Revista Exame

Brasileiros ganham espaço nas escolas de negócio do mundo

Um levantamento feito por EXAME mostra que um time de professores brasileiros começa, ainda que de maneira tímida, a ganhar espaço nas melhores escolas de negócios do mundo

Ferreira (à dir.), Pricila e Lobel, de Wharton: a escola com mais brasileiros (Luiz C. Ribeiro/EXAME)

Ferreira (à dir.), Pricila e Lobel, de Wharton: a escola com mais brasileiros (Luiz C. Ribeiro/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 3 de fevereiro de 2014 às 13h18.

São Paulo - O pesquisador brasileiro Thales Teixeira estuda há anos a relação dos consumidores com a publicidade. Ao analisar os fatores que aumentam a atratividade de um comercial de TV, ele descobriu que os telespectadores detestam quando o logo de uma empresa aparece na tela de maneira gritante.

“As pessoas têm aversão a esse tipo de apelo explícito”, afirma Teixeira. Mais recentemente, ele tem se dedicado a entender o fenômeno dos virais na internet — aqueles conteúdos que se tornam sensação na rede.

O interesse de Teixeira por esses temas e uma sólida bagagem acadêmica — ele fez a graduação e o mestrado na Universidade de São Paulo e o doutorado na Universidade de Michigan — o alçaram em 2009 ao cargo de professor de marketing da Harvard Business School, a melhor escola de negócios do mundo.

Desde então, ele já produziu quase 20 artigos e estudos de casos. Hoje ele é o único brasileiro entre os 227 professores do campus, nas cercanias de Boston.

Um levantamento realizado por EXAME revelou que Teixeira faz parte do restrito grupo de 20 brasileiros que hoje dão aulas em 13 das 20 melhores escolas de negócios do mundo. O número é pequeno — mas já foi menor.

“Quando comecei, não tinha nenhum colega brasileiro”, diz Álvaro Sandroni, que em 1996 ingressou na escola de negócios Kellogg, em Chicago, onde atualmente é professor de política econômica. Wharton, na Filadélfia, é a escola que reúne hoje o maior número de professores brasileiros.

São cinco e, desse grupo, quatro foram contratados nos últimos seis anos. O veterano é Fernando Ferreira, atual coordenador do programa de doutorado de economia aplicada de Wharton, contratado em 2004. Na suíça IMD, o único brasileiro entre 60 profissionais entrou no fim de 2012.

Carlos Alberto Primo Braga, que dá aulas de política econômica internacional, trabalhou por 20 anos no Banco Mundial e tem mestrado pela Universidade de São Paulo e doutorado pela Universidade de Illinois. 

A tímida presença dos brasileiros no pelotão de elite das escolas de negócios resulta da pouca tradição do país em mandar gente para estudar em países ricos. Na última década, 3 000 estudantes das mais diversas especialidades deixaram o país a cada ano para buscar um título nos Estados Unidos.

É menos de 1% do total de estrangeiros nas universidades americanas — ganhamos ao menos da Argentina, com 0,3%. Chineses e indianos responderam por 33% e 17%, respectivamente. No caso dos indianos, o intenso fluxo de estudantes iniciado há mais de 40 anos produziu celebridades como Vijay Govindarajan, que saiu da Índia para cursar o mestrado em Harvard em 1969.

Naturalizado americano, ele é professor da escola de negócios Tuck, na Carolina do Norte, e referência mundial em inovação. Morto em 2010, o indiano C.K. Prahalad, cocriador da teoria da base da pirâmide, consolidou sua carreira na Universidade de Michigan. Os brasileiros ainda estão longe disso — mas aos poucos ganham seu espaço.


Boa parte dos professores só chega às melhores escolas se recebe um convite. O carioca Ruben Lobel, de 30 anos, professor de gestão operacional em Wharton desde 2011, chamou a atenção de um atual colega ao apresentar sua tese de doutorado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Antes de ser admitido, passou dois dias inteiros numa sabatina com 15 professores.

A paulista Pricila Maziero, de 35 anos, passou pela mesma maratona até se tornar professora do departamento de finanças em 2009. Em geral, só escapa da exaustiva série de entrevistas quem já tem experiência local dando aulas. Foi o caso de Luciano Castro, professor de decisão e economia de Kellogg.

Ele é o único entre os brasileiros mapeados por EXAME que fez mestrado e doutorado no Brasil — no Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), no Rio de Janeiro. Em 2005, ele deixou o país para dar aulas na Europa. Lá fez contatos com pesquisadores dos Estados Unidos.

Com uma carta de recomendação de um colega americano, foi contratado pela Universidade de Illinois, a 44ª melhor escola de negócios do mundo. Um ano depois, recebeu o convite de Kellogg, a 15a da lista. 

Quem passa pela triagem chega a uma espécie de olimpo acadêmico. Enquanto os Estados Unidos e a Europa têm 80 escolas de negócios entre as 100 melhores do mundo listadas pelo jornal inglês Financial Times, o Brasil tem uma: a Coppead, do Rio de Janeiro, em 79º lugar.

A mineira Fundação Dom Cabral e a paulista Insper aparecem na 16a e 36a posição, respectivamente, na categoria educação executiva customizada. “Nos Estados Unidos, tenho 20 colegas que estudam a mesma área. No Brasil, teria dois”, diz Alan Moreira, professor de finanças na Universidade Yale desde 2011 e especialista no impacto das intermediações financeiras na economia.

Lá fora também há mais incentivo, e até uma pressão, para realizar pesquisas. Em geral, os professores dessas escolas dedicam dois terços do tempo a pesquisa. “No Brasil, seria impossível”, diz Felipe Monteiro, que tem Ph.D. pela London Business School e desde 2012 leciona estratégia no Insead, na França. A carreira acadêmica no exterior tem outra vantagem.

Um professor em início de carreira nos Estados Unidos ganha até 200 000 dólares por ano, 65% mais do que no Brasil. Os sinais de que vale a pena fazer parte desse grupo de elite são claros. Se mais gente se aventurar a trilhar esse caminho, talvez um dia o Brasil tenha sua versão de Govindarajan ou Prahalad.

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