Revista Exame

Paulínia e Vinhedo são pequenas notáveis para negócios

As paulistas Paulínia e Vinhedo despontam como cidades de menos de 100 000 habitantes ideais para fazer negócios


	Parque em Vinhedo: ar de tranquilidade atrai famílias de alta renda de metrópoles vizinhas
 (Germano Luders/Exame)

Parque em Vinhedo: ar de tranquilidade atrai famílias de alta renda de metrópoles vizinhas (Germano Luders/Exame)

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Da Redação

Publicado em 26 de novembro de 2015 às 09h33.

São Paulo — O pequeno município de Vinhedo, a 75 quilômetros de São Paulo, costuma ser lembrado pelos diversos condomínios de luxo que abrigam famílias de alta renda em busca de qualidade de vida. Muita gente já ouviu falar do local também por causa do parque de diversões Hopi Hari, localizado a 13 quilômetros do centro. Poucos associam a cidade de 71 000 habitantes à pujança econômica.

Pois Vinhedo aparece em primeiro lugar entre 348 concorrentes no ranking das melhores cidades para fazer negócios com população na faixa de 50 000 a 100 000 habitantes. Essas cidades representam 10% do PIB — algo como 550 bilhões de reais — e concentram 11% das empresas formais do país.

É a primeira vez que a consultoria Urban Systems mapeia os dados dos municípios que, embora pequenos, são polos de atração de investimentos. Despontar por conta própria é algo que Vinhedo passou a experimentar recentemente. Fundada em 1908, por décadas teve uma economia movida pela produção de uva, origem de seu nome.

Situada no meio do caminho entre a Grande São Paulo e Campinas, dos anos 80 em diante Vinhedo passou a atrair moradores de alto poder aquisitivo das duas metrópoles vizinhas para condomínios luxuosos. Mas manteve o ar de tranquilidade do interior. Nos últimos cinco anos, sua expansão populacional beirou os 3% ao ano — a média paulista ficou em 0,7%.

A chegada de moradores endinheirados foi acompanhada pela abertura de empresas. Atualmente, 40% do PIB local e metade dos empregos vêm da atividade industrial. A média paulista está em torno de 20% em ambos os índices. Tudo isso impulsionou o desenvolvimento. O PIB per capita dos vinhedenses beira os 100 000 reais — cerca de quatro vezes a média nacional.

A bonança se refletiu num maior volume de impostos arrecadados e em melhorias na infraestrutura. Praticamente todos os domicílios contam com coleta de lixo e abastecimento de água. A coleta de esgoto chega a 83% da cidade. Raras são as ruas de chão batido. O Índice de Desenvolvimento Humano de Vinhedo, atualmente em 0,82, supera o de capitais conhecidas pelos bons indicadores sociais, como Curitiba.

A cidade entrou num ciclo virtuoso. “A riqueza dos moradores estimula a economia”, diz Thomaz Assumpção, sócio da Urban Systems. “Os dividendos da expansão foram aplicados no desenvolvimento social, o que atrai mais famílias de alta renda e negócios.”

As qualidades levaram a Cryostar, empresa francesa que monta equipamentos para a criogenia — técnica para transformar oxigênio e gás em substâncias líquidas —, a escolher Vinhedo como sede da operação brasileira em 2012.

“Os executivos da matriz ficaram encantados com a sensação de segurança e com a qualidade de vida de uma cidade a poucos quilômetros de grandes centros”, diz Nilson Ferreira Junior, de 41 anos, diretor-geral da Cryostar para a América do Sul. Ferreira Junior é um exemplo do poder de atração local. No ano passado, ele trocou o Rio de Janeiro por Vinhedo com a mulher e o filho de 10 anos. “Pela primeira vez me senti seguro para morar numa casa”, afirma. 

Há cidades que nasceram com vocação para atrair investimentos. Um exemplo é a mato-grossense Lucas do Rio Verde, fundada há 33 anos numa fronteira agrícola, a 350 quilômetros de Cuiabá. Com 60 000 habitantes, Lucas do Rio Verde é a quinta colocada no ranking da consultoria Urban Systems.

Seu crescimento populacional veio na esteira do agronegócio: as fazendas locais são responsáveis por 1% da produção nacional de grãos. A produtividade do campo atraiu agroindústrias como a BRF, que desde 2009 opera abatedouros de aves e suínos na cidade. Os investimentos expandiram a economia: o PIB per capita, de 50 000 reais, é o dobro da média nacional.

E abriram espaço para investimentos no desenvolvimento social. Os 3 400 estudantes das 16 escolas públicas municipais tiraram nota média de 6,5 no último Ideb, principal indicador de qualidade da educação no país. Em 2015, a cidade recebeu menção honrosa no prêmio Escola Nota 10, criado pela ONG Instituto Alfa e Beto, especializada em políticas educacionais.

“A rede municipal de ensino adota boas práticas, como o currículo unificado e as avaliações de desempenho dos alunos”, diz João Batista Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto. Lucas do Rio Verde é uma ilha de prosperidade isolada, mas o mais comum é que as pequenas notáveis estejam perto de centros maiores. É o caso de Vinhedo e também de Paulínia, a segunda colocada no ranking.

Emancipada de Campinas na década de 60, Paulínia cresceu ao redor de uma fábrica da multinacional francesa Rhodia, instalada em 1942 para fornecer matérias-primas de produtos veterinários e remédios. Na época, a geração de impostos com a fábrica fez com que os moradores fossem dispensados de tributos municipais.

Em 1972, a fortuna de Paulínia foi reforçada com a escolha para ser a sede da maior refinaria da Petrobras — embrião de um polo petroquímico que se tornou um dos maiores da América Latina. O complexo gera 70% do orçamento municipal, que deverá superar 1,1 bilhão de reais em 2015.

A riqueza criada pela forte atividade econômica permite que a prefeitura de Paulínia atualmente invista metade do orçamento em saúde e educação — por lei, os municípios devem alocar 40% dos recursos nas duas áreas.

O fluxo financeiro também financia duas escolas técnicas, que oferecem 700 vagas por ano em cursos voltados para as necessidades das indústrias locais, como química, informática e administração de empresas. Os moradores contam com transporte público subsidiado pela prefeitura — nas 14 linhas existentes, a tarifa de ônibus custa 1  real.

Um programa de transferência de renda oferece a partir de 150 reais mensais a 6 000 famílias que se comprometem a manter os filhos na escola. Para diversificar a economia, desde 2007 a cidade conta com um polo de produção cinematográfica, construído por meio de parcerias público-privadas. O polo inclui quatro estúdios e uma escola de artes.

Ainda sobra gordura para oferecer benefícios fiscais e doar terrenos às empresas interessadas em se instalar na cidade. “Em troca, elas constroem creches e escolas, o que poupa recursos para novos programas sociais”, diz Luciano Aparecido de Lima, secretário municipal de Finanças.

A atração de negócios também é estimulada pela localização privilegiada de Paulínia. Seis rodovias ligam a cidade a importantes centros urbanos do interior paulista, como Campinas e Limeira. A facilidade de acesso trouxe negócios como a LSL, companhia japonesa que inaugurou em 2013 um centro logístico para abastecer de autopeças a fábrica da montadora Honda na vizinha Sumaré.

Em 2016, a montadora deverá iniciar a operação de uma segunda unidade em Itirapina, distante 110 quilômetros de Paulínia por boas estradas duplicadas. “Estamos bem posicionados para atender a nova fábrica da Honda”, diz Carlos Aparecido Magna, diretor operacional da LSL. Estar no caminho de boas oportunidades fez muita gente escolher Paulínia como cidade para morar.

Em cinco anos, a população subiu de 80 000 para 95 000 habitantes. Magna é um exemplo disso. Ele e a mulher viveram 19 anos como imigrantes no Japão. Desde 2010, o casal mora com os dois filhos num condomínio que homenageia a província japonesa de Okinawa. “Paulínia oferece condições de segurança e educação semelhantes às que vivenciei no Japão”, afirma Magna.

“Não penso em sair daqui tão breve.” Paulínia, Vinhedo e Lucas do Rio Verde são apenas três exemplos. Felizmente, há muitas outras cidades dinâmicas do interior que continuam a gerar oportunidades, na contramão do Brasil atônito com a crise de rumos.

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