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Ou o Brasil muda previdência ou terá população idosa e pobre

Ou o Brasil muda o sistema de previdência ou poderá ter uma população de idosos pobres, segundo um dos maiores especialistas do mundo em aposentadoria


	Ricard Jackson: aumentar a contribuição ao INSS não resolve o problema.
 (Divulgação/Exame)

Ricard Jackson: aumentar a contribuição ao INSS não resolve o problema. (Divulgação/Exame)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2015 às 10h13.

São Paulo — O americano Richard Jackson é um estudioso dos impactos sociais e econômicos provocados pelo envelhecimento da população. É autor de livros e pesquisas sobre o tema e criou um índice que mede como os países estão se preparando para lidar com os idosos.

Associado do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, com sede em Washington, Jackson virá a São Paulo em meados de setembro para dar uma palestra sobre o assunto.

Exame - O senhor elaborou um índice para avaliar se os países estão preparados para o envelhecimento da população. Qual é a situação do Brasil?

Richard - O Brasil tem um sistema previdenciário adequado, cujo objetivo é garantir que a maior parte da população tenha uma renda na aposentadoria. Mas ele não é sustentável, porque é improvável que o Estado consiga arcar com seus custos no futuro, os quais só tendem a aumentar.

Os idosos deverão representar quase um quarto da população total do Brasil em 2050. Em 2010, o percentual estava em apenas 7%. O governo precisa fazer ajustes quanto antes.

Exame - Quais ajustes seriam os mais efetivos?

Richard - É necessário cortar benefícios, como o governo vem fazendo, mas só isso não é suficiente. Se os cortes forem muito profundos, o país corre o risco de ter uma população de idosos pobres em 20 anos, o que geraria um problema social.

Exame - Qual é a saída? Aumentar o valor que é pago à Previdência Social?

Richard - Não. Os impostos no Brasil são muito altos. Uma alternativa seria construir um sistema complementar de planos de previdência, com alguma ajuda pública. O governo poderia fazer como algumas empresas fazem: colocar 1 real no plano para cada real depositado pelo contribuinte. Essa poupança ajudaria a complementar a renda da aposentadoria pública. A Suécia está nessa transição.

Exame - Como fazer uma mudança como essa num país com renda bem menor do que a da Suécia?

Richard - O governo precisa fazer campanhas para conscientizar a classe média e também a população mais pobre de que é necessário economizar para o futuro. Às vezes, isso significa trabalhar durante mais tempo.

Exame - Ainda há pessoas que se aposentam com menos de 60 anos no Brasil. Faz sentido?

Richard - Permitir que as pessoas se aposentem com menos de 60 anos pode fazer sentido quando um país tem muitos jovens, a economia está crescendo e é preciso dar espaço aos mais novos no mercado de trabalho. Mas não é o caso do Brasil.

Exame - Nos países desenvolvidos, a renda per capita já era alta quando a população começou a envelhecer — o que não é o caso dos países emergentes. Que consequências isso pode ter?

Richard - Em vez de pensar em países, devemos pensar em pessoas: é muito mais difícil ficar rico depois de envelhecer, certo? Se a pessoa não enriqueceu enquanto jovem, deve buscar uma maneira de viver sua velhice.

Exame - Ou seja, o futuro será ainda mais complicado?

Richard - Depende. Para os países que não têm sistemas sustentáveis, ainda dá tempo de fazer mudanças. A vantagem é poder aprender com os erros e acertos das nações desenvolvidas. Como as mudanças não foram feitas, há mais flexibilidade. O futuro será difícil para os que ficarem parados.

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