Revista Exame

Os porschemaníacos estão tristes

A montadora alemã vive um paradoxo: os puristas gostam mesmo é do esportivo 911, mas o que vende (e muito) são os SUVs. E o elétrico Taycan vem aí

Um 911, versão Carrera S Coupé G-Serie, nos anos 80: clássico (Porsche AG/Divulgação)

Um 911, versão Carrera S Coupé G-Serie, nos anos 80: clássico (Porsche AG/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 11 de outubro de 2018 às 05h34.

Última atualização em 11 de outubro de 2018 às 05h34.

Se fôssemos classificar os fãs da Porsche, de um lado ficariam os puristas, cultuadores dos modelos históricos, em especial o icônico 911, que, a despeito de suas revitalizações em mais de 50 anos, ainda é o símbolo de esportividade puro-sangue. Tradicionalistas entendem o carro quase como uma extensão de seus sentidos. Quanto mais os bólidos prezarem pela essência, melhor, para que eles, os condutores ou, vá lá, os pilotos, possam exercer seu lado indomável com toda a maestria.

Não estranhe, portanto, se ouvir um porschemaníaco tecer loas sobre as maravilhas do câmbio manual, do motor aspirado, do ronco estrondoso, da vontade própria da máquina, que, de temperamento forte, só falta disparar sozinha.

O elétrico Taycan, durante testes: estreia prevista para 2019

Do outro lado da pista estariam os futuristas, atentos a todo tipo de inovações que os carros oferecem. Para eles, pouco importa se a montadora, ciente das necessidades da vida contemporânea, usar e abusar da tecnologia, que não raro interfere no modo de condução do motorista. Os antenados não dão a mínima para o fato de a fábrica ter cometido, aos olhos dos clássicos empedernidos, a heresia de ter se rendido aos SUVs — basta uma olhada nos números para entender a força desse segmento mesmo numa marca esportiva como a Porsche (veja gráfico abaixo).

Para tristeza ainda maior dos conservadores, e alegria dos disruptivos, a Porsche está prestes a entrar com as quatro rodas no politicamente correto terreno dos elétricos com o ainda inédito Taycan. Versões híbridas da marca, que misturam combustão e eletricidade, já caíram nas graças do mercado e circulam por aí. Mas agora estamos falando de um motor inteiramente elétrico. Existia a expectativa de que o carro fosse apresentado no Salão do Automóvel de São Paulo, que começa no dia 8 de novembro, mas sua estreia acontecerá mesmo somente em 2019. O Taycan vai acelerar de 0 a 100 km/h em apenas 3,5 segundos — sim, incontestavelmente será um legítimo esportivo.

A divisão entre os aficionados começou em 2002 com o lançamento do Cayenne, na interpretação do concessionário Marcel Visconde, presidente da Sttutgart Porsche, importador oficial da marca alemã de 1997 a 2015. Foi um movimento bastante estratégico, considerando que a Porsche quase foi à falência no fim dos anos 90. À primeira impressão de quem chegava, o SUV era um produto meio desvinculado do nome Porsche, cuja associação imediata era com um carro bom de desempenho e visual agressivo — leia-se 911. Bastava o vendedor colocar o interessado no banco do carrão, porém, para que ele entendesse que, embora a concepção da carroceria não convencesse, a dinâmica era de um bólido em matéria de velocidade e dirigibilidade. Era possível estar em um grandalhão utilitário-esportivo sem comprometer o prazer de dirigir. “A Porsche mostrou que poderia ser uma referência de esportividade em outros nichos”, diz Visconde.

Seguiram-se, então, outros dois lançamentos que acentuaram a diáspora dos aficionados, o cupê quatro portas Panamera, em 2009, e o crossover Macan, em 2013 — este um sucesso absoluto de público. As versões mais comportadas da Porsche asseguram volume de vendas, ainda que o Macan, com versão de entrada por 321.000 reais, custe quase metade do 911 mais em conta.

Mas os modelos genuinamente esportivos continuam bem vivos, e se renovando. A estrela da Porsche no Salão de São Paulo será o 911 GT3RS, equipado com motor aspirado de 520 cavalos de potência, capaz de ultrapassar os 300 quilômetros por hora. Trata-se do mais potente esportivo produzido para circuitos de corrida com permissão para rodar pelas ruas. Para o Brasil, serão destinadas 15 unidades, todas já reservadas — lamento se frustramos o desejo de alguém… Preço a ser confirmado: em torno de 1,5 milhão de reais.

A flexibilização do portfólio garantiu recorde global de vendas para a marca em 2017, com 246 000 veículos comercializados. No Brasil, de janeiro a abril deste ano foram vendidos 502 carros, melhor marca até hoje. Trata-se de uma tendência do segmento. Por questões estratégicas e comerciais, as grifes automotivas de luxo vêm se rendendo, uma a uma, à demanda do mercado. Nessa categoria estão o Lamborghini Urus, o Bentley Bentayaga W12, o Alfa Romeo Stelvio Quadrifoglio, para ficar em exemplos badalados, todos SUVs, que, apesar da roupagem brutamontes, são capazes de acelerar abaixo de 4 segundos quando desafiados a atingir os 100 quilômetros por hora. Quem se atreve a dizer que não se trata de legítimos esportivos?

Se nem assim o eventual desconfiado leitor estiver convencido, espere até o ano que vem, quando a Ferrari apresentará sua versão para o segmento. Evitando a chancela de SUV, a marca italiana se valerá da nomenclatura FUV, de Ferrari Utility Vehicle. De todo modo, o sugestivo nome não deixa dúvida sobre sua vocação: Purosangue.


Sob os holofotes

As novidades do Salão do Automóvel de São Paulo, a partir de 8 de novembro

Sedã turbinado

O sedã Volvo S90 T8 nem sequer tinha sido lançado no Brasil, e as primeiras 20 unidades foram vendidas. Mas, acalmem-se, se for o caso, porque acaba de chegar um novo lote. O motor híbrido é o mesmo do XC90 e do XC60. Preço: R$ 365.950

Perua arisca

A Audi vai mostrar a nova geração da RS4, perua que pode muito bem ser chamada de autêntico esportivo. Quer ver? Embaixo do capô, repousa uma cavalaria de 450 cavalos de potência, despertada por um inédito motor biturbo. Vendas a partir de 2019

Faísca elétrica

A versão roadster do i8, o esportivo híbrido plug-in da BMW, também vai dar pela primeira vez as caras no Brasil. Equipado com motores elétrico e a combustão, o carro acelera de 0 a 100 km/h em 4,6 segundos — 0,2 segundo a mais do que o Coupé

 

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