Shiller: "Ainda há muitas instituições tentando maquiar a realidade"
Da Redação
Publicado em 7 de março de 2011 às 15h13.
O anúncio da moratória da Dubai World, o consórcio estatal responsável pelas principais obras do emirado e que acumulou uma dívida de 26 bilhões de dólares, derrubou as bolsas no final de novembro e provocou uma nova onda de medo no mercado financeiro. O significado do caso e seus desdobramentos são comentados pelo economista americano Robert Shiller, professor de finanças da Universidade Yale e autor do livro Exuberância Irracional, que fala sobre as oscilações do mercado de ações no mundo globalizado.</p>
1) Por que a moratória de Dubai derrubou as bolsas do mundo inteiro?
Ainda não nos recuperamos do estado de pânico provocado pela crise. As pessoas tendem a ter uma reação exagerada a qualquer sinal de problema. Principalmente se esse sinal é o colapso de um Estado que era símbolo de riqueza.
2) Não há, então, um motivo para temer o problema?
A economia funciona dessa forma, acontece o tempo todo. As pessoas até esperam que ela reaja exageradamente. O fato de Dubai ser um lugar tão extravagante e glamouroso aumenta ainda mais a repercussão da moratória.
3) Como pode um país crescer tão rapidamente, para depois afundar na crise com a mesma velocidade?
Dubai é um símbolo de excesso especulativo. Eles têm uma pista de esqui em pleno deserto! Eles simbolizam a ideia
de que "se você pensar como um rico, você ficará rico". E tiveram muito sucesso com essa ideia. Apesar de já terem praticamente exaurido suas reservas de petróleo, eles vivem como os magnatas do "ouro negro".
4) O emirado foi, então, punido por essa megalomania?
A literatura está cheia de histórias de pessoas que abusaram do luxo e do glamour, até que, um dia, viram o destino cobrar a conta. Dubai é o capítulo mais recente dessa história.
5) Dubai tinha o dinheiro para pagar suas dívidas com vencimento mais próximo, mas optou por declarar a moratória de uma vez. Por quê?
Eu não posso dizer com certeza, pois só quem pode fazê-lo são os xeiques. Mas eles sabiam o tamanho do problema. Declarar a moratória agora ou daqui a algumas semanas ou meses é mais uma decisão política que econômica. Eles poderiam torcer por notícias que os salvassem, mas o mais provável é que a moratória fosse uma questão de tempo.
6) O Brasil está imune ao "efeito Dubai"?
Na verdade, passado o susto inicial, poucos países estão de fato expostos à crise de Dubai. Se pensarmos em escala global, a moratória é de um valor irrisório. Investidores procuraram o Brasil por ter se mostrado uma economia sólida durante a crise mundial. E isso não vai mudar por causa dos acontecimentos no Oriente Médio.
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7) Devemos esperar por novas moratórias pelo mundo?
Estamos em uma situação em que grandes investidores do ramo imobiliário, como Dubai, possuem ativos que não estão marcados com seus reais valores. Se exigíssemos que eles mostrassem seu valor pós-crise, estariam todos insolventes. Ainda vivemos em um ambiente em que muitas grandes instituições estão tentando maquiar a realidade: que eles têm um patrimônio líquido negativo. Estão todos torcendo para que uma recuperação do mercado os salve.