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Para ex-ministro grego, a solução não é sair da Zona do Euro

Para o ex-ministro das finanças da Grécia, o desfecho para a crise que assola seu país passa por uma reestruturação da dívida e um plano de crescimento


	Yanis Varoufakis: “Nenhum sistema bancário pode se tornar solvente quando o Estado é insolvente”
 (AFP/ Emmanuel Dunand)

Yanis Varoufakis: “Nenhum sistema bancário pode se tornar solvente quando o Estado é insolvente” (AFP/ Emmanuel Dunand)

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Da Redação

Publicado em 26 de fevereiro de 2016 às 14h52.

São Paulo — O economista grego Yanis Varoufakis tornou-se uma figura global em 2015. De desconhecido professor da Universidade de Atenas, Varoufakis foi al­çado a ministro das Finanças da Grécia no governo de extrema esquerda do primeiro-ministro Alexis Tsipras. Ficou apenas seis meses no cargo.

Renunciou em julho após o governo propor um plano aos credores da dívida do país que se assemelhava à proposta que havia sido recusada pela população em referendo.

Passados seis meses de sua saída, Varoufakis está de volta à vida acadêmia e não faz nenhuma autocrítica à sua gestão. “Cedemos quando deveríamos ter permanecido firmes”, diz. Semanas após seu livro Conversando sobre Economia com a Minha Filha ser lançado no Brasil, Varoufakis concedeu a EXAME a entrevista a seguir.

Exame - Quando estava no governo, o senhor descartou a saída da Grécia da zona do euro. Mudou de ideia?

Varoufakis - Claro que não. A solução não é sair da zona do euro, mas suspender o pagamento das dívidas contraídas com países do bloco e lutar por um acordo viável. Os credores tentaram nos esmagar, como sabíamos que iriam fazer, e nós cedemos quando deveríamos ter permanecido firmes.

Exame - É possível restaurar a confiança nos bancos gregos e no sistema financeiro do país?

Varoufakis - Nenhum sistema bancário pode se tornar solvente quando o Estado é insolvente. É por isso que precisamos de uma reestruturação da dívida e um plano de crescimento. Uma vez que isso seja alcançado, os bancos vão renascer.

Exame - A Grécia sofre de evasão fiscal e de corrupção endêmica. Como modernizar a economia do país?

Varoufakis - É preciso implementar as propostas que fizemos quando fomos eleitos em janeiro de 2015. Fomos impedidos pelos credores que queriam apenas derrubar nossas políticas.

Exame - Em seu livro Conversando sobre Economia com a Minha Filha, o senhor explica os principais conceitos de economia para os jovens. Como descreveria para eles a atual situação na Grécia?

Varoufakis - Era uma vez um pequeno país no sul da Europa que faliu. Quando ele não pagou suas dívidas, os governos do norte obrigaram essa nação a contrair novos empréstimos, mediante a redução de salários e benefícios sociais. E, assim, esse pequeno país foi novamente à falência e precisou contrair o maior empréstimo da história da humanidade. Essa história nunca poderia ter um final feliz.

Exame - Mais de 50% dos jovens estão desempregados na Grécia hoje. O que o senhor diria a eles?

Varoufakis - Há sempre esperança. Mas, para transformá-la em realidade, é preciso fazer uma reestruturação da dívida e trabalhar para promover a justiça social.

Exame - A crise dos refugiados na Europa retarda ainda mais uma recuperação da Grécia?

Varoufakis - A Síria e outros países do Oriente Médio estão implodindo. O que importa agora é que a Europa precisa acolher aqueles que estão fugindo de guerras — assim como os europeus foram recebidos quando fugiam dos nazistas nos anos 40.

Exame - Como descreve sua experiência no governo?

Varoufakis - O fato de que nossa resistência à irracionalidade foi esmagada me entristece. Mas a forma como esses seis meses inspiraram tantas pessoas em toda a Europa me enche de satisfação e esperança.

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