Revista Exame

Os melhores gestores de fundos do ano

Conheça as dez instituições que se destacaram no mercado brasileiro nos últimos 12 meses, segundo pesquisa exclusiva da FGV — e saiba onde seus profissionais estão aplicando agora. Conheça ainda os melhores fundos de acordo com a renda dos investidores

Tatiana Grecco, superintendente de fundos indexados do Itaú (Germano Lüders/EXAME.com)

Tatiana Grecco, superintendente de fundos indexados do Itaú (Germano Lüders/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 5 de outubro de 2013 às 19h49.

São Paulo - Pela primeira vez desde que EXAME começou a publicar a pesquisa dos melhores gestores de fundos do mercado, em 1996, as instituições foram divididas de acordo com o perfil de renda de seus investidores.

Há um ranking de bancos e gestoras que atendem melhor quem aplica até 50 000 reais, outro para quem tem até 250 000 reais e um terceiro para quem tem mais que isso — também há uma lista das instituições voltadas para empresas e investidores institucionais, como os fundos de pensão.

O objetivo dessa nova divisão feita pelo Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV), responsável pela pesquisa, é dar indicações mais precisas a quem vai decidir onde colocar seu dinheiro.  As diferenças entre os fundos para esses públicos são significativas.

Em 12 meses, as carteiras voltadas para a alta renda tiveram rentabilidade de 8%, enquanto as de varejo renderam menos de 5%. “Para quem está se planejando para o longo prazo, essa é uma diferença relevante”, diz Ricardo Rochman, professor da FGV. Ao longo de 20 anos, um retorno extra de 3% vira 80%.

O rendimento da alta renda é maior porque as taxas de administração são mais baixas — e também porque os mais ricos costumam ter acesso a produtos mais sofisticados. Mas essa, claro, é a média. É possível encontrar gestoras que entregam retornos bem acima da média para todos os perfis de renda. Saiba quais são as melhores do mercado a seguir.

Grandes tacadas são um mito - Itaú

Gustavo Murgel, diretor executivo da gestora de recursos do banco:

"Na maioria das vezes, investir não é um negócio de grandes tacadas — nem para os gestores profissionais, muito menos para os investidores individuais. O que vale é a consistência, especialmente quando se faz um plano para vários anos.

Num ambiente de queda dos juros — não acredito que o aumento das taxas nos últimos meses mudará essa tendência no longo prazo —, é preciso buscar aplicações de maior risco, e elas são voláteis. Isso vale inclusive para a renda fixa, como ficou claro nos últimos meses, com a desvalorização de títulos públicos atrelados à inflação.

Para explorar bem as oportunidades que existem, planejamento é fundamental. O mais importante é dividir os recursos de acordo com o prazo durante o qual eles devem ficar aplicados. Para ajudar, há os serviços de assessoria financeira — esse é o negócio que mais cresce no mercado financeiro hoje.

A alternativa de não fazer nada e deixar o dinheiro parado num fundo DI, que era atraente no passado, com juros reais de 10% ao ano, não compensa agora.” 


Hora de se proteger na bolsa - XP Investimentos

Patrick O’Grady, diretor de gestão:

"Mesmo com a desaceleração da economia, continuamos apostando em ações de empresas voltadas para o consumo doméstico. As oportunidades não são mais tão óbvias como eram em 2011 ou 2012, mas ainda há boas opções em muitos setores. É o caso das empresas de shop­pings, que podem se beneficiar em dois cenários.

Se o comércio se recuperar, essas companhias, que recebem parte dos lucros das vendas das lojas, vão ganhar mais. Se o cenário continuar como está, conseguem proteger suas receitas da alta da inflação, porque os aluguéis são reajustados por índices de preço.

Também somos otimistas com a Cielo, que processa transações com cartões. O crédito pode não estar farto, mas a tendência de migração do dinheiro para o plástico continua, assim como o aumento do número de brasileiros com conta bancária.  Por motivos diferentes, voltamos a comprar ações da Vale. O cenário ainda não é positivo para mineradoras, mas o valor de mercado da empresa reflete um cenário bem pior do que o esperado. Está barato.” 

O risco do gabinete - Bradesco

Joaquim Levy, superintendente da gestora do banco:

"Uma série de decisões de gabinete, tomadas por governos no mundo todo, está influenciando como nunca os investimentos.   Nos Estados Unidos e na Europa, os mercados acabam seguindo o que é decidido pelos governos. Até no Brasil tem sido assim. Isso é um perigo, mas também pode ser uma boa oportunidade.

Os fundos multimercados que aplicam parte do patrimônio no exterior são uma alternativa interessante. Quem pegou o movimento de alta da bolsa americana se deu bem. É difícil dizer se o preço das ações reflete, de maneira geral, a recuperação da economia dos Estados Unidos. Como a valorização foi expressiva, o risco de baixa é grande. Mas continuamos otimistas.” 


Fora rende mais - BTG Pactual

João Scandiuzzi, estrategista-chefe da gestora do banco:

"Desde que o banco central americano indicou que poderia reduzir os estímulos à economia, mudamos nossa estratégia. Passamos a apostar na alta do dólar — estávamos na direção oposta no início do ano — e também a comprar títulos de empresas brasileiras emitidos no exterior, que estão rendendo mais que aqui.

O aumento da incerteza levou os investidores estrangeiros a vender papéis de companhias nacionais, e esse movimento foi mais forte no mercado internacional, que tem maior liquidez.

Por isso, esses papéis passaram a ser negociados com desconto, o que criou uma boa oportunidade de compra. Os investidores podem buscar fundos que façam esse tipo de aplicação, que deverá entregar bons retornos nos próximos meses.” 

Quando a renda fixa parece a bolsa - HSBC

Renato Ramos, diretor de renda fixa:

"Os investidores ainda vão vi­ver alguns meses de volatilidade, embora os altos e baixos não devam ser tão grandes quanto os do primeiro semestre deste ano. O Banco Central deve continuar aumentando os juros para garantir que a inflação fique sob controle — é provável que a taxa Selic feche o ano ao redor de 10%.

Não esperamos mudanças bruscas no mercado financeiro mundial, mas está claro que a tendência das taxas de juro internacionais é de alta, e isso tem um impacto aqui.

Nesse cenário, começa a ser interessante aplicar um pouco mais em títulos com rendimento vinculado ao DI, que passam a render mais. Mas não vale a pena abandonar totalmente investimentos de renda fixa de maior risco, como os papéis da dívida de empresas e os títulos públicos de prazo mais longo — e os fundos que aplicam neles.

Há opções que oferecem um rendimento interessante acima da inflação. Hoje, é importante também para o investidor de renda fixa, como sempre foi para o investidor de renda variável, ter claro seu horizonte de investimento. Quem pretende deixar o dinheiro aplicado por alguns  anos não precisa de liquidez diária, então pode buscar opções mais sofisticadas.” 


Ginástica para bater o CDI - JPMorgan

Júlio Callegari, diretor de renda fixa:

"A margem de manobra do gestor em um fundo DI é limitada, porque o rendimento precisa ficar colado à taxa Selic. Mas, se aplicarmos apenas nos títulos públicos que seguem os juros, o retorno, dependendo do mês, pode ser inferior à inflação, depois de descontados imposto de renda e taxa de administração.

Para tentar conseguir uma rentabilidade um pouco maior, compramos no passado títulos de empresas e também papéis de longo prazo emitidos pelos bancos, que são as Letras Financeiras. Ambos pagam mais do que os juros de mercado.

Só as letras financeiras, que respondiam por 4% da carteira no início de 2012, hoje representam 10%. O papel que mais rendeu nos últimos 12 meses foi do Itaú, que pagou 107% do CDI no ano.” 

Mais calma com a inflação - Itaú

Tatiana Grecco, superintendente de fundos indexados:

"A inflação não preocupa tanto quanto no início do ano. O Banco Central está atuando para conter a alta dos preços, e a inflação, apesar de estar num patamar alto, deverá recuar nos próximos meses. Internamente, as principais dúvidas estão relacionadas ao desempenho da economia.

Vamos conseguir crescer? Como? Quais serão os impactos da alta dos juros? Fora isso, há as questões externas, que devem continuar gerando bastante volatilidade. Há muita incerteza sobre as consequências de uma mudança na política monetária nos Estados Unidos para os países emergentes.

Ou seja, é bom esperar volatilidade. Reduzimos o risco dos fundos. Aplicamos majoritariamente em títulos públicos e, quando compramos papéis de dívida privada, preferimos os de curto prazo, que vencem em, no máximo, um ano.” 


Conservador sim, e daí? - Banco do Brasil

Carlos Massaru Takahashi, presidente da gestora do banco:

"Com a alta dos juros, os fundos DI, de maneira geral, voltaram a ser competitivos. São uma boa opção para guardar recursos de curto prazo — não é preciso sair buscando CDBs ou mesmo poupança, como alguns consultores recomendavam no passado.

Para prazos mais longos, os títulos públicos atrelados à inflação (NTN-Bs) são interessantes: os que vencem em 2025 e 2030 pagam, hoje, de 5,5% a 6% acima do IPCA. Vale a pena garantir rentabilidade como essa no futuro.

Alguns fundos que compram esses papéis estão em baixa, em razão da alta dos juros e da saída de investidores estrangeiros, o que reduziu o valor atual dos títulos. Isso assustou muita gente, mas quem não sacou o dinheiro investido ainda deve conseguir bons retornos.” 

Aposta em infraestrutura - Capitânia

Arturo Profili, sócio e diretor de finanças estruturadas:

"Uma das melhores opções na renda fixa está ligada à infraestrutura. Alguns  títulos emitidos por empresas desse setor são isentos de imposto de renda para pequenos investidores. O rendimento anual pode chegar a 8% mais inflação, mas, em geral, fica em inflação mais 4% ao ano.

É difícil achar outra aplicação que renda isso — e esses investimentos são isentos de imposto de renda. Mas não há tantos papéis de infraestrutura com isenção disponíveis, e eles vencem em mais de dez anos — é difícil vendê-los antes disso.

Para quem precisa de mais liquidez, uma boa alternativa são os fundos que investem em Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), que também são isentos de imposto e têm mais liquidez.” 


Só o Ibovespa não dá - Itaú

 Leonardo Vaques, gestor de fundos indexados:

"Para conseguir retornos melhores do que a média do mercado, estamos alugando uma parcela maior das ações que temos em carteira: estamos perto de nosso limite máximo, que é de 70% do patrimônio. Assim, recebemos um retorno fixo pelos papéis que temos de manter nos fundos, para que eles sigam o desempenho de índices de mercado.

O Ibovespa ainda é o principal indicador, mas há cada vez mais investidores procurando fundos que sigam o comportamento de outros índices, como o que reúne empresas pequenas e médias ou os que pagam dividendos elevados. Não existe índice bom ou ruim, mas o melhor para cada objetivo.”

A bolsa que vale a pena - Guepardo

Roberto de Magalhães Esteves, sócio da gestora:

"Sempre há oportunidades interessantes na bolsa para quem pensa no longo prazo. Aplicamos em ações de empresas que acreditamos que vão entregar bons resultados em dez ou 15 anos. Para nós, o vaivém de curto prazo não muda muita coisa.

Recentemente, compramos mais papéis da siderúrgica Gerdau, que chegaram a cair 30% no primeiro semestre, em meio à onda de pessimismo com países emergentes, e ficaram muito baratos. Não faz sentido uma companhia que exporta e tem fábricas no exterior perder valor em bolsa justamente num momento de valorização do dólar.

Também temos ações da Restock (antiga Le Lis Blanc, rede de lojas de roupas), do banco Itaú, da Júlio Simões Logística, da Magnesita (empresa de mineração e produção de refratários) e da Triunfo (companhia de infraestrutura). São empresas lucrativas, líderes de mercado, que devem crescer muito nos próximos anos.

Da carteira, só Itaú e Gerdau fazem parte do Ibovespa. Não faz sentido limitar o investimento em bolsa às empresas que estão no índice. Ele não representa muita coisa, é apenas um agregado de ações muito negociadas — nem são as maiores companhias do mercado.”


Cerveja, aqui e no exterior - BTG Pactual

José Zitelmann, sócio responsável por renda variável:

"O Ibovespa está  indo muito mal, mas há ações interessantes, mesmo entre as empresas que compõem o índice. Nossa estratégia hoje é buscar aquelas que tenham boa gestão e uma dinâmica própria de crescimento, que dependam pouco do desempenho da economia.

É claro que, se houver recessão, essas companhias sofrem, mas conseguem apresentar bons resultados mesmo com uma expansão modesta do PIB, de 1% ou 2% ao ano. É o caso da fabricante de bebidas Ambev e de sua controladora, a Anheuser-Busch Inbev, listada em Nova York. Temos ações das duas empresas.

A Ambev tem sido capaz de compensar a queda no volume de vendas de bebidas com aumento de preços e cortes de despesas. A AB Inbev está cada vez mais lucrativa. Por exemplo: comprou a cervejaria Modelo em junho de 2012 e, no primeiro trimestre deste ano, aumentou em 10 pontos percentuais a margem operacional do novo negócio.

Compramos ações da BRF, fabricante de alimentos que vem simplificando sua estrutura para ser menos uma empresa industrial e mais uma companhia de consumo. A chegada de Abilio Diniz (presidente do conselho de administração) deve contribuir para esse processo, já que ele traz a experiência do Pão de Açúcar.” 

De olho no "curtíssimo prazo" - Itaú

Marcello Siniscalchi, diretor de investimentos da gestora do banco:

"Os efeitos da crise de 2008 foram amenizados pela adoção de estímulos fiscais e monetários nas grandes economias do planeta. A situação da Europa continua complicada, mas o início de recuperação dos Estados Unidos mostra que é hora de rever essas políticas e começar a normalizar os juros, que estão muito baixos.

Entramos na segunda fase do ajuste pós-2008, que pode durar anos e certamente vai criar um ambiente mais difícil para os países emergentes. Cada mercado tem sua particularidade, mas, de forma geral, os investidores devem passar a exigir retornos maiores para colocar dinheiro em locais como Brasil, México ou China.

Isso significa que teremos muitos solavancos, talvez outros como o que vimos em junho deste ano — tanto na bolsa, como na renda fixa. Não temos grandes apostas em nenhuma aplicação hoje. Esse é um cenário para operações de curtíssimo prazo — vai ganhar dinheiro quem souber arbitrar diferenças de preço de ações, moedas e títulos de renda fixa no mercado.” 


"O Brasil está mais vulnerável" - Ibiúna

Mário Torós, sócio e gestor:

"O Brasil está mais vulnerável do que no passado. O crescimento econômico está mais fraco, a inflação está num patamar elevado e o cenário externo é bastante desafiador para o país. Estamos em meio a um processo de recuperação moderada da economia global, que gera ajustes em diferentes investimentos, na maioria dos países.

De forma geral, os recursos estão indo para os Estados Unidos, porque há sinais mais consistentes de que o pior já passou. A bolsa e o câmbio estão em alta. No último ano, ganhamos ao apostar na subida do dólar contra o iene. Atualmente, acreditamos que o dólar vá valorizar frente a praticamente todas as moedas, inclusive, claro, o real.

Como as taxas dos títulos públicos americanos estão aumentando, em razão da expectativa de elevação dos juros, há mais investidores aplicando lá, o que é ruim para países emergentes que precisam de recursos, como o Brasil. Para completar, a China está em desaceleração, o que reduz a demanda por exportações brasileiras.

Diante de tudo isso, nossos principais investimentos, atualmente, estão concentrados em títulos atrelados à inflação, como NTN-Bs. É onde vemos alguma chance de ganho, porque não acreditamos hoje numa grande freada da inflação. Também temos aplicações em bolsa, mas olhando ganhos relativos de uma ação contra outra (long e short). De forma geral, somos mais otimistas com a bolsa americana.” 

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