Revista Exame

Os vizinhos do Brasil estão mais valiosos nas bolsas

O Brasil é a sede da maioria das grandes empresas abertas da América Latina, mas outros países da região avançam na lista das companhias com maior valor de mercado


	Ecopetrol: a petroleira colombiana chegou a valer mais que a Petrobras
 (Wikimedia Commons)

Ecopetrol: a petroleira colombiana chegou a valer mais que a Petrobras (Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 31 de maio de 2013 às 15h02.

São Paulo - O Brasil costuma ser visto como um líder natural na América Latina. É o país mais populoso, tem a maior economia e boa parte das maiores empresas da região.

Companhias de outros países latino-americanos, no entanto, vêm ganhando espaço. O mercado de capitais é um bom termômetro do avanço dos vizinhos. Em janeiro, a petrolífera colombiana Ecopetrol chegou a superar a brasileira Petrobras e se tornou a empresa com maior valor de mercado da América Latina.

A liderança da Ecopetrol foi efêmera — ela logo foi ultrapassada pela Ambev e pela própria Petrobras —, mas mostra que a Colômbia entrou no radar dos investidores estrangeiros. Outro país que tem chamado a atenção é o México, apontado por muitos como a bola da vez no cenário mundial. No ranking das 20 companhias mais valiosas da região hoje, dez são brasileiras e sete mexicanas.

Desde o fim de 2011, as brasileiras dessa lista perderam 25 bilhões de dólares em valor de mercado. No mesmo período, as mexicanas passaram a valer 40 bilhões de dólares a mais.

A número 1 do México é a América Móvil, do empresário Carlos Slim, o homem mais rico do mundo. Os dados foram levantados pela consultoria Economática para a edição de 40 anos de Melhores e Maiores, que EXAME publicará no início de julho.

A ascensão das companhias mexicanas acompanha a melhora do cenário econômico do país. Nos últimos dois anos, o México, beneficiado pela recuperação da economia dos Estados Unidos, cresceu mais do que o Brasil. Em 2012, o PIB mexicano teve expansão de 3,9%, ante 0,9% do brasileiro. Para os próximos anos, as perspectivas do México continuam boas.

Um estudo do banco HSBC aponta que, até 2018, o México deverá tirar da China a posição de maior exportador para o mercado americano. Além da proximidade com os Estados Unidos e da mão de obra relativamente barata, o México conta com um ambiente favorável aos negócios.


O presidente, Enrique Peña Nieto, que assumiu em dezembro, começou a pôr em prática medidas para estimular a concorrência. Seu primeiro alvo é o setor de telecomunicações, dominado pelo grupo de Slim. No fim de abril, o Congresso mexicano aprovou um projeto de lei que reduz os entraves aos investimentos estrangeiros em telefonia fixa e televisão.

“O México tem hoje um governo mais transparente e que não age como se estivesse apagando incêndios a toda hora, como ocorre com frequência no Brasil”, diz Samy Dana, professor de economia da Fundação Getulio Vargas de São Paulo. 

Nada parece refletir melhor o momento pouco brilhante do Brasil do que o desempenho da maior empresa do país. Em pouco mais de um ano, a Petrobras perdeu 38% de seu valor de mercado — e cedeu para a fabricante de bebidas Ambev o posto de companhia aberta mais valiosa da América Latina.

Em 2012, o lucro da estatal caiu 36% em relação ao ano anterior, o pior resultado em oito anos. A queda do lucro se deveu, sobretudo, à defasagem do preço dos combustíveis — fruto da política oficial de retardar reajustes na gasolina e no óleo diesel para aliviar a inflação.

Além da interferência do governo, o baixo desempenho das principais companhias brasileiras no ano passado desanimou muitos investidores. De acordo com levantamento da Economática com 330 empresas de capital aberto, 45% delas tiveram queda do lucro.

O fluxo de capital de curto prazo — investimentos com retorno em até um ano — para o Brasil caiu de 43 bilhões de dólares, em 2011, para 12 bilhões, em 2012. Já o México recebeu no ano passado 38 bilhões de dólares — três vezes mais que o Brasil.

“A ingerência política, como a vista no setor elétrico, acelerou a saída de capital em direção a Peru, Chile e Colômbia, além do México”, diz Rodrigo Campos, analista da corretora Fator.

Algumas empresas brasileiras estão sofrendo em razão do cenário externo, especialmente as fornecedoras de matérias-primas. A mineradora Vale, segunda empresa mais valiosa da América Latina no fim de 2011, ocupa hoje a quarta posição no ranking.

“Os preços das ações das mineradoras no mundo caíram em razão do ceticismo quanto ao crescimento econômico da China”, diz Roberto Castello Branco, diretor de relações com investidores da Vale.

Os chineses são os principais compradores de minérios no mundo — e a última década deixou claro quanto o Brasil pode ganhar com a China em plena forma.

Como não temos muito a fazer nesse front a não ser torcer, deveríamos concentrar nossa energia na melhora do ambiente de negócios. O Brasil continuará sendo o peso pesado da região — mas vários de nossos vizinhos estão trabalhando firme para encurtar essa distância.

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