Revista Exame

Há pouco a esperar da economia brasileira em 2014

Com a perspectiva de mais um ano de baixo crescimento da economia e rentabilidade em queda, as maiores empresas do Brasil não pretendem aumentar os investimentos no ano que vem


	Fábrica da Bayer: em algumas linhas, planos só de manutenção
 (Divulgação)

Fábrica da Bayer: em algumas linhas, planos só de manutenção (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 30 de novembro de 2013 às 13h20.

São Paulo - A metade do segundo semestre do ano é tradicionalmente a época na qual os executivos das empresas se debruçam sobre as planilhas para um momento de profunda reflexão. Como foram os resultados até aqui? Dá para melhorar o desempenho antes que o ano acabe? Como planejar os próximos meses?

Das respostas a questões como essas vão depender as estratégias de expansão, as decisões de investimento e outros planos para o novo ano que está quase chegando. Uma sondagem feita por EXAME com os principais executivos de quase 200 das maiores empresas do Brasil mostrou que desse exercício de autoanálise tem emergido um cenário, na maioria dos casos, pouco animador.

Para mais de 90% dos entrevistados, a economia brasileira crescerá no máximo 3% em 2014. Em outras palavras, o país ainda estará longe de repetir bons momentos como o de 2010, quando a expansão chegou a 7,5%, e entrará em mais um ano, o terceiro consecutivo, de expansão fraca.

Uma das consequências da baixa expectativa generalizada é que boa parte dos executivos à frente das empresas ouvidas não cogita reforçar os investimentos. “Não temos planos para aumentar o volume de recursos investidos”, afirma Theo van der Loo, presidente da multinacional alemã Bayer, dos setores químico e farmacêutico. “Se o Brasil crescer no ano que vem a uma taxa semelhante à de 2013, já será uma boa notícia.”

No orçamento para 2014, segundo ele, a Bayer planeja investir cerca de 150 milhões de reais, valor equivalente ao aplicado neste ano. Apenas as linhas voltadas para o agronegócio devem expandir a capacidade. “Em outras áreas, como as de medicamentos e de material plástico, nosso investimento será apenas necessário para a manutenção das linhas de produção”, diz Van der Loo. 

De acordo com um levantamento realizado pela consultoria Economatica, a desaceleração nos investimentos é uma tendência. A consultoria mede a relação entre esses gastos e o nível de depreciação — ou seja, de desvalorização — de máquinas e equipamentos. Quando o investimento é igual à depreciação, o índice é de 100%.

Números acima disso significam ampliação da capacidade. Em 2011, o índice médio de 218 empresas de capital aberto (não financeiras) listadas na bolsa estava em 213%. Em 2013, caiu para 167%. Não é uma grande queda, mas preocupa num país que precisa aumentar a oferta.

Além do cenário de baixo crescimento da economia, as empresas estão rea­gindo às pressões provocadas pelo aumento nos custos. De acordo com dados da consultoria Tendências, os preços dos principais insumos das indústrias estão numa trajetória de ­ascensão.

As projeções indicam que, no acumulado de 2013 e 2014, o aumento nos preços do diesel deverá chegar a 22%. No mesmo período, o aço poderá ficar até 15% mais caro, enquanto os gastos com mão de obra — calculados com base no custo dos salários — devem subir em torno de 14%, na média.


O aumento nos custos já se reflete nos balanços — as indicações são de que as empresas estão ganhando menos dinheiro. Os dados fornecidos ao mercado por 242 companhias de capital aberto mostram, segundo a Economatica, que a rentabilidade do patrimônio caiu de 14% em 2010 para 8% ao final do primeiro semestre de 2013. Para comparar, nos Estados Unidos o retorno das empresas vem se mantendo em torno de 13% desde 2010. 

Uma boa notícia é que a maioria das empresas que responderam ao questionário de EXAME projeta para 2014 uma expansão superior a 3% no faturamento — acima, portanto, do crescimento esperado para a economia. Um terço delas acredita que vai crescer mais de 10%.

Parte disso deverá ocorrer com os aumentos de preço — uma das estratégias mais básicas para tentar repassar custos e melhorar a rentabilidade. Mas não é certo que os rea­justes serão suficientes para recompor as margens de lucro. Tome-se o exemplo da paulistana Simpress, prestadora de serviços de impressão terceirizada para grandes clientes.

No ano passado, a empresa faturou 430 milhões de reais — a perspectiva é fechar 2013 com crescimento de 10% nas receitas. Mesmo assim, as margens vão encolher. “Só neste ano nossos custos aumentaram 20%”, diz Vittorio Danesi, presidente da Simpress. “Consegui repassar apenas 6% para meus clientes, porque o mercado não está absorvendo reajustes maiores. A rentabilidade está em queda.”

Armadilha

Com a conjunção de expansão anêmica com rentabilidade menor, o risco é a economia cair numa espécie de armadilha. Com margens menores, as empresas acumulam menos dinheiro para investir. Investindo menos, fica difícil melhorar a produtividade — que é, no caso brasileiro, um dos maiores gargalos para a retomada de uma expansão vigorosa.

De acordo com a consultoria Tendências, a melhora de um 1 ponto percentual nesse quesito poderia levar o país a crescer mais de 3% ao ano. “Enquanto não houver reformas para estimular o aumento da produtividade, teremos crescimento econômico limitado”, diz Juan Jensen, economista-chefe da Tendências. 

Um dos obstáculos que os executivos terão de vencer em 2014 é convencer os acionistas a investir nos negócios — ainda mais em um ano eleitoral. “Os acionistas lá fora demonstram desconfiança com o cenário por causa das frequentes mudanças de regras em vários setores no Brasil”, diz o presidente da subsidiária local de uma multinacional do ramo da construção, com presença em 40 países. “Hoje, quando falamos de novos projetos, eles levantam mais dúvidas sobre os riscos de investir no Brasil.”

Não que o país fosse, até recentemente, um paraíso e tenha piorado da noite para o dia — problemas como os gargalos da infraestrutura, o excesso de burocracia e a instabilidade nas regras já estão por aí há um bom tempo. O fato é que, antes, muitas dessas deficiências ficavam em segundo plano diante das boas projeções de crescimento — os males, agora, só estão mais evidentes.

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