Revista Exame

Perrengue chique: hospedagem de luxo em meio à imensidão do Atacama

Hotéis de luxo com menu estrelado são opções para os viajantes em um dos desertos mais inóspitos (e surpreendentes) do mundo, com hospedagens nada rústicas

Nayara Alto Atacama: quartos com terraço privativo (Brice Ferre/Divulgação)

Nayara Alto Atacama: quartos com terraço privativo (Brice Ferre/Divulgação)

Júlia Storch
Júlia Storch

Repórter de Casual

Publicado em 18 de outubro de 2024 às 06h00.

Última atualização em 18 de outubro de 2024 às 08h09.

No deserto do Atacama a percepção de dimensão se altera tanto nas altitudes das montanhas quanto nas distâncias. É possível se surpreender ao avistar rochas que estão a mais de 300 quilômetros no horizonte. E, com muito fôlego, subir vulcões a 4.500 metros de altitude, como o famoso Licancabur, e encontrar lagoas azuis com flamingos e vicunhas. Ainda que no Brasil a abundância de fauna e flora esteja presente em diferentes regiões e biomas, o deserto chileno e sua paisagem árida não se limitam a cenários monótonos. Pelo contrário.

Em meio aos tons terracota da Cordilheira do Sal e da fortaleza de Pukará de Quitor, uma construção de pedra do século 12, na cidade de San Pedro de Atacama, está o Nayara Alto Atacama. A arquitetura do hotel, feito com paredes de adobe, uma mistura de terra crua, palha e água, se integra ao paredão de gesso, argila e sal, com mais de 23 milhões de anos, esculpido pelo vento e pelas escassas chuvas da região. Do lado de fora da hospedagem é difícil perceber onde estão fincados os 42 quartos, que possuem a mesma coloração das montanhas. Mas não se trata de uma experiência rústica. Há duas opções de habitações, de 50 metros quadrados e de 70 metros quadrados, com terraço privativo e vista para a cordilheira, varanda e ducha externa. As áreas comuns incluem uma jacuzzi e seis piscinas, sendo uma aquecida.

O hotel foi construído em 2007 e adquirido em 2020 pela rede Nayara. Após uma pequena reforma durante a pandemia, a propriedade passou a fazer parte do Leading Hotels of the World, organização que certifica os 400 hotéis mais luxuosos do mundo. Além do hotel no Atacama, a rede possui outros cinco hotéis no Panamá e na Costa Rica. A segunda propriedade chilena está na isolada Ilha de Páscoa. Ainda que faça parte do grupo costa-riquenho, o hotel mantém as tradições locais. No restaurante Ckelar, a gastronomia assinada pelo chef chileno Rodrigo Acuña Bravo apresenta ingredientes da região. No almoço estilo quincho são servidos diversos tipos de carnes assadas na brasa, além de uma grande variedade de batatas e milhos locais. Para acompanhar, sempre boas taças de vinhos chilenos. As ervas medicinais como muña e rica-rica, presentes nos jardins do hotel, também são acrescentadas a drinques, como pisco sour, e em sorbets servidos de sobremesa.

Vulcão Licancabur: imponência em meio aos salares (Alberto Ghizzi Panizza/Divulgação)

Os dias no Atacama são ocupados por passeios com opções de contemplação ou de aventura, ambos impressionantes para quem espera apenas um cenário desértico. Os guias dominam ou se esforçam muito para falar em português e, para além da barreira linguística, conseguem apresentar com orgulho a cultura do povo licanantay, habitantes do deserto há mais de 2.400 anos. No extenso cardápio de destinos há opções como as belas lagoas altiplanas. Em meio a montanhas a mais de 4.500 metros de altitude surgem os lagos Miscanti e Miñiques em tons de azul e verde-esmeralda, formados de antigos degelos. No Salar de Pujsa fica uma reserva que é ponto de migração de flamingos, onde eles constroem os ninhos. Por causa da alimentação de um crustáceo presente nessas lagoas, a coloração das penas dos flamingos se tinge de rosa.

A escassa água da região está presente ainda no passeio para avistar os Gêiseres de Tatio, um campo geotermal que jorra água fervente, lama e vapor em pequenas piscinas e poças. A visita compensa a saída do hotel às 5h30, para chegar ao destino ainda com o sol nascendo e maior visibilidade do fenômeno geotérmico.

Os passeios podem ser agendados diretamente no hotel e acontecem conforme a aclimatação do hóspede. Alguns destinos estão a mais de 4.000 metros de altitude. Quanto mais alto o destino, mais dias são necessários para a preparação. Com modelo all inclusive, o Nayara oferece três refeições diárias, até mesmo durante os passeios com vistas deslumbrantes. Para chegar ao hotel é preciso desembarcar em Santiago, voar mais 2 horas até o aeroporto de Calama e, de lá, percorrer 1 hora de carro até San Pedro de Atacama. Os transfers de ida e volta ao aeroporto estão incluídos nas diárias, que variam entre 1.045 e 2.789 dólares para duas pessoas para a alta temporada, de outubro a março.

Restaurante Ckelar: menu assinado com ingredientes da região (Brice Ferre/Divulgação)

Em meio a uma cidade de 10.000 habitantes, com altitude elevada, baixa umidade e, portanto, sem a presença de nuvens, o céu à noite propicia uma visibilidade que não se alcança nos grandes centros. A olho nu aparecem incontáveis estrelas na Via Láctea. Mas, do observatório instalado no alto de uma colina no hotel e com o auxílio de um telescópio e um astrônomo a postos, é possível avistar constelações e planetas como Júpiter e Saturno. O Atacama realmente é muito mais surpreendente do que parece.

Júlia Storch, de San Pedro de Atacama

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