Revista Exame

Para o Japão decolar, faltam reformas

Um dos conselheiros do primeiro-ministro Shinzo Abe diz que a queda do iene mostra o sucesso da política para tirar o país do marasmo. Mas o maior teste está por vir

Heizo Takenaka: “O governo precisará ser duro para aprovar as reformas estruturais” (Divulgação)

Heizo Takenaka: “O governo precisará ser duro para aprovar as reformas estruturais” (Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 20 de novembro de 2013 às 05h00.

São Paulo - O economista Heizo Takenaka, ex-ministro de finanças do Japão, está na linha de frente do debate sobre a nova política econômica do primeiro-ministro Shinzo Abe, batizada de “abenomics”.

Um dos membros do Conselho de Competitividade Industrial, ligado ao governo japonês, Takenaka defende as medidas agressivas adotadas nos últimos meses para combater a deflação que aflige o país há 15 anos.

Para ele, além de continuar injetando dinheiro na economia, é necessário avançar em reformas impopulares, como a mudança das leis trabalhistas. “Isso tornaria a economia japonesa mais dinâmica”, disse Takenaka, por telefone, de Tóquio.

1) EXAME - O Japão conseguirá sair da espiral deflacionária, a contínua queda de preços que inibe o consumo? 

Heizo Takenaka - Temos uma boa chance, com a política monetária adotada pelo premiê Shinzo Abe. Já vemos sinais de que a deflação está sendo controlada. Com sorte, chegaremos em dois anos à meta do governo de 2% de inflação anual.

2) EXAME - O iene perdeu 20% do valor frente ao dólar no último ano e beneficiou os exportadores. Qual é o efeito da desvalorização na atividade econômica? 

Heizo Takenaka - A desvalorização do iene já aumentou, de maneira indireta, a confiança no futuro da economia. Acredito que o iene ainda vai cair mais. A bolsa já subiu 35% neste ano porque os resultados das empresas, principalmente as exportadoras, melhoraram.

As pessoas ficam mais confiantes quando o mercado acionário sobe, porque grande parte da poupança delas está na bolsa. Estou otimista, acho que poderemos ter um crescimento de 1,5% a 2,5% no ano que vem. É desejável que o Japão contribua para a recuperação da economia mundial. Será uma contribuição modesta, mas contínua. 

3) EXAME - Muitos argumentam que o sucesso da “abenomics” depende de reformas estruturais que ainda não foram feitas. O senhor concorda? 

Heizo Takenaka - Sim. Precisamos ter uma estratégia para fazer todas essas reformas e vencer grupos de interesse poderosos. 

4) EXAME - Esse processo não está excessivamente lento? 

Heizo Takenaka - Não. O governo vai reduzir os impostos sobre as empresas no ano que vem para tentar estimular as companhias a dar reajuste salarial e compensar o aumento de impostos sobre consumo. Depois disso, é preciso mudar a legislação trabalhista, que é muito inflexível e limita demissões, principalmente no setor industrial. 

5) EXAME - A mudança da lei trabalhista será a batalha mais difícil entre todas essas? 

Heizo Takenaka - A negociação será dura. Para a reforma sair, o governo precisa convencer a opinião pública de que está no rumo certo­ para o país. Estamos tentando ajudar o primeiro-ministro a criar uma estratégia para isso no Conselho de Competitividade Industrial. Também é importante o tratado de livre comércio com os Estados Unidos. 

6) EXAME - Quais são as outras áreas que precisam mudar? 

Heizo Takenaka - O primeiro-ministro escolheu alguns setores como prioritários para mudança de regulação, como o agrícola, que é excessivamente protegido, e o de serviços médicos. 

7) EXAME - O governo vai criar zonas econômicas especiais com legislação mais flexível. Como isso vai ajudar? 

Heizo Takenaka - Será importante para mostrar os efeitos das mudanças. Se a população vê histórias de sucesso nessas zonas econômicas, o apoio para as reformas tende a aumentar.

Acompanhe tudo sobre:ÁsiaEconomistasEdição 1053EntrevistasJapãoPaíses ricos

Mais de Revista Exame

Borgonha 2024: a safra mais desafiadora e inesquecível da década

Maior mercado do Brasil, São Paulo mostra resiliência com alta renda e vislumbra retomada do centro

Entre luxo e baixa renda, classe média perde espaço no mercado imobiliário

A super onda do imóvel popular: como o MCMV vem impulsionando as construtoras de baixa renda