Revista Exame

Com o consumo de vinho em queda no mundo, Brasil se torna porto seguro para vinícolas

Enquanto o consumo de vinho cai no mundo, o mercado brasileiro vive momento de alta como destino de importações e polo de novas vinícolas nacionais

Terranova: vinícola do grupo Miolo no Vale do São Francisco (Leandro Fonseca/Exame)

Terranova: vinícola do grupo Miolo no Vale do São Francisco (Leandro Fonseca/Exame)

Gilson Garrett Jr.
Gilson Garrett Jr.

Repórter de Lifestyle

Publicado em 20 de março de 2025 às 06h01.

No ano passado, a vinícola Adega Cartuxa decidiu lançar, pela primeira vez fora de Portugal, a nova safra de seu icônico Pêra-Manca, safra 2018. O lançamento mundial do rótulo, que chega a custar 4.000 reais e é um dos mais renomados do mundo do vinho, representa um marco no crescente interesse do mercado global pelo consumidor brasileiro.

O Brasil se mostra um porto seguro para a venda de vinhos, especialmente em um cenário global marcado por guerras, dificuldades logísticas e aumento no custo de produção. Europa e Estados Unidos enfrentaram uma queda no consumo de vinho de 2% a 4% entre 2017 e 2022. A China registrou uma queda ainda mais acentuada, de 17%.

Em contrapartida, o Brasil teve um crescimento de 8%, segundo dados da Organização Internacional da Vinha e do Vinho. “O Brasil está bem posicionado e tem espaço para crescer, pois o consumo por aqui ainda é baixo”, diz Rodrigo Lanari, fundador da Winext. Além disso, o mercado de vinhos de luxo continua a ser imune a crises.

Segundo Marcos Leal, CEO do ­Víssimo Group, proprietário das marcas Grand Cru e Evino, os vinhos premium, com preços a partir de 20 dólares, crescem acima da média geral. Nos próximos dois anos, a previsão é de um aumento de 16% no consumo. “Temos um portfólio muito forte de Argentina e Chile por demanda do consumidor brasileiro, mas o que chama atenção é uma busca sempre constante por rótulos icônicos que passam de 1.000 reais”, afirma o executivo.

Esse movimento tem também impulsionado o surgimento de novas vinícolas em todo o Brasil, especialmente em terroirs emergentes, como o interior de São Paulo e Minas Gerais, além da criação de uma indicação geográfica para vinhos no sul de Minas. As vinícolas que adotaram a técnica da poda invertida, responsável por elevar a qualidade dos vinhos elaborados fora do Rio Grande do Sul, se uniram em uma associação que já conta com cerca de 50 produtores, consolidando a força do setor e do mercado brasileiro.

“Quando falamos do mercado brasileiro de vinho fino, sem espumantes, 85% são importados e 15% são nacionais”, diz Adriano Miolo, diretor superintendente do Miolo Wine Group. “Esses novos terroirs têm um papel importante em trabalhos voltados para o enoturismo, pois ajudam a aumentar a percepção do consumidor sobre a alta qualidade do vinho nacional.”


Sem álcool

Freixenet: vinhos sem álcool conquistam o mercado (Freixenet/Divulgação)

Nos dez principais mercados globais de bebidas, incluindo o Brasil, as projeções indicam um crescimento anual de 7% no mercado de bebidas sem álcool até 2028, com um incremento de 4 bilhões de dólares, de acordo com dados da consultoria IWSR. Seja por motivos religiosos, de saúde ou geracionais, as bebidas sem álcool deixaram de ser uma tendência e se consolidaram como uma realidade. Uma evidência desse fenômeno foi o número de vinícolas que apresentaram rótulos sem álcool na ProWine, o maior evento de trade de vinhos e destilados da América Latina, realizado no fim do ano passado em São Paulo. Entre as marcas brasileiras, houve um salto exponencial nas vendas, com crescimento superior a 100%. Recentemente, a Moët Hennessy, divisão de vinhos e destilados do grupo de luxo LVMH, adquiriu uma participação na French Bloom, produtora de vinhos espumantes sem álcool. Atenta a esse mercado em ascensão, a espanhola Freixenet também lançou uma linha de vinhos desalcoolizados.


Vinhos brancos em alta

É difícil para um europeu entender que, em um país como o Brasil, onde as temperaturas frequentemente ultrapassam os 30 graus durante boa parte do ano, o consumo de vinho tinto — tradicionalmente associado a climas mais frios — chega a representar 70% do mercado. Mas essa realidade tem mudado. Em 2024, os vinhos brancos responderam por 26% do consumo, um aumento em relação aos 20% registrados em 2017. Já os vinhos rosés tiveram um crescimento significativo, dobrando de participação e alcançando 8%. E os tintos passaram de 76% para 67%, segundo dados da Ideal BI, consultoria especializada na análise do mercado de vinhos. A expectativa para os próximos anos é de um crescimento de 76% no consumo de vinhos brancos e espumantes, que são mais refrescantes e combinam mais com o clima brasileiro.


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