Protesto de caminhoneiros no Rio de Janeiro: muitos fundos multimercado perderam dinheiro em maio | Leo Correa/AP Photo
Da Redação
Publicado em 21 de junho de 2018 às 05h00.
Última atualização em 21 de junho de 2018 às 11h50.
Os gestores de fundos multimercado estão penando para manter a rentabilidade que conseguiram nos primeiros meses do ano. A piora nas perspectivas da economia, a greve dos caminhoneiros, a alta do dólar e a surpresa do Banco Central, que manteve os juros na última reunião, em maio, deixaram o mercado mais imprevisível — e muitos fundos não conseguiram acompanhar. Na média, os multimercado tiveram uma perda de 0,7% em maio. No acumulado do ano, o rendimento foi de 2,6%, igual ao do Certificado de Depósito Interbancário, segundo a empresa de informações financeiras Economatica. Alguns fundos, porém, renderam bem mais do que isso. É o caso do Versa Long Biased, da gestora GTI, que teve retorno de 27% em 2018 — foi o multimercado mais rentável do ano, segundo levantamento feito, a pedido de EXAME, pela empresa de informações financeiras Morningstar, que analisou fundos abertos com patrimônio superior a 5 milhões de reais. Boa parte da carteira do fundo está aplicada na bolsa, e deve continuar assim. “Os preços das ações não refletem os fundamentos das empresas. Como nosso horizonte é o longo prazo, aproveitamos a baixa para comprar”, diz Luiz Alves, gestor do Versa. As principais ações em carteira são as da empresa têxtil Hering e da gestora de imóveis BR Properties. Outro multimercado com bom ganho é o Vista Multiestratégia, que rendeu 24% no ano. Mas sua estratégia é mais conservadora. “A volatilidade aumentou muito, então estamos fazendo aplicações de curto prazo nos mercados de câmbio e renda fixa”, diz Ricardo Mendonça, economista do Vista. Uma parte pequena do fundo está alocada em ações, especialmente de shopping centers. Para a gestora, o fato de os aluguéis poderem ser reajustados pela inflação funciona como uma proteção em caso de aumento de preços.
PARA LEMBRAR
TÍTULO ATRELADO À INFLAÇÃO
Um investimento recomendado por assessores financeiros para quem está guardando dinheiro para a aposentadoria são os títulos públicos atrelados à inflação com vencimento em 2050. Com o aumento do estresse no mercado financeiro nas últimas semanas, o rendimento desses papéis subiu para 5,9% ao ano, além da variação da inflação. É uma chance de garantir retorno elevado por um período longo, segundo os especialistas.
ATENÇÃO
MAGAZINE LUIZA
Ainda que os resultados da varejista Magazine Luiza estejam acima das expectativas, e a maioria dos analistas acredite que vão continuar a melhorar, há quem ache que as ações ficaram caras. “Acreditamos na estratégia e na transformação da companhia, mas rebaixamos a projeção para as ações depois da forte alta”, afirmam os profissionais do banco Credit Suisse em relatório. Desde janeiro de 2016, os papéis da empresa subiram 5 000%.
BOLSA
OS GESTORES QUEREM COMPRAR MAIS AÇÕES
Os gestores de fundos na América Latina diminuíram as projeções para o Ibovespa neste ano, mas continuam querendo comprar ações. É o que mostra uma pesquisa do Bank of America Merrill Lynch realizada com 32 gestores. Até maio, 45% deles acreditavam que o índice da bolsa terminaria 2018 acima de 85 000 pontos — hoje, são apenas 16%. A maioria dos gestores ouvidos espera que o Ibovespa fique na faixa de 75 000 a 85 000 pontos em dezembro. Hoje, 70% dos gestores dizem que pretendem manter ou aumentar os investimentos em ações nos próximos seis meses. Ainda segundo a pesquisa, a turma que administra os fundos está mais otimista com as ações do setor financeiro, apontadas por 28% deles como as que têm maior potencial de alta, seguidas pelos papéis das empresas dos ramos de commodities (25%).
RENDA FIXA
O RISCO DE CALOTE CAIU
fundo que investe em ativos imobiliários tem retorno alto | Germano Lüders
Alguns dos fundos de renda fixa mais rentáveis do mercado são os de recebíveis. Eles investem em títulos que representam valores que determinadas empresas têm a receber — quando a dívida é paga, o dinheiro vai para o fundo. Um produto desses lançado neste ano pela gestora TMJ, que investe em papéis do setor imobiliário, oferece rendimento de 8,5% ao ano acima da inflação. O problema é quando algum devedor não paga — nesse caso, o fundo fica no prejuízo. Recentemente, porém, muitos gestores passaram a acreditar que o risco de calote das empresas diminuiu. As provisões feitas para arcar com as perdas com inadimplência caíram de 14% do patrimônio dos fundos em janeiro de 2017 para 10% em abril deste ano, segundo levantamento da provedora de informações financeiras Quantum. É um patamar próximo ao de 2013.
ENTREVISTA
No começo de junho, o bilionário americano Warren Buffett, um dos maiores investidores da atualidade, e Jamie Dimon, presidente do banco JP Morgan, publicaram um artigo encorajando as empresas listadas em bolsa a deixar de divulgar previsões de resultados trimestrais — o chamado guidance. Edmar Prado Lopes Neto, presidente do conselho de administração do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores, explica por que o assunto gera polêmica.
Por que algumas empresas divulgam guidance?
É uma forma de garantir que as perspectivas para os resultados cheguem a todo mundo ao mesmo tempo e do mesmo jeito. A assimetria da informação é um desafio para o mercado.
Por que alguns investidores não aprovam essa prática?
Em alguns casos, ela pode estimular os gestores a trabalhar apenas de olho no número do guidance — quando ele é atingido, acreditam que o dever está cumprido. Sem esse guidance engessado, poderiam perseguir um resultado ainda melhor. Outro problema é que muitas empresas estabelecem guidance por trimestre, que é um período muito curto. Os investidores temem que as empresas passem a ser geridas apenas de olho nos resultados trimestrais, e não no crescimento dos negócios no longo prazo.
Divulgar uma previsão de resultados, então, é bom ou ruim?
Não existe um consenso. Mas entendo que o guidance está a favor do investidor, porque é uma ferramenta em prol da transparência.
MOEDA
POR QUE 1 BITCOIN É MAIS CARO NO BRASIL?
Mais uma esquisitice sobre o segmento de moedas virtuais: 1 bitcoin custa mais no Brasil do que na maioria dos países desenvolvidos. Segundo um levantamento da empresa de publicações financeiras Empiricus, a diferença está em 4% hoje, mas chegou a quase 40% um ano atrás. O motivo, de acordo com os especialistas, é o fato de o mercado brasileiro ser mais recente do que o internacional e ser pequeno (o volume de negócios aqui representa cerca de 0,5% do total global). Assim, as reações de poucos investidores são suficientes para movimentar o mercado. “Além disso, há uma tendência a exageros em momentos de euforia ou pânico”, diz Vinicius Bazan, analista de moedas virtuais da Empiricus. Depois de chegar a valer quase 20 000 dólares no fim de 2017, o bitcoin se desvalorizou e, hoje, custa pouco mais de 7 000 dólares.