Revista Exame

“Os Jogos do Rio mostram a nossa resiliência”, diz Jaguaribe

Para Roberto Jaguaribe, presidente da Apex, agência de promoção do comércio exterior, os estrangeiros estão aprendendo a não subestimar a capacidade do Brasil.

Roberto Jaguaribe, da Apex: “A Copa de 2014 mostrou que o Brasil é um bom anfitrião” (Divulgação/Exame)

Roberto Jaguaribe, da Apex: “A Copa de 2014 mostrou que o Brasil é um bom anfitrião” (Divulgação/Exame)

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Da Redação

Publicado em 26 de setembro de 2016 às 14h25.

Brasília — Em junho, o diplomata Roberto Jaguaribe trocou o posto de embaixador brasileiro na China pela presidência da Apex, agência do governo federal para promoção comercial no exterior.

Crítico da forma como o órgão vinha sendo administrado desde a criação, há 17 anos, Jaguaribe explica na entrevista a seguir o que deve mudar na agência e como a realização de grandes eventos esportivos pode ajudar a melhorar a imagem do Brasil no exterior.

Exame - O que precisa ser mudado na Apex?

Jaguaribe - A Apex foi criada pelo Sebrae para promover negócios brasileiros no exterior há quase duas décadas. Mais recentemente, passou a ser gerida pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Durante esse período, havia uma cultura de quase rivalidade com o Itamaraty, que há 50 anos tem um departamento com as mesmas funções da Apex. Hoje, os dois órgãos não cooperam entre si.

Exame - Faz sentido para o país ter os dois órgãos?

Jaguaribe - Não. É impensável existir esse tipo de duplicidade no Brasil, um país sem recursos humanos e financeiros suficientes para o comércio exterior. Mas o setor público brasileiro tende a criar modelos autárquicos que não se comunicam. Na promoção de exportações, que depende de esforços em cadeia, isso é muito grave. Quando não há troca de informações, oportunidades se perdem.

Exame - Onde o problema fica mais evidente?

Jaguaribe - O planejamento das missões comerciais é um exemplo. Até recentemente, a cotação de preços de fornecedores para as missões internacionais da Apex era feita em Brasília. Não faz sentido a embaixada brasileira mais próxima do evento não ser consultada sobre medidas de promoção comercial.

Exame - Qual modelo de gestão o senhor vai dar à Apex?

Jaguaribe - Quero seguir o exemplo do governo do Reino Unido, que usa suas embaixadas de maneira ativa na promoção comercial. A Apex pode também ajudar a atrair investidores ao Brasil. Hoje, eles precisam falar com muitos interlocutores. Nosso papel será indicar a pessoa certa para falar no governo. Queremos ajudar a deslanchar projetos como o de concessões em infraestrutura.

Exame - Mas a imagem do Brasil no exterior hoje é ruim...

Jaguaribe - Sofremos um enorme baque de credibilidade com a instabilidade econômica, o vírus da zika e a crise política. Em se tratando de imagem externa, despencar pelo abismo é muito rápido, mas subir pela ribanceira é demorado.

Exame - A Olimpíada do Rio de Janeiro pode mudar isso?

Jaguaribe - Organizar a competição em meio a tantas adversidades é um exemplo de resiliência que deve ser reconhecido pelo mundo. Fui embaixador no Reino Unido durante a Copa de 2014. Na época, as críticas em relação ao Brasil eram bem maiores do que hoje e a Copa foi considerada uma das melhores da história. Os estrangeiros estão aprendendo a não subestimar o que podemos fazer. 

Exame - Onde estão as melhores oportunidades comerciais para o Brasil atualmente no mundo?

 

Jaguaribe - A China é uma das maiores. Ela nunca será autossuficiente em recursos, o que faz dela um cliente eterno do Brasil. Em setembro, a Apex vai promover os produtos do agronegócio brasileiro em solo chinês.

A China é tão importante que devemos mudar a maneira da Apex de trabalhar, hoje dividida por setor da economia. Vamos criar em breve um núcleo na agência somente para cuidar dos negócios com a China.

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