Aline Locks, da startup goiana Produzindo Certo: certificados para clientes com as práticas ambientais redondinhas (Leandro Fonseca/Exame)
Leo Branco
Publicado em 17 de novembro de 2022 às 06h00.
A popularidade da agenda ESG em Wall Street impôs às empresas brasileiras um desafio típico ao provérbio “a mulher de César não basta ser honesta, deve parecer ser honesta”, atribuído ao imperador romano Júlio César, que largou a mulher no século 1 a.C. ao menor sinal de infidelidade.
Em meio às notícias de desmatamento recorde da Amazônia preocupando ambientalistas e investidores mundo afora, quem faz tudo direitinho na agenda ambiental precisou deixar explícitas suas boas práticas.
Tudo isso vem dando um gás nos negócios da startup goiana Produzindo Certo. Sua missão é escarafunchar as cadeias produtivas de gigantes do agro para checar se fornecedores, clientes, parceiros, enfim, todos os stakeholders estão seguindo as leis reguladoras de suas atividades.
Ou, então, se adotam práticas em linha com o esperado pelos consumidores, a exemplo de um manejo para reduzir o sofrimento de animais a caminho do abate. Entre os produtos da Produzindo Certo está um selo de qualidade às empresas com tudo em ordem da porteira para dentro.
Por fim, caso sejam necessários ajustes, os técnicos da Produzindo Certo indicam as mudanças a serem feitas para o negócio estar à altura de uma boa reputação. A empresa foi aberta em 2019, com um spin-off de uma ONG com duas décadas de atuação ao lado de produtores rurais dispostos a investir numa boa reputação ambiental.
“Sabíamos que era necessário acabar com a culpabilização. Os produtores, muitas vezes, queriam ser sustentáveis, mas faltava a oportunidade para que eles fizessem a coisa certa”, diz a analista ambiental Aline Locks, CEO da companhia.
O trabalho se baseia na aplicação de um protocolo de avaliação de fazendas, uma análise criteriosa que passa por indicadores ambientais, como o uso de água e presença de vegetação nativa, e também sociais, como as condições de trabalho de funcionários alocados nos mais de 7 milhões de hectares monitorados pela startup no Brasil e em pilotos pela América Latina.
Um grupo de técnicos ambientalistas visita as fazendas e coleta informações que alimentam uma plataforma digital em tempo real, que pontua os agricultores com as melhores condutas. O diagnóstico é seguido de um manual para os produtores melhorarem seu desempenho.
“É um misto de legislação e boas práticas, pois sabemos que essas duas coisas devem caminhar em conjunto”, afirma.
Atualmente, a startup monitora propriedades de clientes — e de clientes de clientes. No portfólio estão nomes como as indústrias de alimentos Nestlé e Unilever, além da química Bayer. A aprovação da Produzindo Certo ajuda no resultado financeiro de clientes.
A certificação de produtores de soja na cadeia de fornecimento da Hellmann’s, por exemplo, elevou a credencial sustentável da marca de maioneses, um dos carros-chefes da Unilever.
A receita da Produzindo Certo em 2022, prevista para 12 milhões de reais, deve ser ampliada em breve com a entrada em novos mercados. Nos últimos meses, em conjunto com a ONG global Textile Exchange, voltada para uma ação ESG na moda, a Produzindo Certo vem dando suporte para curtumes brasileiros compensarem o carbono liberado na fabricação do couro.
Grifes como a americana Ralph Lauren e varejistas como a sueca H&M financiam a iniciativa. “Pequenos produtores compreendem sua importância para as grandes empresas, que já entendem seu impacto no planeta, e o Brasil, como nação, só tende a ganhar com esse ciclo”, diz Locks. “Estamos vivendo uma revolução sem volta.”
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