o mercado nacional.

Ou seja, a Petrobras precisa de ajuda para ampliar o parque de refinarias. Graça esteve há poucos dias na China com executivos da Sinopec, a petrolífera estatal chinesa. Na ocasião, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse que uma parceria com os chineses pode tornar viáveis as refinarias nos estados do Nordeste.

O plano de desinvestimento é visto de modo positivo no mercado. A venda de ativos ajudaria a reduzir a necessidade de uma nova capitalização para sustentar os investimentos programados até 2016, no total de 237 bilhões de reais. “A Petrobras está muito endividada, precisa colocar dinheiro no caixa e focar no principal, que é exploração e produção”, afirma Eduardo Roche, analista-chefe do banco Modal. Graça sabe disso. Resta combinar com o controlador da empresa, com governadores, com sindicatos e, claro, com possíveis compradores.

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