Revista Exame

“Poucos conhecem seus funcionários”, diz Michele Burns

As empresas relutam em fazer um raio X da força de trabalho, diz Michele Burns, presidente da consultoria Mercer. Por isso são surpreendidas quando há escassez de mão de obra

Michele Burns: "Somente retardar a idade da aposentadoria não resolve o problema”  (Divulgação)

Michele Burns: "Somente retardar a idade da aposentadoria não resolve o problema” (Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 7 de julho de 2011 às 17h48.

São Paulo - Presidente da consultoria Mercer, Michele Burns faz parte do conselho do Walmart e da Cisco. Os anos em que ocupou a vice-presidência de finanças da Delta Air Lines também ajudaram a entender melhor os desafios do mundo empresarial. Em visita a São Paulo para acertar os últimos detalhes da expansão da Mercer no Brasil, Michele deu a seguinte entrevista a EXAME.

1) EXAME -  Em vários setores da economia brasileira, faltam trabalhadores. As empresas que têm aposentadoria compulsória deveriam rever essa regra? 

Michele Burns - À medida que a expectativa de vida da população cresce, faz sentido as pessoas aumentarem os anos de trabalho. Temos gente muito talentosa que está sendo desperdiçada. Dito isso, é importante ressaltar que nenhum país vai resolver um problema crônico de falta de mão de obra em determinado setor apenas com a manutenção de profissionais com idade para se aposentar. 

2) EXAME -  Mas o que pode ser feito no âmbito das empresas?

Michele Burns - Muitos altos executivos falam, mas poucos de fato fazem uma radiografia de sua força de trabalho. 

3) EXAME -  Como assim? 

Michele Burns - É preciso fazer algumas perguntas. Como estará cada setor da empresa em cinco anos? Quem vai se aposentar? Como fazer para que o conhecimento acumulado na empresa seja transmitido de uma geração para outra? Qual será a necessidade de formar gente nova se a economia crescer 5% ao ano? E se crescer 3,5%? Que nível de retenção dos funcionários é possível ter?

Claro que é impossível adivinhar os rumos da economia, mas isso não deveria ser motivo para não fazer uma radiografia da força de trabalho. Afinal, não estamos falando de adivinhação, mas de estar preparado para cada situação. Não ser surpreendido. Isso é particularmente importante num país como o Brasil.

4) EXAME -  Por quê?

Michele Burns - Porque a economia está crescendo rapidamente e as perspectivas são muito boas. Nos últimos tempos, várias companhias foram pegas de surpresa pela falta de mão de obra. É bom começar a se preparar hoje para o que está por vir.

5) EXAME -  Qual é a maior evidência da mudança de patamar da economia brasileira? 

Michele Burns - No passado, Brasil e México tinham a mesma importância para as multinacionais. Não é mais assim. Muitas multinacionais mudaram suas sedes regionais para São Paulo. Saíram da Cidade do México, de Miami, de Buenos Aires...

6) EXAME -  Qual é o significado disso?

Michele Burns - A mudança da sede para o Brasil acontece porque as multinacionais querem ver in loco o lugar onde as coisas estão acontecendo. Essas empresas só tomam uma decisão como essa se acreditam no país num prazo mais longo. É significativo. Por outro lado, também é verdade que muitas empresas brasileiras estão colocando os pés para fora e se tornando multinacionais.  

7) EXAME -  Não há resistência de executivos estrangeiros em se mudar para São Paulo, com seus engarrafamentos quilométricos?

Michele Burns - A pujança econômica tem um forte poder de atração. Mas é claro que a ação governamental, nas esferas municipal e estadual, poderia aumentar ainda mais a presença de multinacionais e executivos estrangeiros. n

Acompanhe tudo sobre:Edição 0993ExecutivosGestão de pessoasgestao-de-negociosMão de obraRecursos humanos (RH)

Mais de Revista Exame

Invasão chinesa: os carros asiáticos que chegarão ao Brasil nos próximos meses

Maiores bancos do Brasil apostam na expansão do crédito para crescer

MM 24: Operadoras de planos de saúde reduzem lucro líquido em 191%

MM 2024: As maiores empresas do Brasil