Revista Exame

"Os Estados Unidos podem dar um calote", diz Frankel

Para o professor de Harvard, existe a possibilidade de o país não honrar suas obrigações financeiras por alguns dias e gerar forte instabilidade nos mercados

Frankel: a economia não pode ser refém dos extremistas do Partido Republicano (Divulgação)

Frankel: a economia não pode ser refém dos extremistas do Partido Republicano (Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 8 de novembro de 2013 às 11h45.

São Paulo - Parte das atividades do setor público americano foi suspensa em outubro porque os partidos Democrata e Republicano não chegaram a um acordo quanto ao orçamento de 2014. A batalha sobre as contas do governo se mistura à discussão acerca da elevação do teto da dívida americana, que deve atingir seu limite legal no dia 17 de outubro.

Sem a ampliação, o governo é obrigado a cortar 20% de seus gastos. Com a economia global ainda enfraquecida, o impasse fiscal nos Estados Unidos pode ter impactos no mundo todo. A opinião é do economista Jeffrey Frankel, professor da Universidade Harvard e ex-assessor econômico da Casa Branca na gestão Bill Clinton. “Se o teto for mantido, poderemos ver até o início de uma nova recessão global.”

1) EXAME - Qual o impacto da paralisação de parte do setor público para a economia?

Jeffrey Frankel - Ela cria uma tremenda incerteza sobre qual rumo a economia americana tomará e desencoraja as empresas a investir ou contratar. Ela ainda afeta a vida dos trabalhadores, que reduzem seus gastos.

2) EXAME - Qual a diferença entre essa paralisação e as de 1995 e 1996, ocorridas durante a gestão Bill Clinton?

Jeffrey Frankel - Hoje, as economias em todo o mundo estão mais frágeis e há um risco maior de descarrilamento da economia global por uma crise fiscal americana.

3) EXAME - Como o senhor avalia o fato de os republicanos não aprovarem o orçamento porque querem mais tempo para a entrada em vigor do “Obamacare”, programa de saúde do presidente Barack Obama?

Jeffrey Frankel - Muitos republicanos são veementemente contra o “Obamacare” porque é um projeto de Obama — não por eventuais problemas. Mesmo que tenham objeções genuínas, membros extremistas do Partido Republicano não podem tornar a economia refém desse embate.

4) EXAME - Em 17 de outubro, o país atingirá o teto legal do endividamento. O que poderá acontecer?

Jeffrey Frankel - Se não houver a elevação do teto, aumentarão as chances de uma grande queda nas bolsas e de redução na liquidez dos mercados financeiros, como aconteceu no fim de 2008. No limite, podemos ver o início de uma nova recessão global.

5) EXAME - E qual é a probabilidade de um calote ocorrer?

Jeffrey Frankel - A probabilidade de um calote em algumas obrigações financeiras, por alguns dias pelo menos, é maior do que as pessoas acreditam. Mas isso não significa um calote na dívida total. Os republicanos devem ceder antes de a situa­ção chegar a esse ponto.

6) EXAME - O que o governo pode fazer para resolver a situação do alto endividamento?

Jeffrey Frankel - Ele não pode ou não consegue cortar despesas como custeio e investimento. Ao mesmo tempo, o governo não tem como aumentar impostos a ponto de reduzir sua necessidade de financiamento. Ou seja, não há alternativas no momento.

7) EXAME - O que toda essa situação revela a respeito da democracia americana?

Jeffrey Frankel - A questão é saber se a democracia americana estaria em um processo de decomposição. Temos visto um abuso de votações truncadas no Congresso e de políticos que apenas jogam para a plateia — em vez de apresentarem propostas concretas. O que já está claro: a democracia americana é tudo, menos perfeita.

Acompanhe tudo sobre:CaloteCrises em empresasEconomistasEdição 1051EntrevistasEstados Unidos (EUA)Países ricos

Mais de Revista Exame

Aprenda a receber convidados com muito estilo

"Conseguimos equilibrar sustentabilidade e preço", diz CEO da Riachuelo

Direto do forno: as novidades na cena gastronômica

A festa antes da festa: escolha os looks certos para o Réveillon