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Vietnã, outro exemplo asiático

Em dez anos de crescimento econômico, o Vietnã reduziu a pobreza pela metade

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Da Redação

Publicado em 10 de março de 2011 às 19h27.

Quando se fala em Ásia, o mundo inteiro se lembra da China. Mas há outro país daquele continente no qual poucos prestam atenção e que vem alcançando um desempenho econômico notável. A República do Vietnã, que há uma década iniciou uma lenta transição do comunismo para o capitalismo, está em meio a uma revolução -- dessa vez, pacífica. Nos últimos dez anos, o PIB nacional cresceu a uma média anual de espetaculares 7,4% (indicador que deve repetir-se neste ano).

É, depois da China, o ciclo mais próspero e longevo de expansão da economia de um país. Ainda que o montante total seja baixo, em torno de 40 bilhões de dólares, o PIB aumentou quatro vezes de tamanho no curto espaço de 12 anos. A mudança foi tão drástica que provocou um dos maiores exemplos de mobilidade social de que se tem notícia. De acordo com os critérios do Banco Mundial, 58% da população vivia abaixo da linha de pobreza em 1993. Isso significa que seis em cada dez vietnamitas viviam com menos de 2 dólares por dia. Em 2002, este número foi reduzido para 29%.

A mudança do Vietnã é um processo que pode ser percebido até por quem anda nas ruas da capital, Hanói. Um desavisado que não soubesse o resultado da guerra com os Estados Unidos diria que os americanos venceram o conflito. A presença do capitalismo é marcante. Os 2 milhões de turistas que visitam o país encontram lojas de grifes das mais variadas indústrias, como Coca-Cola, Levi's ou General Electric.

Há desfiles de moda, como o da foto que ilustra esta reportagem, e desde 2002 funciona uma bolsa de valores em Ho Chi Minh. Neste ano, o mercado de ações vietnamita foi o que teve o melhor desempenho na Ásia, com ganhos de 66%. Com leis mais flexíveis para o registro de empresas, 50 000 novas firmas entraram no mercado. O povo vietnamita também vive melhor. A partir da redução da pobreza, outros indicadores sociais tiveram melhora substancial. O principal deles é a expectativa de vida. De 1990 a 2003, esse índice aumentou de 62 para 70 anos.

A chave para entender essa transformação está na participação da iniciativa privada (basicamente a estrangeira) nesse processo. Depois de 30 anos de guerras, entre 1945 e 1975, e de dez anos de regime comunista, o Vietnã entrou em crise generalizada nos anos 80, com inflação acima de 700% ao ano.


A solução para o caos foi abandonar o isolamento econômico e abrir espaço para a entrada da iniciativa privada no país. Em 1986, o próprio Partido Comunista iniciou o processo de reformas ao extinguir o planejamento centralizado. Desde então, relações diplomáticas foram normalizadas com uma série de países, acordos bilaterais foram assinados, o que gerou, enfim, a entrada de investimento estrangeiro no Vietnã.

Em uma década de abertura, quase 2 000 novos empreendimentos chegaram ao país, trazendo investimentos de 27 bilhões de dólares. Em razão desses negócios, a média anual de geração de empregos passou a ser de 1 milhão de novos postos de trabalho. O mais importante acordo comercial foi assinado com os Estados Unidos. Hoje, os antigos inimigos compram mais de 2 bilhões de dólares apenas em produtos têxteis, o que fez com que as exportações aumentassem 21% no ano passado.

Assim como na China, o cenário político ainda é sombrio. O país é governado com mão-de-ferro pelo Partido Comunista e não há nenhuma alteração nesse panorama a curto prazo. Nas eleições locais, as candidaturas são restritas a membros da legenda nos mesmos moldes soviéticos, chineses e cubanos.

Outro problema muito comum é o alto índice de corrupção das autoridades governamentais. Recentemente, descobriu-se que 90% dos contratos de uma das maiores empresas públicas de telefonia eram viciados. O escândalo quase provocou a queda do ministro das Telecomunicações.

Em algumas províncias, as companhias reclamam muito da voracidade por propinas dos fiscais do governo. Mas, mesmo com esses percalços, o governo do Vietnã tem se mostrado lúcido nas escolhas econômicas. No próximo ano, o país pretende, por exemplo, associar-se à Organização Mundial do Comércio. Uma demonstração de que os vietnamitas entenderam a lição de que se isolar do mundo não é a melhor solução.
 


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