Revista Exame

Como os maiores CEOs conciliaram trabalho e vida pessoal na pandemia

A pandemia exigiu dos executivos à frente das companhias uma capacidade extraordinária de liderança, de resiliência e de versatilidade

Ricardo Mucci, CEO da Cisco: “Ganhei proficiência para cozinhar a refeição do dia a dia.” (Leandro Fonseca/Exame)

Ricardo Mucci, CEO da Cisco: “Ganhei proficiência para cozinhar a refeição do dia a dia.” (Leandro Fonseca/Exame)

MS

Marcelo Sakate

Publicado em 20 de outubro de 2021 às 22h00.

O ano de 2020 não foi somente de superação na entrega de resultados pelas maiores e melhores empresas do país. A pandemia e as condições adversas associadas, muitas das quais inéditas, exigiram dos executivos à frente das companhias uma capacidade extraordinária de liderança, de resiliência e de versatilidade. O trabalho de casa, o home office, tornou-se uma rotina imperativa. Eles se preocuparam e buscaram preservar a saúde física e mental de milhares de colaboradores, ao mesmo tempo que cuidaram de suas famílias e de si próprios em situação de muita pressão. Na Cisco, foi lançado um programa de bem-estar com dois pilares: um para levar a prática de exercícios funcionais de forma remota aos profissionais, e outro para o cuidado com a saúde mental, além de um canal telefônico com médico e especialista para quem sentisse necessidade de ajuda. Muitos casos assim se replicaram nas empresas brasileiras. Na ­Sanofi, a preocupação hoje está com o desafio da adaptação da volta ao escritório, de oferecer condições físicas e psicológicas para a nova realidade. Nestas páginas, quatro histórias de superação e inspiração de como CEOs e líderes das maiores empresas lidaram com a pandemia de dentro de suas casas e buscaram equilibrar trabalho e vida pessoal para entregar seu melhor em ambas as frentes.


RESILIENTES E VERSÁTEIS

Uma empresa líder global em tecnologia para comunicação remota se adaptou sem dificuldade ao home office, certo? Na Cisco, que tem uma das soluções de videoconferências mais utilizadas do mundo, o Webex, os funcionários já tinham a prerrogativa de escolher de onde trabalhar. “Mas uma coisa é trabalhar de home office por escolha; outra, em modelo emergencial sem poder sair de casa”, diz Ricardo Mucci, presidente da Cisco no Brasil. “Logo no início da pandemia, uma diretora me ligou e perguntou: ‘Ricardo, você pode falar?’ Respondi que sim, mas expliquei que estava cozinhando.” Essa passou a ser uma atividade diária na divisão de tarefas em família, já sem nenhuma ajuda externa. Mucci, que gosta de cozinhar, logo se adaptou à nova rotina. “Deixei de marcar reuniões entre 11h30 e 13 horas.” Ainda assim, houve situações em que isso não foi possível e ele se desdobrou para preparar o almoço e participar do compromisso. “No fim, ganhei proficiência para cozinhar a refeição do dia a dia, que exige objetividade maior do que o almoço do fim de semana.” Sua especialidade: picadinho, com receita que aprendeu com o chef do Fred, um dos restaurantes mais famosos de Brasília. Para ele, a nova rotina trouxe outros benefícios: “Emagreci 15 quilos. Eu tinha uma rotina em que viajava para duas ou três cidades do país toda semana. Tinha uma qualidade de vida discutível.” Segundo ele, a pandemia o levou a cuidar mais de si mesmo. Hoje ele tem uma dieta alimentar mais saudável e pratica exercícios funcionais três vezes por semana, com aulas pelo Webex. “O reequilíbrio em tudo, físico, mental e espiritual, me trouxe uma paz e um conforto que me permitem falar, tratar e entender as pessoas de forma muito mais aberta e transparente.”


RESILIENTES E VERSÁTEIS

Tijana Jankovic, CEO da Rappi: “Não existe mais a mesma receita para todo mundo. E isso é muito enriquecedor e libertador.” (Leandro Fonseca/Exame)

Poucos meses antes da pandemia, a executiva Tijana Jankovic estava ansiosa com as mudanças que a chegada da primeira filha traria para sua vida. Teresa nasceu e, meses depois, Jankovic mudou de emprego para liderar a operação da Rappi em São Paulo, em julho de 2020, já com jornada integral em home office. “Logo percebi que aquela rotina que muitos pais adotam, de ficar com os filhos depois do trabalho, não funcionaria porque, como nossa sede fica na Colômbia (o fuso é 2 horas atrás de Brasília), nossa jornada se estenderia um pouco além. Decidi que o momento de ficar com ela seria pela manhã, antes de ela entrar na escola, às 8 horas. Como ela acorda sempre cedo, às 6 horas, tive de me adaptar. São as nossas 2 horas sagradas juntas.” Jankovic conta que, no restante de sua jornada de atividades pessoais, busca otimizar o tempo. “Eu a deixo na escola e já vou estudando o tema no caminho de volta para casa e me preparando para a primeira reunião do dia. Às vezes, se é uma reunião que não demanda minha participação ativa, já cheguei a tomar banho com o áudio ligado no volume máximo.” Há dois meses, em agosto, Jankovic assumiu como CEO da Rappi no Brasil. Momento para encaixar de vez a rotina? “Não vai acontecer. No final de janeiro deverá nascer nossa segunda filha e teremos um bebê em casa para entrar nessa rotina. Não sabemos como vai ser.” Mesmo assim, ela encara com serenidade a mudança que está por vir. “Além do fato de que é a segunda filha, estamos mais preparados e dispostos a encontrar algo que funcione. Eu sei que a rotina vai mudar novamente, e isso não me dá ansiedade.” Jankovic diz que sua experiência personifica o que acredita que será a prática cada vez mais presente nas corporações. “Não existe mais a mesma receita para todo mundo. E isso é muito enriquecedor e libertador, além de nos permitir abraçar os melhores talentos.”


SAÚDE EM CASA 

Rodolfo Hrosz, diretor geral da Sanofi Consumer Health: manter a operação em funcionamento e preservar a saúde dos colaboradores (Leandro Fonseca/Exame)

A chegada da pandemia trouxe para Rodolfo Hrosz, diretor-geral da Sanofi para Consumer Healthcare (CHC), duas preocupações: manter a operação em funcionamento e preservar a saúde dos colaboradores. Mas houve uma terceira no caso da Sanofi e da indústria farmacêutica em geral: prover as soluções para o tratamento das pessoas na pandemia. “Havia um senso de responsabilidade muito grande. Tínhamos de continuar a produzir e a distribuir medicamentos.” Foi uma liderança exercida de seu apartamento, em uma rotina que impactou em um primeiro momento sua saúde. “O nível de estresse aumentou sem atividade física, pois eu deixei de pedalar na USP duas vezes por semana pela manhã. Comprei um rolo para fazer os treinos de bicicleta na sacada de casa.” A chegada do equipamento devolveu sua capacidade de lidar com o estresse e de se reequilibrar. A nova rotina exigiu que o executivo começasse a bloquear a agenda para atividades domésticas, como a limpeza do apartamento, que ele passou a dividir com sua esposa. Compromissos sociais como jantar fora foram substituídos pela dedicação aos estudos. “Passei a ler mais e a me inteirar de temas que me interessam, como astrofísica e tecnologia”, conta. Descobriu um software de edição de vídeo e passou a usar esse meio de conteúdo em suas reuniões, para apresentar pontos importantes à equipe. Ele mesmo produz e edita no celular. Agora em uma jornada híbrida, pois o escritório da Sanofi em São Paulo foi reaberto em maio deste ano, Hrosz compartilha sua experiência para chamar a atenção para um ponto que considera fundamental. “Eu acho que se fala muito pouco da readaptação na volta ao escritório: como as empresas podem ajudar nesse processo para que haja segurança e as pessoas se sintam confortáveis com o momento. Eu voltei em junho e percebo certa sensação de desorientação e de ansiedade em muitos colegas que acabam de retornar.”


O MUNDO DA VARANDA

Nadir Moreno, CEO da UPS: ”Acredito que saímos melhores como seres humanos, mais solidários.” (Leandro Fonseca/Exame)

No começo da pandemia, 90% da frequência de voos comerciais no mundo foi cancelada. Era um momento de extrema urgência para a entrega de máscaras, álcool em gel e equipamentos médicos para a prevenção e o tratamento da população. Para a UPS, um dos gigantes globais de soluções logísticas, representou o desafio adicional de manter a operação de comércio exterior em funcionamento ao mesmo tempo que lidava com o fechamento de fronteiras e buscava preservar a saúde de seus colaboradores, com planos de contingência para cargos-chave, como pilotos de avião e motoristas de frota. “A UPS é também uma empresa cargueira, com aviões próprios. Isso significa que a demanda aumentou muito, ao mesmo tempo que tínhamos de lidar com regras de fronteira diferentes, com alfândegas e governos para entregar máscaras, álcool em gel e equipamentos de nossos clientes”, conta Nadir Moreno, CEO da UPS no Brasil. Foi uma “operação de guerra” que ela comandou no primeiro mês de pandemia da varanda gourmet de seu apartamento, ao lado de Brenda, uma shih tzu com 6 anos de idade. “Da noite para o dia, as pessoas passaram a ficar mais tempo em casa. Tenho certeza de que ela amou a novidade.” Mas não demorou para que Moreno voltasse à linha de frente sempre que julgasse necessário, como na chegada do avião cargueiro da própria empresa com o primeiro lote de vacinas da Pfizer ao Aeroporto de Viracopos, em Campinas, no fim de abril passado. A executiva analisa o que se passou com viés construtivo. “Tem sido uma experiência desafiadora, mas de grande aprendizado. Acredito que saímos melhores como seres humanos, mais solidários.” Ela fala com experiência de causa. Na pandemia, liderou o lançamento de um programa da UPS no país para capacitar mulheres, muitas das quais começaram a empreender na pandemia, para exportar.   


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